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Sem-teto de São Paulo estão com medo
19/08/2004 | 23:41
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A Praça da Sé, a Rua da Glória e a Praça João Mendes pareciam mais vazias na noite desta quinta-feira. O número de sem-teto era menor do que o habitual. No 1º Distrito, na Rua da Glória, o escrivão, que não quis revelar o nome, comentou: "Os mendigos devem ter ficado com medo e foram embora, eles não apareceram por aqui hoje (quinta)."

Os poucos moradores de rua que perambulavam por ali e já sabiam da chacina preparavam mudança. "Amanhã (sexta) mesmo vou para Itapecerica da Serra, não vou ficar aqui no centro." Em três pontos onde aconteceram agressões, as Ruas Tabatingüera, 15 de Novembro e Praça D. José Gaspar, a prefeitura deixou coroas de flores e uma faixa com a inscrição: "Assassinados pela intolerância. Marta Suplicy, prefeita de São Paulo".

Mesmo assim, muitos sem-teto ainda não sabiam direito o que tinha acontecido. "Ontem aqui morreram não sei quantos", disse um deles ao passar pela faixa na 15 de Novembro. As coroas ficarão nos três lugares até às 7h desta sexta. "Fazia tempo que eu não escutava um caso desse, fiquei sabendo da morte do Pantera, mas não sei se é verdade. Ainda não o vi hoje", disse Aureliano Batista, 44 anos, que costuma ficar na Praça de Sé. "Sempre durmo sozinho. Já tentaram até atear fogo em mim. Esta noite vou ficar mais perto da guarita da polícia."

Alguns moradores de rua do centro só souberam da chacina por meio da reportagem. David Teixeira Alves, 46, que estava na Praça João Mendes, ficou assustado, principalmente porque tinha passado a madrugada na 15 de Novembro. "Não sei como vai ser esta noite. Ninguém tinha comentado nada comigo. Durmo com mais cinco pessoas e vamos ficar atentos."

Kátia de Almeida, 61, ficou sem reação quando recebeu a notícia das mortes. "Estou com muito medo de passar a noite aqui", disse, também na 15 de Novembro. "Ontem eu não ouvi nada." Levantamento da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas) da Universidade de São Paulo, divulgado em outubro de 2003, estimou em 4.208 o número de moradores de rua da capital, além de outros 6.186 em albergues, o que dá um total de 10.394. O número é três vezes maior que os 3.392 apontados num levantamento de 1991.




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