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Secretário rebate críticas à flotação
Sucena Shkrada Resk
Do Diário do Grande ABC
09/03/2002 | 18:27
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O secretário de Estado de Energia de São Paulo, Mauro Arce, em entrevista exclusiva ao Diário, contestou afirmações de ambientalistas e representantes de prefeituras do Grande ABC de que o processo de flotação será prejudicial à represa Billings. Executado pelo Estado, por meio de convênio com a Emae (Empresa Metropolitana de Água e Energia) e Petrobrás, a flotação consiste em introduzir um produto químico nas águas do rio Pinheiros e aglutinar os poluentes em flocos. Em seguida, a água recebe oxigênio e a sujeira bóia, sendo facilmente retirada. A água, então, seria despejada na Billings.

Arce garantiu que o despejo de 10 m³/segundo das águas do rio na represa, anunciado para aumentar a capacidade de produção de energia da Usina Hidrelétrica Henry Borden, só se efetivará após análises de condições ambientais que comprovem a sua qualidade, de acordo com normas estabelecidas pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente). “A usina vai trazer benefícios para a Baixada Santista, diminuir a poluição em Barra Bonita, e isso é um ganho adicional”, disse. Leia os principais trechos da entrevista:

Diário – Há risco de, com a flotação, a Billings receber água poluída?
Mauro Arce – A gente tem de tratar do problema como um todo e eu acho que é equivocado colocar o bombeamento como principal objetivo, sendo que é uma conseqüência. Se a gente conseguir tratar a água, fazer com que ela atinja um nível aceitável e ainda realizar isso sem onerar o contribuinte, gerando energia, melhor. A usina vai trazer benefícios para a Baixada Santista, diminuir a poluição em Barra Bonita, e isso é um ganho adicional. Se o processo de flotação não der certo e não atingir os parâmetros internacionais, nem iremos realizar o bombeamento de água para a Billings, para piorar uma situação que já não é boa, pois a água da represa não é potável e ela foi originada artificialmente. Ela está na classe dois, segundo padrões do Conama. Isso significa, que permite uso doméstico, recreação e irrigação de hortaliças e plantas. Por isso é necessário passar por tratamento antes de chegar às torneiras.

Diário – As águas do rio Pinheiros já são bombeadas em período de cheias para a Billings. Isso não compromete a qualidade?
Arce – São bombeados 300 m³/segundo quando há enchentes, e a represa existe por causa dessa ação. Se alguém quiser que não bombeie, vai ser responsável por um deserto no Grande ABC, porque a Billings vai para baixo. Nós estamos fazendo essa operação desde 1991, bombeamento durante a estação chuvosa com água de enchente. Isto não tem prejudicado a qualidade, porque à medida que o nível de água da represa baixa, aumenta a concentração da poluição.

Diário – Depois da flotação, quando a Billings começa a receber água do rio Pinheiros?
Arce – Em tese, em setembro. Não sei qual será o andamento, pois aguardamos o posicionamento da Justiça quanto à ação que pede a suspensão do contrato com a Petrobrás para executar a obra. O juiz pode dar a liminar, pedida por deputados estaduais, e parar a obra. Em último caso, tentaria bombear o Pinheiros para Guarapiranga, se a água fosse igual ou melhor da que a gente tem lá hoje.

Diário – O que aconteceu de errado para haver tanta polêmica quanto à flotação?
Arce – Erramos na comunicação. Eu acho que falta um pouco de esclarecimento. Esse processo foi feito no rio Sena, em Paris, e nos Estados Unidos. A natureza é muito favorável, e precisamos dar uma ajuda a ela para se recuperar. Daí veremos o aparecimento de capivaras e jacarés. Se conseguirmos limpar 10 m³/segundo de água, está ótimo. Aí poderemos ampliar para 58 m³/segundo a geração adicional de energia, que vai primeiro melhorar a situação da Baixada Santista.

Diário – Qual é o posicionamento da Secretaria quanto à importância das ações das prefeituras do Grande ABC para diminuir a poluição nos mananciais da região?
Arce – As prefeituras do Grande ABC deveriam mandar uma água melhor para o Tamanduateí. Em vez de se preocupar muito com o problema da Billings, as prefeituras poderiam ter soluções caseiras para melhorar a situação das populações que moram na beira dos córregos dos municípios, como o ribeirão dos Meninos. O tratamento de esgoto poderia ser executado por meio da ETE (estação de tratamento de esgoto), inaugurada desde 1998, com 90% de verba do Estado, em convênio com os municípios da região. Porém, os municípios não ligam suas redes. A capital, por exemplo, usa cerca de um terço de seu potencial (da estação de tratamento), que é de 3 m³/segundo.

Diário – Por que o Estado não cobra um posicionamento das prefeituras?
Arce – A gente cobra, mas eu não posso obrigar o prefeito a utilizar a ETE. Seria um papel do povo ou do Ministério Público, a quem cabe a defesa da sociedade e que poderia, eventualmente, agir.




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