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Crédito para concordata pode ajudar Grande ABC

Linha do BNDES voltada à compra de firmas em
recuperação judicial ou em crise dispõe de R$ 5 bi

Vinícius Claro
Especial para o Diário
30/08/2016 | 07:13
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Divulgação


O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) lançou linha de R$ 5 bilhões para a compra de empresas em recuperação judicial, falência ou crise financeira. O impacto desse financiamento na região é bem-visto por especialistas, embora ponderem que possa haver dificuldades na hora de contratá-lo.

Para o primeiro vice-diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Anuar Dequech Júnior, a proposta inicialmente é interessante porque tem havido “avalanche” de fechamentos de empresas na região. Apenas em Diadema, segundo ele, houve queda de 10% no quadro de associados.

De acordo com a Serasa, o Brasil registrou, de janeiro a julho, 1.098 pedidos de recuperação judicial de empresas, 75,1% a mais do que as 627 do mesmo período de 2015.

Para citar alguns exemplos no Grande ABC, a Arteb, fabricante de luminárias automotivas com unidades em São Bernardo e Diadema, ingressou com pedido de recuperação judicial em fevereiro, e totalizava R$ 70 milhões em dívidas. A Karmann Ghia, de São Bernardo, que atua nas áreas de estamparia e ferramentaria,possui passivo total de R$ 300 milhões. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pediu, em junho, a falência da empresa.

Dequech afirma, no entanto, ter receio na aceitação dessa linha por parte dos investidores, que ainda estão preocupados com as instabilidades política e econômica. Ele também vê como melhor alternativa priorizar os empréstimos a empresários brasileiros em detrimento de estrangeiros. “Não acho muito bom que multinacionais tenham acesso, porque, uma hora ou outra, se tiver um vento desfavorável, elas não hesitam. Fecham as portas e vão embora.”

Conforme as regras do BNDES, porém, o contratante deve ter sede e administração no Brasil. Ainda, deverá ser dotado de capacidade gerencial; possuir demonstrações financeiras auditadas por empresa registrada na CVM (Comissão de Valores Mobiliários); e não poderá integrar o grupo econômico da vendedora, ser parte relacionada a ela e ser identificado como seu agente. “O ativo (empresa) deverá ser adquirido com o propósito de empreender atividade econômica, ainda que diversa da exercida pela vendedora”, destaca o banco.

O diretor em exercício do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini, não acredita que a medida trará impactos significativos para o Grande ABC, pelo fato de considerar o montante total de R$ 5 bilhões pequeno para recuperar empresas – embora o BNDES tenha garantido que a quantia pode aumentar conforme a demanda. Ele cita como exemplo a recuperação judicial da operadora de telefonia Oi, que totaliza R$ 65,4 bilhões em dívidas, e compõe o maior pedido de concordata do País.

Barberini também criticou a forma como a decisão foi lançada. “Da forma que foi feito, não houve discussão com a sociedade, com ninguém. A gente conhece um pouco as regras do BNDES e sabe que não é um benefício para todos. Não sei até que ponto vai ser bom para a economia.”

Da perspectiva do trabalhador, a proposta tende a ser satisfatória, já que pretende manter o nível de emprego. Essa é a visão do secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sivaldo Pereira, o Espirro.

O sindicalista vê a manutenção do emprego e da renda como fundamental para recuperação da economia. Ele afirma que, quando chegam à recuperação judicial, dificilmente as empresas conseguem se recuperar. “Já estão com a corda no pescoço. Poucas vezes vimos entrar nesse processo e sair.”

Espirro ressalta que é preciso ter garantias claras de que haverá investimento na recuperação da companhia. “Não pode dar empréstimo e a empresa fazer o que quiser. Tem que estar no contrato que vai investir realmente, e que isso irá garantir postos de trabalho.”

O programa tem vigência até 31 de agosto de 2017.

(Colaborou Soraia Abreu Pedrozo) 




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