Economia Titulo Após delação
Efeitos na economia ainda são incertos

Cenário é multifacetado, mas se reforma da Previdência for barrada, recuperação será mais lenta

Flavia Kurotori
Especial para o Diário
23/05/2017 | 07:12
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A economia brasileira está abalada desde quarta-feira, quando Joesley Batista, um dos proprietários do frigorífico JBS, delatou durante a Operação Lava Jato o presidente Michel Temer (PMDB) por pagamento de propina ao ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Como o governo desistiu de pedir a suspensão do inquérito contra Temer no STF (Supremo Tribunal Federal), o mercado permanece em compasso de espera pela perícia oficial do áudio e o veredicto do Supremo.

Para o professor de Finanças da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas de São Paulo) Fábio Gallo, se o STF suspendesse o inquérito a União ficaria aliviada, porém, o mercado seguiria apreensivo. Com a manutenção da investigação e suposta apuração de ‘culpa no cartório’, “Temer ficará sem sustentação. Ele corre o risco de ser cassado, sofrer impeachment ou renunciar”, aponta Gallo. “No entanto, uma solução rápida, independentemente de qual seja, é a melhor saída para a retomada da economia”, afirma.

O especialista chama atenção para o andamento da reforma da Previdência que, conforme admitiu ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a crise política poderá atrasar em semanas a votação no Congresso. “Ele (o governo) perdeu aliados e, por isso, pode não ser possível aprovar a reforma na Previdência, essencial para a recuperação econômica”, explica.

“A reforma da Previdência é responsável pelo equilíbrio fiscal, que é indispensável para a retomada”, concorda o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “A grande pergunta é: ‘vai ser possível aprová-la?’”. Para Agostini, a solução mais plausível é que qualquer decisão acerca da reforma seja suprapartidária. “Se não for assim, só vai prejudicar”.

SEM IMPACTO - O boletim Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo pelo Banco Central, surpreendeu ao continuar projetando queda da inflação – de 3,93% para 3,92% em 2017 – e do dólar – de R$ 3,25 para R$ 3,23 ao fim do ano, mesmo com a atual turbulência. A previsão para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano foi mantida em 0,5%, assim como a taxa Selic, em 8,5% ao ano. Conforme explica Agostini, porém, os dados são abastecidos no decorrer da semana, podendo ter ocorrido ou não alteração após o descortinamento da crise política. Por este motivo, não é possível precisar se estes dados realmente refletem a projeção da economia diante da delação da JBS, o que vai ficar mais claro nos próximos sete dias.

CÂMBIO - Na sexta-feira, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) fechou com leve alta, de 1,69%, ante a queda de 8,80% do dia anterior, em que o circuit breaker chegou a ser acionado após nove anos. Quanto ao dólar, também encerrou a semana com queda (-3,89%), custando R$ 3,25, enquanto que na quinta-feira foi a R$ 3,38 – alta de 8,14%.

No entanto, apesar das interferências feitas ontem pelo Banco Central, o dólar encerrou o dia em alta (0,60%), fechando em R$ 3,27, enquanto que a Bovespa fechou em baixa (-1,54%), aos 61.673,49 pontos.

Para quem tem viagem marcada, a dica agora é comprar a moeda estrangeira o quanto antes. “Apesar de estar em alta, as taxas ainda estão razoáveis”, avalia o especialista em finanças pessoais e professor da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Silvio Paixão. “O dólar sofre grande oscilação, então não tem como saber quanto ele custará em alguns dias”.

Ontem, o dólar turismo fechou em R$ 3,42 (alta de 0,59%). O euro, por sua vez, ficou cotado em R$ 3,85 (incremento de 0,97%) na mesma modalidade.

Paixão afirma que usar o cartão de crédito pode ser um ‘tiro no pé’, uma vez que “não sabemos quanto vai estar (a cotação do dólar) quando a fatura fechar. E, além disso, também é cobrado o IOF (Imposto Sobre Operações Financeira), de 6,38%”. “É recomendável que a pessoa leve até um pouco mais de dinheiro do que o planejado, para, no caso de emergências, não precisar recorrer ao cartão de crédito”, orienta o especialista. 




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