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Esquecidos na Rua Rio Esperança

Na casa humilde no Sítio Joaninha, em Diadema, não tem chuveiro nem rede de esgoto

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
01/01/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 A subida é íngreme e a rua é toda de terra, com pedras e entulho. Quando chove bastante a água desce com força e os buracos tomam conta do local. Não há barulho de ônibus tampouco comércio. Parece até ser um lugar esquecido, distante de tudo. No Sítio Joaninha, bairro de Diadema, divisa com São Bernardo, vive a família de Josefina de Oliveira e de seu Luis Jesus de Oliveira.

Um povo humilde, gentil, de luta. Ela tem 53 anos, ele 67. Dona Josefina é portadora de marcapasso e não tem renda. Sobrevive com a aposentadoria do marido, que vez ou outra consegue um ‘bico’ de pedreiro.

Mesmo assim não perdem o sorriso. Na casa, que fica na Rua Rio Esperança Pedrosa, antiga Rua 1, além do casal, vivem a filha Maria Graciela Santos de Olivera (33) e seus quatro filhos: Giovana, 9, o sonhador e apaixonado pelo Corinthians Gabriel, 7, Giselle, 4 – todos na escola –, e a pequenina Elisabethe, de apenas nove meses. Mãe solteira, Maria conta com o auxílio do programa Bolsa Família, do governo federal.

Água encanada chegou há pouco na casinha da família, assim como a energia elétrica, que eles tiveram acesso só a partir de 2014. Na conta, além da cobrança pela água, a família paga a taxa de esgoto, mas não há rede para eles. Segundo Josefina, a Prefeitura começou a colocar a rede de esgoto na rua, mas as obras pararam e ela ficou sem o serviço. Há um vaso sanitário na casa, mas não tem como usar.

Em dias de chuva é possível ver com facilidade na rua o esgoto correndo a céu aberto. “A rede de esgoto é um dos nossos desejos”, afirma Josefina. “Na época da eleição vinha político aqui prometendo o ‘Céu e a Terra’, mas depois devem até ter esquecido o nome da nossa rua”, diz ela.

Mas o maior medo da família, na verdade, é de um dia perder a única coisa que possui além da fé e de uns aos outros: a casa onde moram. Segundo Luis, que comprou o terreno há mais de duas décadas, a Prefeitura ‘vive’ indo até lá para dizer que eles terão de sair do local. Ele diz se sentir ameaçado. Segundo Josefina, o terreno, parte de um antigo sítio, foi loteado há tempos e eles compraram o espaço. “Agora a Prefeitura vem aqui dizer que é área verde e que vai tomar da gente”, diz ela, aflita.

Seu Luis se lembra do quanto trabalhou para conseguir comprar o terreno. “Peguei muito plástico e ferro na rua, debaixo de sol e chuva, para comprar aqui. Isso não foi roubado, foi comprado. E não param de me infernizar”, afirma ele.

A casa tem uma sala pequena, onde ficam alguns gatos também. A cozinha tem chão de terra e as panelas ficam todas penduradas. Apesar da dificuldade, Josefina faz questão de deixar tudo arrumadinho. Há geladeira, mas a energia cai o tempo todo – inclusive quando a equipe do Diário esteve no local. O banheiro ninguém usa, por conta da falta de esgoto. Chuveiro ainda não há, por falta de recursos. O banho é nos fundos da casa, desde sempre, com água gelada mesmo.

Há também um quarto e quintal que tem uma bananeira e flores. O terreno de cima tem um barranco. Luis já murou boa parte dele, com mais de 2 metros de profundidade. Uma parte ainda falta. Ele faz tudo sozinho, Mas custa caro. “Tem hora que falta o que comer”, explica Josefina.

Ela, aliás, que já sofreu infarto, toma três medicações. Duas delas diz conseguir na UBS da Vila Paulina. “Tem um remédio que compro, pois nunca tem no posto. Daí vou na Farmácia Popular para pagar mais barato”, explica.

Outro problema, além da falta de emprego, esgoto, do medo de perder a casa e de não saber se terão todo dia o que comer, é a chuva. “Ela (chuva) está na porta do céu e dentro de casa já está molhando tudo”, diz Josefina. Luis coloca plásticos para reforçar o telhado, mas tem vez que não é suficiente. “Já perdemos muita coisa aqui em casa. Fogão, geladeira, documentos”, afirma ela.

Josefina e Luis se sentem esquecidos, abandonados. Mas ainda assim, não perdem a esperança por dias melhores. Eles sonham em poder arrumar sua casa, usar um chuveiro com água quente, terminar o muro que faz divisa com o terreno ao lado e, o principal, seguirem com suas vidas onde estão. “Meu maior desejo é que a gente não saia daqui, não temos para onde ir. E eu amo aqui”, diz Josefina, já emocionada.




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