Um dos mais tradicionais quadros do PT e um dos raros a ficar longe de denúncias de corrupção envolvendo políticos do petismo, o ex-senador Eduardo Suplicy, hoje vereador da Capital, acredita no retorno da força da legenda, porém aponta condicionantes. “O PT tem toda condição de sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas precisa de postura de extrema seriedade, procurar sempre agir com a maior transparência possível. Precisa tomar medidas para prevenir que não haja mais esses erros.” Em visita à sede do Diário, Suplicy diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue como mais forte nome da sigla para concorrer às eleições presidenciais do próximo ano – desde que absolvido em ações na Justiça – e projeta estar nas urnas em 2018, seja como candidato a deputado federal ou senador. “Está tudo em aberto. Tenho um objetivo, ainda em vida, que é fazer com que o Brasil institua o Renda Básica de Cidadania.”

Como o sr. analisou essa onda negativa para o petismo no Grande ABC, onde o PT surgiu, fez o primeiro prefeito e, neste ano, não há gestores da legenda?
Assim como em 2014 eu sofri esse tsunami sobre o PT no Estado, aqui no Grande ABC, onde tínhamos diversas prefeituras também. Inclusive na Capital (houve esse fenômeno). Eu me empenhei ao máximo para ajudar o Fernando Haddad (então prefeito de São Paulo, do PT), que considero que foi excelente prefeito. Queria muito ajudar a levá-lo ao segundo turno e, infelizmente, não deu certo. Se chegasse ao segundo turno seria páreo duro para o João Doria (do PSDB, prefeito eleito da Capital). No Grande ABC, o PT tem valores muito fortes e pessoas de muito coração. Havia prefeitos e, mesmo em cidades onde não tínhamos prefeito, possuíamos vereadores com expressiva votação. Só em São Caetano não conseguimos ainda (eleger um prefeito), embora tenhamos valores importantes lá também. O PT tem toda condição de sacudir a poeira e dar a volta por cima.

De que maneira?
Uma postura de extrema seriedade, de procurar sempre agir com a maior transparência possível. Precisa tomar medidas para prevenir que não haja mais esses erros. Era começo dos anos 2000. Eu até havia, em 17 de março de 2002, participado pela primeira vez da história de partidos políticos do Brasil de uma prévia, fui pré-candidato à Presidência, contra o presidente Lula. O presidente Lula teve 84,4% dos votos e tive 15,6% (da militância petista). De pronto declarei que faria todo empenho, todo esforço para eleição dele, como o fiz até fechar as urnas. Algumas pessoas no PT acharam ruim comigo quando propus enfrentar o Lula. Eu acho que aquela prévia fortaleceu o Lula, foi um dos fatores que deixaram ele mais forte para ganhar a Presidência, em sua quarta tentativa. Depois da prévia, houve reunião no diretório nacional e o responsável pelas finanças era Delúbio Soares. O Chico Alencar, deputado federal então no PT e hoje no Psol (pelo Rio de Janeiro), propôs tornar transparente, em tempo real, doações de pessoas jurídicas e físicas aos candidatos. O Delúbio mencionou que havia muitos empresários que ficariam inibidos. Ele achou que não convinha. Aquela sugestão não foi adotada. Eu fiquei com aquilo na cabeça. No Senado, passei a defender que todo partido e candidato colocassem de maneira transparente suas contribuições. Nas eleições de 2006, de 2014 e de 2016, na minha página eletrônica, todas as contribuições foram colocadas. Em 2014 fui relator do projeto de lei do senador Jorge Viana para proibir doações de pessoas jurídicas. Inclui patamar de contribuição máximo a pessoas físicas. Também propus emenda de colocação em tempo real de todas as contribuições. Infelizmente os senadores não quiseram. Na época não passou o projeto. Mas, felizmente, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou inconstitucional a doação de pessoas jurídicas, o que achei muito positivo. Pudemos experimentar para doação para vereador agora. Foi uma boa coisa. Tive 301.446 votos e com contribuição de R$ 207 mil. Correspondendo a R$ 0,68 por voto.

