Economia Titulo
Concessão de subsídios no crédito é feita de forma pouco transparente, diz Ilan
24/03/2017 | 17:11
Compartilhar notícia


A concessão de subsídios no crédito ocorre em todo lugar do mundo; o problema é que o Brasil o faz de forma pouco transparente com excesso de crédito direcionado, avaliou nesta sexta-feira, 24, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, em aula inaugural do curso de graduação em economia da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O presidente do BC comparou o crédito direcionado à "meia-entrada" dos cinemas e eventos culturais.

"No Brasil, todo mundo procura o privilégio, mas, quando alguém consegue, o outro tem que pagar. O privilégio é pago por quem não tem. O sistema financeiro hoje tem a metade do crédito direcionado. Ou seja, não é a taxa de mercado, são taxas subsidiadas", afirmou Goldfajn à plateia formada majoritariamente por estudantes.

Segundo ele, é preciso aproximar os custos do crédito livre do crédito subsidiado. "Temos que trabalhar tanto com o direcionado quanto com o livre", afirmou o presidente do BC.

Após sua apresentação, questionado sobre como funciona o crédito direcionado em outros países, Goldfajn disse que "em qualquer lugar do mundo o crédito tem subsídios", citando os financiamentos à agricultura e à habitação como exemplos. "O que nos torna únicos é que fazemos de forma pouco transparente. Subsídios existem no mundo todo, só que a gente faz isso na intermediação", explicou o presidente do BC.

"Não podemos conviver por décadas mais com essa dicotomia entre crédito livre e subsidiado (entre crédito livre e subsidiado). A gente tem que tratar o de cima e o de baixo também (juros mais altos e mais baixos)", acrescentou.

Questionado sobre os estudos para mudar o formato de cálculo da TJLP, que poderão passar a ser referenciados nas taxas das NTN-Bs, como revelou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em dezembro, o presidente do BC concordou que é importante fixar as mudanças em lei. "A questão de colocar na lei é essencial", disse Goldfajn, recusando-se a dar qualquer detalhe sobre os estudos. "Não dá para falar antes de colocar a lei", disse.

Ao tratar dos spreads bancários durante sua aula, Goldfajn mencionou não acreditar que seja o momento de mexer nos impostos nem nos compulsórios. "Não acho que seja momento de trabalhar impostos, também não acho que seja momento de trabalhar compulsórios", afirmou o presidente do BC, enquanto mostrava os diversos componentes do custo final de crédito. "Temos que trabalhar para termos juros baixos para todo mundo", disse Goldfajn.

Autonomia 'de facto'

Questionado sobre a importância de haver independência formal da autoridade monetária, Ilan Goldfajn disse que a autoridade monetária tem autonomia "de facto", mas que seria importante transformá-la numa independência "de jure".

"Hoje em dia, o BC tem toda a liberdade para usar seus instrumentos, mas não temos autonomia 'de jure'", disse Goldfajn, após dizer que a independência é algo "relevante". "A autonomia 'de facto' é relevante, mas estar na lei é importante porque sedimenta o que já acontece", disse o presidente do BC, completando que a independência formal daria "frutos com poucos custos".

Goldfajn também afirmou que não vê necessidade de mudar o mandato do BC, para incluir, além do controle da inflação, a manutenção de baixo desemprego. "Não vejo necessidade de mudar isso neste momento", disse o presidente do BC, associando essa questão à falta de autonomia formal. "Num arranjo em que não há independência formal, vejo risco em ter um duplo mandato", completou Goldfajn.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;