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Moradores de rua sofrem com o frio no Grande ABC
Bruna Gonçalves e Renato Castroneves
03/06/2010 | 08:22
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A três semanas da chegada do inverno, quem já sofre a baixa temperatura são os moradores de rua que recorrem a praças, pontes e viadutos espalhados como abrigo. As prefeituras da região, questionadas sobre os atendimentos disponíveis para essa parcela da população, não apontaram a existência de transporte para abrigos durante a madrugada.

Banho e cama - Em uma praça entre as avenidas Lauro Gomes e Lauro Muller, na Vila Palmares, em Santo André, cinco moradores de rua dormem debaixo da copa de uma árvore.

Há dois meses no local, o grupo disse que nunca foi procurado por funcionários da Prefeitura. Perguntado sobre passar a noite em um abrigo, Rosival Gomes Silva, 48, disse que "seria bom poder dormir em uma cama quente depois de um bom banho".

Para eles, o frio é o "pior inimigo" da madrugada."Com esse tempo é quase impossível dormir. Me enrolo na manta e bebo pinga para desmaiar. Só assim consigo pegar no sono", disse o carroceiro Cícero Bernardo dos Santos, 51.

Vivendo nas ruas há 15 anos, Delcy da Silva, 50, contou que o grupo faz uma fogueira ao lado das "camas" para aliviar o sofrimento. Para ele, os primeiros raios de sol ao amanhecer trazem um pouco de conforto. "A melhor hora para descansar quando está frio é de manhã. Deito no sol e durmo melhor."

Carroceiros - As ruas do bairro Casa Branca, em Santo André, servem de abrigo durante as noites para dezenas de carroceiros.

Morando na rua há cinco anos, Valter Cardoso, 37, trabalha durante o dia, junto com a mulher, pegando papelão nas ruas. "Ganho entre R$ 10 e R$ 15 por dia", disse. Depois que o sol se põe, Cardoso prepara a carroça para dormir. "Coloco uma lona em cima da carroça, papelão por baixo e durmo com minha mulher encolhido. Quando fica frio mesmo é duro", contou.

Programa - A Prefeitura de Santo André possui o Programa de Atenção às Pessoas Adultas em Situação de Rua e afirma que intensificará o trabalho durante os meses de frio.

Segundo a administração, desde o fim do mês passado, 15 educadores sociais se revezam 24 horas em plantões diários percorrendo ruas, praças e viadutos com o objetivo de encaminhá-los para a Rede de Serviços e monitorar os locais onde se concentram e o número de pessoas. Além disso, o programa conta com serviço do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) Casa Amarela, espaço de convivência e de prestação de serviços para quem procura o local por livre e espontânea vontade.

São oferecidos café da manhã e jantar na Cozinha Comunitária Praça do Alimento, junto ao Creas. Além disso, a cidade possui Moradia Masculina Provisória do Parque Miami, Moradia Casa de Estar Mais Vida e albergue noturno, que funciona diariamente das 18h às 7h, e oferece acolhimento provisório para 80 pessoas.

São Bernardo tem cadastro de 300 moradores de rua
Levantamento feito pela Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania) de São Bernardo mostrou que cerca de 300 pessoas circulam pelas ruas. A administração mantém o Programa de Atenção à População Adulta em Situação de Rua, com cinco serviços, entre eles albergue da Associação Projeto Samaritano (Rua dos Vianas, 194, Centro), que atende 100 pessoas por dia, a partir das 17h. Além do centro de convivência, atendimento psicossocial e serviço de atendimento nas ruas, em que equipe convida para a unidade de albergue ou centro de convivência.

Em Diadema, há o albergue Transitória Casa do Caminho (Rua Adamo Zara, 230, Jardim Rosinha), cujo atendimento inicia às 18h30 e uma das 40 vagas podem ser ocupadas até 22h. A Prefeitura afirma realizar abordagem na rua com equipe especializada que direciona para os serviços.

São Caetano afirma possuir a Comissão População em Situação de Rua, que a cada 15 dias sai à noite para, caso encontre algum morador de rua, tomar medidas para encontrar a família e para retornar a sua residência. Caso não encontre, é encaminhado para duas entidades privadas. Ribeirão Pires, possui a Casa Acolhida, em Ouro Fino Paulista, onde há atividades culturais e acompanhamento médico.

Inverno deve ser mais rigoroso do que o passado
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) o inverno deverá ser mais rigoroso do que o passado. "Será mais frequente a chegada de frente fria no Estado de São Paulo nos próximos meses. Sem o fenômeno El Niño ficará mais difícil bloquear ou desviar a frente fria da região", explicou o meteorologista Franco Villela.

As temperaturas vão ser mais baixas em relação ao ano passado. "Em maio do ano passado a temperatura mínima registrada foi de 15,5ºC. Neste ano foi de 14,8ºC. Isso é a prova de que vamos sentir diferença comparada a 2009", ressaltou o meteorologista.

Moradores de rua se apropriam de bens públicos na região
Para fugir do frio, alguns moradores de rua acabam se apropriando de bens públicos e os fazendo de residência.

Em Mauá, as escadas rolantes que estão fechadas na passarela que interliga as avenidas Barão de Mauá e Capitão João, no Centro, se tornaram moradia. Para entrar na área interditada, as pessoas retiraram algumas placas e o local ficou tomado por roupas largadas, restos de comida, sujeira e cheiro forte de urina.

A reportagem esteve ontem pela manhã no local e constatou a presença de algumas pessoas dentro da entrada próxima às escadas. À tarde, o Diário voltou e encontrou funcionários da Prefeitura de Mauá fechando as entradas. "Estamos tampando com placas de ferro para evitar que as pessoas entrem novamente", explicou um funcionário que não quis se identificar. Porém, das duas, apenas uma foi bloqueada.

Insegurança - Quem passa pelo local não consegue transitar com segurança. "Passava com mais frequência, mas andei evitando, porque a noite o movimento de moradores de rua era intenso", revelou a aposentada de 60, que não quis se identificar.

A gari de 52 anos trabalha diariamente na passarela e conta que já presenciou muita coisa. "Como tem esses moradores de rua, já tirei próxima a escada rolante um carrinho de sujeira. Além disso, vi pessoas saindo da entrada da escada rolante", contou a moradora de Mauá, que aponta a falta de policiamento como causa do problema. Procurada, a Prefeitura não respondeu até o fechamento desta edição.

Santo André - Outro local que tem servido de abrigo para moradores de rua é a passarela de pedestres sobre a Avenida Perimetral (Edson Danilo Dotto), no bairro Ipiranguinha, em Santo André, conforme reportagem publicada no sábado.

O Diário esteve por lá e constatou cheiro forte de urina e a presença de um colchão de casal e alguns papelões, que podem ser usados para dormir. A reportagem voltou ontem ao local e constatou que haviam sido retirados os colchões, mas o cheiro forte permanecia. Segundo a Prefeitura, em relação aos moradores de rua, a Inclusão Social dá orientação sobre os serviços oferecidos a eles, como alimentação, banho, acompanhamento psicológico e social, lavagem de roupas e atividades socioeducativas.




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