Quatro bilhões e 300 milhões de reais investidos no lixo em 30 anos. O valor exorbitante e a finalidade chamaram a atenção do vereador tucano Ary de Oliveira, que garante já ter 19 adesões para instalar CPI para investigar parceria público-privada assinada em 2012 pelo então prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), com o Consórcio SBC Valorização de Resíduos Revita e Lara. De fato, trata-se de muito dinheiro. E de pouquíssimos resultados, já que boa parte dos avanços prometidos no setor da limpeza urbana são-bernardense não saiu do papel.

Decorridos mais de quatro anos desde que o contrato foi firmado, a limpeza, a coleta e a destinação final do lixo em São Bernardo continuam sem o diferencial que poderia justificar o vultuoso valor cobrado pelas empresas consorciadas. Aonde está, por exemplo, a prometida usina que produziria energia elétrica a partir da incineração do lixo. Previsto para ser inaugurado em 2015, com custo estimado entre R$ 350 milhões e R$ 450 milhões, o equipamento sequer obteve licenciamento dos órgãos ambientais.

Ante tantos compromissos assumidos e não executados, é acertada a decisão do vereador de propor CPI para passar o assunto a limpo. O esforço também é compartilhado pelo Executivo, que, como mostrou este Diário no domingo, contratou consultoria para avaliar detalhadamente as cláusulas contratuais para ver se dinheiro público não foi malversado.

A força-tarefa entre Legislativo e Executivo é bem-vinda. No momento em que municípios promovem cortes de despesas para voltar a respirar, rever contratos bilionários atrás de gorduras a serem eliminadas é uma saída. Ainda mais se existem suspeitas de que o acordo, pela falta de frutos, não obedeceu aos preceitos da legalidade. Chegou a hora de passar as cidades do Grande ABC a limpo. A eleição de prefeitos de oposição, verificada na maioria dos municípios, facilita a necessária higienização dos processos. Ao mexer no vespeiro, São Bernardo assume pioneirismo importante na batalha pela moralização do gasto de dinheiro público.