Esportes Titulo Confidencial
Triste dia de reflexão
Dérek Bittencourt
30/11/2016 | 07:00
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“Se fosse o Santo André na final da Copa Sul-Americana seria eu, seria você, estaríamos todos naquele voo.” Essa foi a frase dita a mim pelo assessor da presidência do Ramalhão, Carlito Arini, ontem, durante entrevista por telefone. Liguei para falar sobre o volante Gil, jogador de sua confiança, em quem apostou desde os tempos de Guaratinguetá, carregou para o Vitória e trouxe para vestir a camisa ramalhina na campanha do vice-campeonato no Paulistão de 2010. Além disso, descobri a relação próxima que ele tinha com o meia Cléber Santana. O dirigente estava em choque, trocava palavras por soluços de quem sentiu profundamente a tragédia que vitimou a delegação da Chapecoense, que se dirigia ontem à Colômbia. Porém, o avião caiu pouco antes do pouso. E junto de jogadores, comissão técnica e dirigentes, estavam 21 jornalistas. Apenas um se salvou. Por isso, Carlito me citou como uma possibilidade num hipotético voo andreense. E aquilo ficou na minha cabeça.

Sim, refleti. Poderia ser eu. Obviamente estamos sujeitos a situações das mais diversas que podem, num passe de mágica, nos levar ‘dessa para melhor’ todos os dias. Mas quem é jornalista esportivo e está acostumado a viajar para acompanhar os times por aí acaba traçando paralelos e sentindo na pele com mais intensidade. “A gente está sempre nessa rotina de viagem. Poderia ser qualquer um de nós. É difícil demais ver que a gente tem de valorizar tudo o que temos, o que somos”, me disse o técnico Sérgio Soares, comandante daquele Santo André de 2010. “Poderia ser a gente, que está toda hora pegando avião”, bateu na tecla o comandante ramalhino Toninho Cecílio, que perdeu o amigo Caio Júnior e outros colegas.

Particularmente, senti – muito – as perdas de Gil, o centrado volante de poucas palavras que entrevistei diversas vezes entre 2009 e 2010, e do roupeiro Cocada, que em 2013, num Santo André x Goiás em Goiânia, me permitiu adentrar ao vestiário do Serra Dourada e registrar sua arrumação de camisas e materiais dos atletas antes da chegada da delegação. Grandes pessoas.
A Chape até outro dia (2011 e 2012) visitava o Ramalhão no Estádio Bruno Daniel em compromissos pela Série C do Brasileiro. Quis o destino que seguissem caminhos opostos: “A ascensão da Chapecoense coincidiu com a queda do Santo André do cenário nacional”, traçou um paralelo em bate-papo o diretor de futebol andreense, Juraci Catarino.

A organização dos sulistas, naquela época, já impressionava. O clube catarinense, assim como Ramalhão e Azulão viveram no início da década de 2000, curtia o melhor momento da história, chegava a importante final, à qual tinha totais condições de conquistar em campo. Provavelmente fique com a taça como forma – merecida – de homenagem e, consequentemente, a vaga na Copa Libertadores. A comoção mundial, o comprometimento dos clubes nacionais e as diversas ações anunciadas têm tudo para transformar a catástrofe no maior ato de humanidade e solidariedade da história do esporte. 




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