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Crônica futebolística
Rodolfo de Souza
15/12/2016 | 07:07
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No distante e sempre encantado reino do ‘Ó’, o povo parece que já se acostumou com o monarca, aquele que gentilmente pediu à rainha que se retirasse com a alegação de que necessitava do seu trono para brincar de rei. E o que se viu, a partir de tão insólito gesto, foi a euforia de um menino que, com seu brinquedo novo, fez travessuras que ele chamou de medidas, todas apoiadas pela alta cúpula de nobres que dividiram com ele a brincadeira de chefiar a grande nação do ‘Ó’. Medidas que, segundo os tais, foram tomadas pelo bem da economia do lugar. Esta que anda meio capenga por causa da má gestão e da cultura do ganho fácil que tem levado a nobreza a se fartar com o tesouro que o povo se encarrega de suprir com o suor da cara. Deixar nu esse povo, talvez seja agora o propósito daqueles que mentem quando dizem que se importam com a economia do seu país. Sua atenção está mesmo voltada para os seus porcos, que devem continuar engordando nesse jogo de toma lá, dá cá.

Todos dizem mesmo que se trata de um jogo de interesses esse brinquedo de comandar... Mas de que categoria esportiva falamos, afinal? Deve se tratar de futebol! Só pode ser futebol! Esse povo não se emenda, continua fanático pelo esporte bretão, ainda que venha perdendo partida após partida, neste campeonato em que os vencedores são sempre os mesmos.

É preciso que se admita, contudo, que essa gente não perde a postura em campo. Corre atrás da bola como se dependesse dela para viver... A despeito de sua nova tendência a entregar os pontos, que já se começa a notar. Parece mesmo que sucumbe à tristeza também nesta modalidade. Até porque o futebol, que sempre fora levado a sério lá naquele imenso estádio Tupinambá, tem agora juízes só porque faz parte da regra tê-los em campo, uma vez que estes não apitam mais nada. Dia destes, por exemplo, um magistrado dos gramados, dos mais conceituados, inclusive, determinou que um lorde, que roubava no jogo, deixasse o campo. Mas este, para surpresa de todos, ergueu seu imponente nariz e pediu ao árbitro que tivesse a fineza de guardar o cartão vermelho. Em seguida, deu-lhe as costas e permaneceu disputando a partida. E, para agravar ainda mais a situação, o conselho de juízes que deveria fazer valer a vontade daquele, que só cumpria o que determina a lei esportiva, abaixou a cabeça, enfiou o rabo entre as pernas e passou um pito no mau árbitro que teria, com seu gesto, ofendido sua excelência. E o hábil jogador, coronel do time, já que nunca se sujeitaria ao humilhante posto de capitão, permaneceu jogando, distribuindo pontapés e furando o olho adversário, só para continuar fazendo seus gols, inclusive, de mão. Sempre muito apoiado! Sua influência sobre os demais, diga-se de passagem, é tanta que mudaram até as regras deste esporte, só para não aborrecê-lo.

Mas nem tudo é tão ruim quanto o futebol, naquele lugar! À população, por exemplo, é dado o direito de vaiar rei e jogador e fechar avenidas com suas plaquinhas. E, aliás, é bom que se refestele com este direito, uma vez que, pelo andar da carroça, também este lhe será tomado logo, logo.

E o povo destemido segue protestando sem entender também a urgência em se votar isso e aquilo. É preciso mudar o rumo da economia, reduzir os gastos do reino a qualquer custo, e rápido! – proclama a comunidade saprófita do lugar. Há até mesmo um certo furor, um desespero por parte de quem comanda livremente, sem a incômoda presença da oposição, presente em número reduzidíssimo a cada pleito ou a cada jogo, como querem alguns. 




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