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Hamas: um governo quase clandestino por medo de ataques israelenses
Da AFP
04/07/2006 | 16:51
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Escondidos na casa de amigos, privados do uso de telefones celulares e obrigados a deixar de freqüentar o local de trabalho: a vida do premier Ismail Haniyeh e a de outros líderes do Hamas mais parece a de um grupo clandestino do que a de um governo eleito.

"Estamos adotando cada vez mais medidas de proteção, devido às ameaças israelenses. Nossas vidas estão em perigo, mas é o que acontece com todos os palestinos desde o começo da ocupação", comentou o ministro da Informação, Yussef Rizqa.

Segundo o ministro, os membros do governo tentam continuar trabalhando normalmente e "honrar seu compromisso com o povo palestino", apesar do assédio israelense que sofrem os territórios palestinos desde que um soldado de Israel foi seqüestrado, em 25 de junho.

"Muitos ministros não podem trabalhar em seus gabinetes porque têm medo de serem alvos de um ataque com mísseis. Haniyeh pediu a todos que multiplicassem as medidas de proteção", indicou outra autoridade do governo, segundo a qual, devido à falta de segurança na Faixa de Gaza, os ministros e deputados dormem a cada noite em um local diferente e mudam constantemente de carro e hábitos.

Com os tanques israelenses posicionados a pouca distância, aguardando apenas uma ordem para entrar em Gaza e tentar libertar o cabo Gilad Shalit, o governo palestino decidiu cancelar a reunião semanal de terça-feira. Mas o Executivo teve um encontro surpresa, para evitar ataques israelenses.

Nesse ambiente de tensão, a detenção, na semana passada, de 64 ministros, deputados e prefeitos do Hamas na Cisjordânia, realizada por Israel, eliminou um terço do governo do Hamas e reduziu a já escassa margem de manobra do Executivo.

Os membros do governo evitam usar o celular, por medo de serem localizados, comunicam-se por fax e mantêm reuniões em lugares secretos, decididas na última hora e longe das câmeras. Alguns, como o vice-premier, Hasserdin al-Shaer, têm o paradeiro desconhecido na Cisjordânia desde a semana passada.

"Todos nós sabemos que Israel gostaria de assassinar Haniyeh, mas se decidisse fazer isso neste momento, colocaria em risco ainda maior a vida de seu soldado", estimou o professor Mjaimar Abu Sada, da universidade Al-Azhar, de Gaza.

Haniyeh tem bons motivos para ter cautela. Israel não titubeou em assassinar há três anos o xeque Ahmed Yassin, líder espiritual do movimento, lançando um míssil contra seu carro em Gaza, e, semanas depois, em matar seu sucessor, Abdelaziz Rantissi.

O professor lembrou que o governo palestino está "paralisado há meses", porque, desde que tomou posse, no começo do ano, seus ministros de Gaza e Cisjordânia nunca puderam se reunir em um mesmo local, e porque sempre existe o medo de ataques israelenses.

"Os palestinos entendem o que está acontecendo e aceitam que a prioridade atual de seu governo seja outra que não garantir o fornecimento de água ou energia na Faixa de Gaza", explicou Abu Sada. Ele estima que, "apesar de Estados Unidos e Europa considerarem o Hamas uma organização terrorista, a maioria de seus membros não tem relação com o braço militar do Hamas, as Brigadas Ezzedin Al-Qassam. Por isso, a comunidade internacional e os países árabes deveriam estar mais presentes nessa crise e pedir a Israel que deixe de lado a obsessão de eliminar este governo."



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