Acertou o presidente Michel Temer (PMDB) em suas considerações acerca da greve que paralisou boa parte das atividades no País nesta sexta-feira. Ao reconhecer o caráter democrático das manifestações e evitar endossar o discurso de seus correligionários, de que o movimento foi um fracasso, o peemedebista contribuiu para serenar os ânimos e desintoxicar o debate, indo ao encontro da opinião que este Diário expressou ontem aqui mesmo neste espaço.

O segundo passo a ser dado é ouvir o recado das ruas. Se é inegável que as reformas propostas pelo governo federal são imprescindíveis para recolocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento econômico e social, da mesma forma é preciso reconhecer que a sociedade ainda tem sérias dúvidas sobre os eventuais benefícios advindos das mudanças. Temer precisa compreender que vai precisar gastar mais saliva se quiser minimizar as reações das ruas.

Foi exatamente o que o presidente fez ontem, ao ressaltar que “de forma ordeira e obstinada”, o “trabalhador brasileiro” resolveu cruzar os braços como forma de “luta” para “superar a maior recessão econômica que o País já enfrentou em sua história”. Temer afirmou que os interesses do Palácio do Planalto convergem com os da população. “A esse esforço se somam todas as ações do governo, que acredita na força da unidade de nosso País para vencer a crise que herdamos e trazer o Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento social e do crescimento econômico.”

Uma das razões que levaram a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a perder a confiança da população, fortalecendo o processo de impeachment que a retirou do poder, foi exatamente a de não ter compreendido em tempo o que as ruas diziam. Com a empáfia que lhe é característica, a petista resolveu ignorar as manifestações e seguir na aventura que conduziu o Brasil para a pior crise dos últimos tempos. O presidente precisa encontrar uma maneira de convencer a sociedade de que as reformas que pleiteia são a favor do País. Se não conseguir, o povo só aumentará a resistência.