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Lições de mãe para rir e chorar
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
06/06/2009 | 07:00
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"Quem tem mãe não tem medo, a não ser da própria." A frase de Henfil dá a medida do que está por vir no delicioso livro Aprendi com Minha Mãe (Ed. Versar, 254 págs., R$ 35, em média), da jornalista Cristina Ramalho.

A organizadora foi atrás de 52 personalidades para que respondessem à pergunta ‘qual a maior lição que aprendi com minha mãe'. O resultado dessa ação singela acabou por resultar em uma rica coletânea de depoimentos, alguns escritos de próprio punho. A leitura flui facilmente. Emociona, arranca sorrisos cúmplices e nos faz cavocar as próprias lembranças. Uma delícia.

Cristina partiu da proposta do editor Luís Colombini, autor de "Aprendi com Meu Pai". Sua missão seria ouvir reminiscências maternas. "Ao longo das entrevistas, fui percebendo que, ao contrário das histórias de pais, quem fala da mãe nem sempre se lembra de um único fato, uma frase marcante. Por que mãe é outra categoria", observa a autora.

Sua conclusão é que mãe leva o crédito pelo conjunto da obra. E seu primeiro acerto foi na seleção dos entrevistados, na qual contou com alguns pitacos da mãe, dona Gladys, que se entusiasmou de cara com a ideia do livro.

A lista é variada e bem sacada, há de artistas a políticos. Alguns: O cineasta e cronista Arnaldo Jabor, o ator e ex-secretário de Cultura de Santo André, Celso Frateschi, a viajante Heloisa Schürmann, Frei Betto, dom Paulo Evaristo Arns, o empresário e culinarista Sérgio Arno, a escritora Maria Adelaide Amaral e o político Paulo Maluf. Daí se tem uma ideia da diversidade histórica e comportamental expressa pelo conjunto de depoimentos.

Há histórias de mães analfabetas e intelectuais. Mães castradoras e liberais. Mães paupérrimas e riquíssimas. Mães que expressavam suas ideias com discursos inflamados e outras que falavam tudo com o olhar. Mães meninas que se foram cedo e as que quase centenárias e ainda influentes. E há até uma mãe virgem, mas não vou estragar a surpresa.

Trecho

Minha mãe é uma sereia

Por Fernanda Young*

Eu aprendi com minha mãe a nunca implorar por amor. Aprendi a ser uma mulher forte. Quando meu pai ameaçou ir embora, antes que ele ficasse, por culpa ou por covardia, ela o mandou pastar. Não preciso agir como uma gueixa, "respeitando" o homem. Vivo como uma igual. Vi a minha mãe trabalhar num zoológico para pagar uma faculdade. Vi a minha mãe se arrumar e ir para discotecas, e imagino, se esbaldar. Com ela aprendi a ser boa amiga. Tenho aprendido a "dar um jeitinho", quando a coisa aperta. É claro que a vi errando. E ainda vejo. A minha mãe não é a Mãe Ideal. Mas ela é Real. Sou como ela, cheia de falhas, engraçada e viva. A minha mãe pulsa. Reclama de mim, fala mal do meu cabelo, mas ai de quem concordar com ela. Eu aprendi a ser leal. Assim como ela, só eu, mais ninguém pode falar mal dos meus.

* Depoimento da escritora, apresentadora e roteirista de Os Normais Fernanda Young, reproduzido da página 113 do livro Aprendi com a Minha Mãe, da jornalista Cristina Ramalho.




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