O sr. tem recall de imagem que não serve muito de parâmetro, não é?
Mesmo assim. O segundo colocado na eleição (a vereador da Capital) foi o Milton Leite (DEM). Do que ele declarou de gastos e votos, cada voto meu custou 20 vezes menos do que ele gastou.

O sr. acha que o Lula deveria ser candidato a presidente em 2018?
Depende muito obviamente do resultado do que a Justiça vai definir. Eu espero sinceramente que o Lula possa comprovar que não cometeu qualquer ilícito, em especial ilícito de enriquecimento ilícito. Eu já ouvi ele falar nas reuniões do PT, repetiu algumas vezes, que nunca qualquer empresário teria feito qualquer contribuição pessoal a ele e que se alguém achar algum dia R$ 10 em conta dele decorrentes de doação inadequada de um empresário, ele próprio tomaria a iniciativa de ir para a delegacia. Portanto, espero que ele consiga comprovar isso. Se ele for absolvido, ele se constitui em liderança muito forte. E dentro do PT é a mais forte liderança para ser o candidato a presidente.

Alguns defendem a tese de que se Lula for candidato o Brasil se limitará a debater o passado e não falará sobre o futuro. O sr. concorda com essa tese?
Se o Lula for novamente o candidato, acredito que ele colocará um conjunto de novas iniciativas para aperfeiçoar aquilo que foi realizado nos seus oito anos de mandato e nos mandatos de Dilma Rousseff (PT). Eu tenho notícia de que, por exemplo, em encontro de economistas que interagem com ele, sugeriram a ele que, enquanto em seu mandato ele unificou o bolsa escola, bolsa alimentação, auxílio gás e cartão alimentação no programa Bolsa Família, que evoluiu de 3,5 milhões de famílias em dezembro de 2003 para 16 milhões em dezembro de 2014 – caiu agora no governo Michel Temer para 13,5 milhões de famílias –, agora está na hora de dar novo passo. E qual é o novo passo? O Renda Básica de Cidadania. Há exemplos de bom funcionamento deste programa. O Renda Básica, se abraçado pelo presidente Lula, será fato muito importante.

É possível o PT vencer a eleição para o Estado de São Paulo? Se comenta que os nomes de Luiz Marinho e Fernando Haddad são os mais fortes no petismo para concorrer em 2018. Esses são os melhores nomes ou há mais alguém que pode se viabilizar?
São dois bons nomes. Felizmente há outros nomes.

Quais seriam esses outros nomes? O sr. tem essa pretensão eleitoral?
O Luiz Marinho, na convenção do PT (quando foi eleito para presidir a legenda em âmbito estadual), ele falou por dez minutos e conclamou ali todos os filiados do PT para que eu pudesse ser candidato a deputado federal no ano que vem. Ele veio me visitar e falei que estava tudo em aberto. O importante agora é fazer benfeito meu mandato de vereador e fazer jus aos 301.446 votos que me levaram à Câmara. Faço meu trabalho com todo empenho. É interessante porque São Paulo não para. São acontecimentos da Cracolândia, ocupações, reintegrações de posse, professores, artistas preocupados com o congelamento das verbas da Cultura. São muitos problemas a resolver. Com o Renda Básica estaria meio caminho andado para buscar a solução desses problemas. Se olhar no meu perfil no Facebook, há diversos comentários para que eu seja candidato ao Senado, a governador, à Presidência da República. Nesses dias fui almoçar com professores e eles disseram que eu deveria ser candidato a presidente. Está tudo em aberto.

Mas pensando pragmaticamente, qual seria o melhor destino político ao sr.?
Pragmaticamente posso dizer o seguinte: tenho um objetivo, ainda em vida, que é fazer com que o Brasil institua o Renda Básica de Cidadania.