Os investidores que aplicaram o dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) na capitalização da Petrobras, em 2000 podem comemorar. A Câmara dos Deputados aprovou semana passada o uso do fundo novamente, só que desta vez para os trabalhadores que já são acionistas da estatal.

Em 2000, quando foram lançados os fundos de investimentos em ações da Petrobras com recursos do FGTS, 312.194 pessoas usaram suas cotas para comprar papéis da empresa. Hoje, estima-se que 248 mil investidores ainda mantenham a aplicação.

Quem investiu, por exemplo, R$ 1.000 em 2000 teve rendimento de 797,91% até 23 de fevereiro, ou seja, tem agora R$ 8.971,91. Se ficasse no FGTS, seria R$ 1.300.

É cada vez maior o número de investidores na Bolsa de Valores que antes só optavam pela poupança. As pessoas físicas somaram, em fevereiro, 32,05% das aplicações em ações, incluindo investidores individuais (30,26%) e clubes de investimento (1,79%). Segundo a Bovespa, as pessoas físicas foram responsáveis por 15,92% das compras e 16,13% das vendas no período entre 4 e 29 de janeiro.

A nova compra de ações da Petrobras ainda precisa passar pelo Senado e ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas algumas regras já foram divulgadas. O investidor poderá usar até 30% do saldo que tem atualmente no FGTS para exercer o direito de subscrição de novos papéis da estatal.

A alteração no projeto de capitalização da Petrobras foi aprovada depois de acordo na Câmara entre a oposição e o governo, que era contra a medida, mas buscou a negociação ao reconhecer que seria derrotado se insistisse no veto ao uso do FGTS.

Segundo o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), autor da emenda que deu origem ao texto aprovado, o uso do FGTS beneficiará os "trabalhadores que acreditaram na Petrobras e contribuíram para o crescimento da empresa".

Para o consultor financeiro Josemar Guimarães, vale a pena aplicar novamente. "Enquanto que a Petrobras rendeu 797,91% em quase dez anos, o FGTS subiu apenas 62,16", analisa. Quem já vendeu as ações, não é considerado cotista e portanto, não pode participar da nova oferta.

O período de aplicação deverá ser de no mínimo 12 meses, quando o acionista poderá optar pelo retorno do valor investido à conta do FGTS. O resgate será isento de Imposto de Renda, mas o saque do recurso aplicado segue as regras do fundo.

"A não ser que ocorra algo muito fora do previsto, os ganhos sempre serão maiores para o trabalhador do que deixar o FGTS parado", aconselha o consultor de finanças pessoais Wanderley Silveira.

Senado ainda pode barrar a proposta para os trabalhadores

O acordo para que o trabalhador que já aplicou recursos do FGTS em ações da Petrobras possa investir novamente pode naufragar. O ministro de relações institucionais, Alexandre Padilha, declarou que, se aprovada, a medida será barrada no Senado.

Após a aprovação da emenda ao Projeto de Lei 5941/09, do Executivo, o deputado José Genoino reconheceu que não há como garantir que o governo aceite esse dispositivo. "Nós estamos fazendo um acordo no âmbito da Câmara; isso não significa que o governo vá vetar ou não. A oposição quer o nosso compromisso de que o governo não vetará, mas nós não podemos assumir esse compromisso", disse.

Mais otimista, o deputado Arnaldo Jardim afirmou que o acordo vai permitir que 248 mil cotistas comprem ações, o que vai evitar a diluição da participação acionária desses trabalhadores que, em 2000 acreditaram no potencial da Petrobras.

Caixa avalia que impacto no fundo será insignificante

Apesar de a proposta de cotistas da Petrobras aplicarem novamente na estatal poder ser barrada no Senado, o vice-presidente de Fundos de Governos e Loterias da Caixa Econômica Federal, Moreira Franco, calculou que o impacto do uso do FGTS na capitalização da empresa é insignificante para o fundo, podendo chegar, no máximo, a R$ 1,034 bilhão.

A estimativa foi feita sobre o valor do FGTS dos cotistas que ainda têm ações da estatal. A proposta aprovada na Câmara dos Deputados determina que cada investidor poderá comprar novas ações até o limite de 30% do que tem depositado no FGTS. "É um impacto insignificante no patrimônio do FGTS", disse Franco. No fim do ano passado, o patrimônio líquido do fundo somava R$ 30,8 bilhões.

O vice-presidente da Caixa destacou que, mesmo com os impactos negativos provocados sobre o emprego no início do ano passado, o FGTS fechou o ano passado com recorde de arrecadação líquida. "Neste ano, temos mantido o mesmo ritmo de recuperação do fim de 2009."

Investidores do Grande ABC querem aplicar novamente

O bancário Claudio Luis Sá Mendonça, morador de Mauá, é um dos trabalhadores que aplicou R$ 10.000 de seu FGTS na Petrobras em 2000. "Cerca de três anos depois, fiquei super apertado financeiramente e pensei em sacar o dinheiro, já que fui demitido e o valor estaria disponível. Desisti depois de ver os rendimentos. Ajustei minhas dívidas e agora espero ansiosamente por nova oportunidade de investir no fundo de ações da Petrobras com o dinheiro do FGTS", conta.

A empolgação de Mendonça foi tanta que, em 2002, ele também fez o mesmo procedimento com a Vale do Rio Doce. "Com o dinheiro aplicado nas duas empresas, já consigo comprar um apartamento."

A dentista Ana Lúcia Alvarez, de São Caetano, também investiu na Petrobras em 2000, mas resgatou o dinheiro para comprar um imóvel em 2005. "Pensei muito em deixar o valor rendendo, mas era tão significativo e iria ajudar muito na compra da minha casa. Não me arrependi, mas se pudesse aplicar agora novamente, faria com certeza", revela.