Cultura & Lazer Titulo
Um é bom, dois é perfeito
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
20/12/2006 | 21:09
Compartilhar notícia

ouça este conteúdo

Na linha de frente do grupo Cream, o guitarrista inglês Eric Clapton contribuiu no processo de revitalização do blues, ocorrido nos anos 60, ao apresentar o gênero a milhares de jovens roqueiros interessados nas origens desse gênero. Quatro décadas depois de traduzir a linguagem desse estilo para as massas, o instrumentista retorna ao abrigo acolhedor de seus heróis, como fica evidente em The Road to Escondido (Warner, R$ 27 em média), CD gravado em parceria inédita com o guitarrista norte-americano JJ Cale.

Clapton nunca negou a enorme influência do atual parceiro em sua obra. Em uma entrevista à conceituada revista britânica Mojo, declarou que, se tivesse que ser um outro músico, não teria dúvidas em assumir a persona de Cale. Também não é demais lembrar que dois de seus grandes sucessos, Cocaine e After Midnight, foram escritos por seu ídolo, avesso às badalações do circo midiático.

Os primeiros acordes para o projeto foram executados em 2004, quando a dupla se encontrou no palco do Crossroads Guitar Festival, evento promovido em 2004, e que reuniu a elite mundial dos guitarristas em Dallas, no Texas. Na ocasião, Clapton convidou Cale para produzir seu disco solo. O bom entrosamento no estúdio empolgou os dois virtuoses, que decidiram assinar juntos o trabalho.

Reverência - Assim como fez no álbum Riding with the King, produzido em 2000, ao lado de B.B. King, Clapton manteve-se em uma postura reverente. Abriu mão dos holofotes, para que o mestre pudesse mostrar seu brilhantismo aos que não tiveram a honra de conhecê-lo. Entre as 14 faixas do disco, apenas duas foram compostas por ele: a balada Three Little Girls e o blues malemolente Hard to Thrill, escrito com a valorosa colaboração de John Mayer.

Esta última é daquelas canções com fraseado de guitarra ágil, pontuado por notas estaladas, em que se reconhece o timbre poderoso da Fender Stratocaster de Clapton. Outra faixa que não tem o nome de Cale nos créditos é Sporting Life the Blues, clássico de Brownie McGhee.

O restante do repertório é recheado de pepitas forjadas por seu talento. A faixa que abre o disco com um envolvente clima de blues psicodélico, Danger, é sustentada por diversas camadas do órgão Hammond do lendário pianista Billy Preston, em seu derradeiro registro fonográfico. O disco é dedicado a Preston, morto este ano, vítima de problemas renais.

Não faltam outras participações especialíssimas em The Road to Escondido, título que faz referência ao município de Escondido, situado nas proximidades de Valley Center, na Califórnia, onde Cale reside. Na lista de convidados ilustres, o guitarrista Albert Lee, o baixista Pino Palladino, que acompanha o The Who, e o cantor Taj Mahal, que dá um tostão de sua habilidade na gaita. Juntos produzem música vigorosa, orgânica que não conhece as ameaças do tempo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.
;