Em uma rústica manjedoura, o Menino Jesus dorme tranqüilo sob o olhar enternecido do casal Maria e José. Os reis magos Melquior, Gaspar e Baltazar oferecem presentes ao recém-nascido, depois da longa viagem até Belém. Esses são os elementos básicos de qualquer presépio. A cena que relembra o nascimento de Cristo pode ser vista dentro das igrejas da região, ao ar livre, ou ainda na casa de colecionadores. E se engana quem acha que os presépios são todos iguais. Os detalhes fazem toda a diferença. A mesma história pode ser contada em diferentes cores, tamanhos, luzes e texturas.

“Passamos todo o mês de dezembro nos preparando para o dia em que comemoramos o nascimento de Jesus. O presépio é um símbolo importante. Mostra que o coração da gente é também uma manjedoura, que se prepara para acolher uma nova vida, um novo recomeço”, ensina Valdemir Marcola, o Dema, secretário da Igreja Nossa Senhora das Graças, na Vila Humaitá, em Santo André.

No presépio – que demorou quase uma semana para ser montado – a novidade deste ano é o painel que remete às paisagens de Belém, pintado cuidadosamente por uma paroquiana. Flores naturais foram colocadas rodeando as miniaturas de ovelhas e passarinhos. Os reis magos, José, Maria, anjos. Está tudo ali. Mas só quem visitar a igreja a partir deste sábado poderá ver o cenário completo. O Menino Jesus só seria colocado sexta-feira à noite. “Não faz sentido colocar antes”, diz Dema.

A Nossa Senhora do Paraíso, outra igreja de Santo André, também fez suspense. Até a tarde de sexta-feira, a cestinha que receberia a imagem do filho de Deus estava vazia. A estatueta só sairia da gaveta sexta-feira à noite, durante a missa de Natal. A  imagem de Jesus bebê repousará sob céu azul e estrelado: painel feito de tecido e colagem de papel dourado que imita a paisagem da peregrinação dos reis pelo deserto. “Neste ano caprichamos bem”, diz Osvaldo Armelin, que freqüenta a igreja “há 30 anos ou mais”. “Não me lembro de um Natal sem presépio aqui”, revela.

Na Paróquia São João Batista, no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, o cenário bucólico e tradicional do nascimento de Cristo divide espaço com outro nada tradicional. De um lado, antigüidade; do outro, modernidade. Os dois ligados por uma ponte. “Jesus é o princípio de tudo até os dias de hoje e até o fim. A ponte simboliza isso”, explica o secretário Jovelino Eurides Petri. No presépio, as vaquinhas convivem harmoniosamente com palavras como computador, energia solar, DNA, nave espacial.

É possível conhecer outro presépio no Rudge, este ao ar livre, construído no jardim da fábrica Martini, na avenida Caminho do Mar. Debaixo de uma cabana de palha estão as imagens típicas do Natal, feitas de barro e bem maiores do que as vistas tradicionalmente em igrejas.

Para ver Maria da mesma altura que uma mulher de verdade, Jesus ocupando o espaço de um bebê e reis magos grandes como homens reais, dois presépios com personagens em tamanho real foram montados para visitação pública na região. À noite, ganham um toque especial ao serem iluminados. Um deles está na praça do Carmo, em Santo André. O outro pode ser visto na rua Oriente, bairro Barcelona, em São Caetano, em frente à Escola Estadual 28 de Julho.

Nas igrejas matriz de Mauá e Ribeirão Pires, os presépios são iluminados e coloridos. Com o silêncio no interior das duas igrejas, é possível fechar os olhos e imaginar a água que brota do chão, graças a uma pequena fonte instalada em ambas as encenações. É aquele barulhinho que parece tornar mais próximo e real o dia em que Jesus nasceu. Sensação que pode ser experimentada pelo menos até o 6 de janeiro, Dia de Reis, quando tradicionalmente as imagens voltam para a caixa e descansam até novembro.