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Jovens são principais vítimas de homicídio no Grande ABC

Levantamento mostra que um terço dos 173 mortos até agosto não chegou a completar 30 anos

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
19/11/2017 | 07:32
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EBC


 Rafael Conceição Lau, 24 anos, aguardava ansioso a chegada do dia em que realizaria sonho antigo: se casaria com Thais Borges Ferreira, 21, após nove anos de namoro, no fim do ano. No entanto, cerimônia e festa, planejadas nos mínimos detalhes, foram canceladas seis meses antes da data marcada para ocorrer. No dia 10 de junho, o morador do bairro Serraria, em Diadema, foi alvejado por três disparos de arma de fogo, no tórax, quando estava a caminho de pizzaria, onde jantaria com a família. O crime, motivado por uma briga ocorrida horas antes, foi assistido pela noiva e a filha do casal, de apenas 2 anos.

O morador de Diadema entrou para triste estatística criminal observada no Grande ABC, que mostra que homens jovens (com idade até 29 anos), pardos, moradores de áreas periféricas e que estudaram até o 2º ciclo do Ensino Fundamental foram as principais vítimas de homicídio no período de janeiro a agosto.
As informações integram levantamento inédito feito pelo Diário, com base em dados disponibilizados pelo Portal da Transparência da SSP (Secretaria de Segurança Pública), criado pelo governo estadual no ano passado. A ferramenta oferece o histórico de todos os boletins de ocorrência registrados em delegacias da região.

Ao todo, as sete cidades registraram, juntas, 173 homicídios no período analisado. De acordo com o relatório, homens correspondem a 90% dos casos. Além disso, um terço das vítimas morreu antes de completar 30 anos, e pouco mais da metade (57%) das pessoas assassinadas não chegaram a se casar.
O levantamento mostra ainda que 46% dos homicídios atingiu pessoas pardas e mais da metade das vítimas foram mortas em zonas periféricas das cidades no período noturno ou durante a madrugada, como aconteceu com Rafael. Ele foi executado pelo namorado da sobrinha, uma adolescente de 12 anos, após discussão. O atirador conseguiu fugir da cena do crime.

“Ele estava super ansioso. Iriamos fazer uma festa pequena junto com o aniversário da nossa filha, em dezembro. Acabou que ele morreu ainda jovem, com uma vida toda pela frente”, lamenta Thaís.

CENÁRIO

“Trata-se de perfil nacional. Infelizmente, jovens com menor escolaridade e que residem em áreas vulneráveis acabam sendo as principais vítimas de homicídios. É algo que se arrasta há décadas e o poder público não consegue reverter”, afirma Estela Cristina Bonjardim, docente em Direito Penal e coordenadora dos cursos de pós-graduação lato sensu em Direito da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

Segundo a especialista, que já foi delegada seccional de Polícia de São Bernardo entre 1993 a 2001, os resultados são consequência de problema claro para boa parte da população. “Falta investimento na educação dessas crianças e jovens, que vivem em áreas cada vez mais esquecidas por governantes.”
Para o especialista em Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, embora as estatísticas criminais mostrem redução dos indicadores de homicídio na última década, ainda é necessário olhar diferenciado por parte das autoridades. “Não basta mudar o cenário onde vivem essas pessoas, é preciso colocar policiais na rua e até mesmo inibir essas ações, como Diadema fez ao intensificar a lei do fechamento de bares”, destaca.




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