Sem que a sociedade paulista em geral, e a do Grande ABC em particular, fosse avisada ou informada, o médico Desiré Carlos Callegari foi reconduzido à superintendência do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, por mais cinco anos. A decisão, tomada longe dos olhos da opinião pública, foi ratificada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário de Saúde do Estado, David Uip. Decerto, tanto um quanto o outro estão satisfeitos com o trabalho que vem sendo realizado na unidade.

A renovação do mandato do principal gestor ocorre concomitantemente ao aniversário de 15 anos do Mário Cobas, celebrado em 22 de novembro, quando não havia nenhum motivo aparente para qualquer comemoração. Pelo contrário. Reportagem deste Diário, publicada por ocasião da data, mostrou que a demanda por cirurgias de alta complexidade submete os usuários a longa fila de espera, que, em alguns casos, chega a quatro anos.

Especialista ouvido pela equipe de reportagem chegou a dizer que a falta de diálogo entre o Estado, que cuida da gestão do hospital, e os municípios é, em grande parte, responsável pela crise que o Mário Covas atravessa. E o que faz a instituição diante da oportunidade de rever os rumos? Reforça o fosso entre os entes federativos, ignorando as cidades que se servem dos seus serviços. Somente mais transparência e diálogo podem ajudar a solucionar os problemas. Quanto mais integração, maiores as chances de êxito.

A escolha do ocupante de cargo tão importante quanto o de superintendente de hospital regional, como é o caso do Mário Covas, deveria ser precedida de amplo debate público. Por que a sociedade é alijada do processo? Por que não se ouvir, por exemplo, representantes dos pacientes antes da definição. É evidente que, por se tratar de equipamento estadual, o governador e o secretário de Saúde têm a prerrogativa de dar a última palavra, referendando seus escolhidos. Mas só depois que todos os lados sejam ouvidos. Pena que boa parte dos políticos eleitos só goste de democracia quando ela lhes favorece.