Política Titulo Pendurou as chuteiras
Gilson Menezes se muda de Diadema

Duas vezes prefeito da cidade para onde se mudou
em 1960, ex-sindicalista se aposenta da política

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
21/05/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Primeiro prefeito da história do PT, Gilson Menezes (PDT) decidiu ‘pendurar as chuteiras’ na política após derrota nas urnas no ano passado. Hoje com 67 anos, o ex-operário que marcou história na cidade com greves de fome e levou para o Paço o perfil de sindicalista decidiu se mudar com a mulher para a cidade de Santa Cruz da Conceição, no Interior, a cerca de 215 quilômetros de Diadema. “Não tenho mais o que fazer aqui, já dei minha contribuição”, resume Gilson.

O ex-prefeito reconhece o pífio desempenho que teve na eleição de 2016, quando foi candidato a vereador. Vinte anos após sua última vitória como candidato de fato – foi eleito pelo PSB para o segundo mandato como prefeito, em 1996 –, o hoje pedetista recebeu parcos 360 votos, número bem abaixo do recall eleitoral que ainda imaginava preservar. Ele atribui a derrota, contudo, a fraude nas urnas eletrônicas (leia mais abaixo). “Eu saía na rua e todo mundo dizia que eu ia ser o mais votado. Todo mundo, aonde eu fosse. A população me recebia na maior alegria”, conta o ex-prefeito.

Natural de Miguel Calmon, no sertão da Bahia, Gilson chegou em Diadema em 1960, quando tinha 11 anos. Antes de morar na cidade onde viria governar por duas ocasiões, viveu no bairro Pauliceia, em São Bernardo.

A carreira de metalúrgico começou na empresa Petri, mas seu auge foi no chão de fábrica da Scania, onde liderou greves no fim da década de 1970. “Para mim, as greves não eram só briga por melhoria salarial. Tinha a questão da ditadura (1964-1985), a falta de democracia no País. Eu tinha uma consciência política de que isso era necessário. Não tínhamos nem direito a greve nem poderíamos falar essa palavra. Eu usava o termo paralisação para convencer os trabalhadores (a cruzarem os braços)”, relembra.

Além de dois mandatos como prefeito (1983 a 1988 e 1997 a 2000), dois como deputado estadual (foi eleito em 1991 e reeleito em 1994, mas deixou a Assembleia Legislativa dois anos depois para assumir o Paço) e um como vice-prefeito (2009-2012), Gilson também carrega passagens por diversos partidos políticos, como PSB, PMDB, PSC e pelo extinto PL (atual PR). Um dos fundadores do PT, deixou a sigla um ano antes de terminar sua primeira passagem pelo Paço, por conta de divergências com seu então secretário de Saúde, José Augusto da Silva Ramos (ex-PT, hoje PSDB). Zé Augusto bateu pé para ser candidato do petismo à sucessão – foi vitorioso – , enquanto Gilson defendia o nome de Cláudio Rosa. “Meu primeiro mandato foi bem avaliado. Qualquer poste ganharia eleição pelo PT. E o Zé Augusto se aproveitou disso.”

Os anos se passaram e o destino de Gilson voltou a se cruzar com o do PT em 2008, quando abriu mão de ser candidato para integrar como vice a chapa petista, encabeçada por Mário Reali – a dobrada se repetiu em 2012, mas foi derrotada.

Apesar de estarem no mesmo palanque, o do prefeito Lauro Michels (PV), no pleito do ano passado, Gilson e Zé Augusto jamais se reaproximaram. “Acho que o Zé Augusto errou muito. Inclusive como secretário de Saúde (de Lauro) ele queimou o governo Lauro. Aí o pessoal fala: ‘Mas ele foi seu secretário de Saúde também’. Sim, mas eu era o prefeito. Já o Lauro achou que tinha um dívida com ele porque teve seu apoio no segundo turno (do pleito de 2012). Essa dívida quase custou sua reeleição”.

Sobre o apoio dado ao verde no ano passado após críticas ferrenhas ao então vereador na disputa de quatro anos atrás, Gilson justifica: “Se tivéssemos um candidato melhor, não teria apoiado o Lauro. Apoiei ele para evitar o mal maior, que era o Vaguinho (do Conselho, PRB). Foi falta de opção. Não apoiei o (vereador Manoel Eduardo Marinho) Maninho porque o PT estava sujo. Não tinha coragem de pedir votos para o PT”, explica.

Ex-prefeito volta a atacar urna eletrônica: ‘Não posso ganhar mais eleição nenhuma’, diz

Entre as várias greves de fome que Gilson Menezes fez, o motivo de uma delas foi denunciar supostas fraudes nas urnas eletrônicas durante as eleições de 2000, quando perdeu a reeleição e sequer foi para o segundo turno – foi vencido por José de Filippi Júnior (PT). Na ocasião, ficou três dias deitado em uma cama no saguão do Paço para chamar atenção a coincidências no número de votos nulos e brancos.

Quase duas décadas depois, mais uma vez, após nova derrota, ele questiona o voto eletrônico. “Não confio nas urnas eletrônicas. Não é de hoje. Acha que as urnas têm segurança? Querem me enganar? Não entendo nada de informática, mas sou inteligente suficientemente para saber que é fácil fraudá-las. Não vou ficar falando isso, mas, no meu íntimo, as urnas eletrônicas já prejudicaram a mim e muita gente. O Gilson Menezes não pode ganhar eleição mais, já está determinado.”

Ainda com seus bens bloqueados, pedetista afirma que vai começar a ‘criar galinhas’

Em dezembro de 2000, prestes a terminar seu segundo mandato, Gilson disse ao Diário que iria criar galinhas. Derrotado e com os bens bloqueados, o então prefeito projetava sua renda para o futuro. “Vou criar galinhas. Já comprei 1.000, mas ainda são pintinhos, e vou comprar mais 1.000. Com 2.000 galinhas pretendo garantir renda mensal de R$ 1.500”, disse Gilson, à época.

Hoje, mais de uma década e meia depois, o ex-prefeito segue com os bens bloqueados, resultado de ações movidas pelo Ministério Público por supostas irregularidades cometidas durante sua segunda passagem pelo Paço, como recebimento de doação de livros de empresários e uma contratação, sem licitação, de escritório de advocacia por parte da extinta Saned. “Agora sim vou criar galinhas”, brinca o ex-prefeito, que hoje vive da aposentadoria de anistiado político, de R$ 9.212,24.




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