Numa sala do Hotel Meliá, em Sao Paulo, Lasseter considera a comparaçao lisonjeira. Afinal, Disney foi uma referência para ele desde que, garoto, divertia-se assistindo aos filmes animados do pai de Mickey. Mas ele faz questao de trilhar um caminho próprio. Lasseter passou a terça-feira dando entrevistas em Sao Paulo. Numa sala, ele se encontrava com jornalistas. Na outra, o anfitriao era o compositor Randy Newman. Na véspera, estiveram no Rio. Vieram de Buenos Aires. O tour por capitais sul-americanas faz parte da campanha para promover 'Toy Story 2", que estréia no dia 17 no Brasil. Entra em 348 salas, sinal de que a distribuidora Buena Vista e os exibidores nacionais acreditam num estouro de bilheteria.
Quem viu "Toy Story", o primeiro, por certo se lembra dos personagens. Dois brinquedos: Woody e Buzz Lightyear, liderando uma multidao de outros bonecos. Na esteira do grande sucesso de bilheteria de 1995, surge agora a seqüência. Lasseter explica o conceito: "O primeiro filme passa-se quase todo em interiores, dentro da casa: o atual é um road movie, os personagens ganham a rua e o mundo." Uma mudança considerável, que amplia os limites da açao em filmes animados. Há momentos que parecem live action (a travessia da rua, o aeroporto). Para isso contribuiu, com certeza, a aventura de "Vida de Inseto", que a Pixar fez depois de "Toy Story". A experiência com cenas de natureza, muitos exteriores, liberou a Pixar para para fazer 'Toy Story 2".
Nada deixa o diretor mais feliz do que a observaçao feita pelo repórter: "A história é tao legal que faz a gente esquecer a técnica." Lasseter diz que a Pixar é isso - tecnologia de ponta na área da animaçao, mas totalmente subordinada à história. "Nao cultivamos a técnica por si; ela tem de estar a serviço de um objetivo, que é a história."
Seqüestro - Na história, o caubói é seqüestrado por um colecionador e Buzz sai atrás do amigo numa louca corrida. Com ele, segue a turma toda de brinquedos. Lasseter explica como teve a idéia: "Sou pai de cinco filhos, quatro sao crianças entre 10 e 2 anos." Adoram brinquedos e o problema é que ele, Lasseter, é um colecionador de bonecos. Tem lá os dele muito bem guardados no escritório. Volta e meia as crianças invadiam seu território. Lasseter reclamava. Um dia sua mulher lhe disse: "Deixe-os brincar, brinquedos sao feitos para as crianças." Lasseter ficou com aquilo na cabeça. E começou a tecer o fio da história, explorando o medo de um brinquedo de perder-se do seu dono, de ser esquecido, de perder a utilidade como objeto de folguedos.
Por mais emocionante que seja essa história, para adultos e crianças - Lasseter nao faz distinçao, diz que fez o filme pensando no público como um todo, tentando atingir da criança ao idoso -, a técnica continua prodigiosa. Nada mais normal para o diretor. Nos quatro anos decorridos desde "Toy Story", a tecnologia nao cessou de evoluir. Lasseter nao sabe até onde a animaçao poderá ir com computadores cada vez mais avançados, mas acha que nem todo o desenvolvimento tecnológico vai acabar com a animaçao tradicional. Para ele, animaçao tem a ver com imaginaçao. "É criatividade, ousadia." O computador só é válido como novo meio por permitir ampliar os limites da imaginaçao. Volta ao conceito de que a história é o mais importante.
Randy Newman é outro que destaca o valor da história contada. O Newman do nome o inscreve como integrante de uma dinastia musical do cinema americano. Os tios Alfred e Lionel foram músicos notáveis. Newman nao hesita em apontar Alfred, por sua atividade na empresa Fox, como um dos maiores, senao o maior compositor de todos os tempos. E polemiza: nao considera a parceria de Bernard Herrmann tudo aquilo que dizem. Admira as partituras de "Psicose' e "Taxi Driver' (de Scorsese), mas em geral acha que Herrmann é supervalorizado.
Considera as parcerias positivas no cinema. Cita a associaçao de Nino Rota com Fellini, a de John Williams com George Lucas, a dele com John Lasseter. "Trabalhar no segundo Toy Story foi mais fácil." Acha que, do primeiro para o segundo filme, Lasseter evoluiu nas escolhas, tem mais ouvido, sabe fazer-se entender. Diversas vezes indicado para o Oscar, ele acha que poderá ser de novo, na categoria de cançao (a melhor é a da boneca que foi esquecida pela dona). Mas nao é do tipo que valoriza o prêmio da academia. "Nao ligo", garante. Adora música brasileira. Nao apenas bossa nova, Caetano Veloso e Gilberto Gil merecem seus elogios. Acima de todos coloca Jobim e Villa-Lobos. "O Brasil é um país abençoado por sua diversidade e colorido musical", resume.
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