O descaso com que o dinheiro público é tratado no Brasil não é novidade para ninguém, mas também nunca esteve tão em evidência quanto nos últimos anos, sobretudo desde que a Operação Lava Jato entrou em campo para desnudar dezenas de corruptos e corruptores. Em que pese não se tratar de casos desse tipo, o fato de Diadema ainda hoje, e pelos próximos anos, ter de pagar por dívidas deixadas por autarquias que foram extintas em 2011 e 2013, como mostra reportagem deste Diário, é exemplo acabado da falta de responsabilidade de gestores públicos quando o dinheiro não é o deles.

Criadas nas décadas de 1980 e 1990 para operar os serviços de transporte público e de saneamento básico, a ETCD e a Saned se transformaram, ao longo dos anos, de maiores empresas públicas de Diadema em verdadeiras dores de cabeça, com acúmulo de prejuízos e dívidas de toda ordem. Protelados por seguidas administrações, sobretudo do PT, os débitos se avolumaram, anabolizados por juros e multas. Obviamente que uma hora a conta iria chegar e não haveria mais como fugir.

Antes que o caldo entornasse de vez decidiu-se que era o momento de dar um basta e encerrar as atividades das duas autarquias. A primeira a ter as portas fechadas foi a empresa responsável pelo transporte, em 2011, enquanto a Saned ainda respirou até 2013. Apesar da boa vontade – tardia, diga-se – o estrago já estava feito, pois as contas teriam de ser pagas. E têm sido pagas, mas sabe-se lá a que custo para a população que depende dos serviços públicos, como Saúde e Educação.

Até o fim deste ano, por exemplo, a Prefeitura terá gasto R$ 24 milhões para honrar débitos deixados pela ETCD e outro R$ 1,5 milhão da Saned, recursos que poderiam garantir melhores serviços a quem, a duras penas, paga seus impostos. Pior que isso ainda vai longe, pois faltam seis anos para quitar dívida de R$ 120 milhões deixada pela ETCD, por falta de recolhimento de FGTS e INSS.