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Editoras brasileiras estão otimistas com estilo Gallimard
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
01/06/2002 | 16:20
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Pânico crescente talvez seja a expressão certa para qualificar o sentimento de todos os profissionais e empresas ligados ao universo do livro, sobretudo os editores, às voltas com uma sociedade cada vez mais audiovisual nas últimas décadas. Televisão, computador, home theater – tudo isso faz do ser humano comum deste início de milênio, de 2 a 80 anos, uma pessoa passiva, bombardeada 24 horas por dias com mensagens audiovisuais.

Uma das mais tradicionais e qualificadas editoras francesas, a Gallimard, decidiu lançar uma coleção de livros de bolso revolucionários em 1986. A proposta era tentar atrair o público jovem com livros fartamente ilustrados, textos curtos, tamanhos de letras e fontes de tipos diferentes, quase como um gibi (luxuoso e de extremo bom gosto, claro). O toque final foi adotar enfoques diferentes para os livrinhos da coleção Descobertas.

Assim, afora as biografias de gente famosa – a moda parece que não vai acabar nunca –, o critério foi jornalístico, no sentido de trazer para o primeiro plano a história mais atraente. Era preciso capturar, literalmente, os leitores. Um exemplo: em vez de fazer uma história do comércio entre a Ásia e o Ocidente nos primeiros anos da Era Cristã, optou-se por um livro muito saboroso, intitulado Marco Polo e a Rota de Seda. O historiador Jean-Pierre Drège, especialista em civilização chinesa, conta com muita verve, certamente com a colaboração de um competentíssimo editor de texto e designers gráficos inventivos, a história do aventureiro Marco Polo e faz dela o pretexto para esmiuçar em 200 páginas o comércio entre os dois continentes, que teve na seda seu produto-chave.

Edição brasileira – Não é preciso dizer que a Gallimard marcou um golaço. A coleção Découvertes já conta com mais de 400 títulos e já foi traduzida e lançada em mais de 16 países, ultrapassando a marca global de 15 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Além de Derrida, Foucault, Lyotard e Bourdieu, a coleção Descobertas é o único produto literário autenticamente francês que o país conseguiu vender com sucesso nos Estados Unidos e nos países de língua inglesa.

Há dois anos, a Editora Objetiva experimentou o mercado brasileiro, lançando os primeiros quatro títulos, em ambiciosas tiragens de 3 mil exemplares: Picasso, o Sábio e o Louco, de Marie-Laure Bernadac; O Cinema, Invenção do Século, de Emmanuelle Toulet; Jesus, o Deus Surpreendente, de Gerard Bessière; e O Céu, Magia e Mito, de Jean-Pierre Verdet.

Segundo informações da editora, a receptividade do público brasileiro foi excelente. Esses quatro títulos já estão esgotados e a Objetiva está fazendo a segunda edição.

Mas o entusiasmo da editora sofreu certo contratempo quando a relação real-dólar se alterou. Isso encareceu bastante a segunda safra, que agora chega às livrarias. Aqueles quatro primeiros títulos foram vendidos a R$ 25 cada, preço meio salgado, mas justo pela riqueza visual e cuidado de produção dos livros, impressos na Itália. Agora, entretanto, o preço de cada volume saltou, em função do câmbio, para acima dos R$ 30, o que é uma pena, pois restringe o universo do público que certamente teria uma revelação em contato com tamanha sofisticação editorial e adequação ao universo visual gibizeiro dos teens atuais.

Em todo caso, é positivo que já se tenha em português ao menos dez títulos diferentes de uma série que é vastíssima do ponto de vista da diversidade de temas. Nela cabem arquitetura, música, esportes, história, cinema, arqueologia, invenções, religião, ciência, artes plásticas, estilo de vida, tradições populares, entre muitos outros. Tecnicamente, os livros são em papel cuchê e formato 12,5cm x 17,5cm, idênticos aos da edição original francesa.




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