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Criador de 'Toy Story 2' já está sendo chamado de novo Walt Disney
Do Diário do Grande ABC
08/12/1999 | 16:14
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Em 12 dias de exibiçao no mercado americano, Toy Story 2, que estreou nos Estados Unidos no dia de Açao de Graças, faturou mais do que "O Rei Leao" no mesmo período. Uma vitória apertada (US$ 101 milhoes contra US$ 100 milhoes, apenas US$ 1 milhao de diferença), mas altamente simbólica. Nenhuma outra animaçao da Disney, nos últimos anos, teve acolhida mais triunfal do que a história de Simba. Por conta disso, John Lasseter, um dos criadores e principal animador da empresa Pixar, já está sendo chamado de novo Walt Disney.

Numa sala do Hotel Meliá, em Sao Paulo, Lasseter considera a comparaçao lisonjeira. Afinal, Disney foi uma referência para ele desde que, garoto, divertia-se assistindo aos filmes animados do pai de Mickey. Mas ele faz questao de trilhar um caminho próprio. Lasseter passou a terça-feira dando entrevistas em Sao Paulo. Numa sala, ele se encontrava com jornalistas. Na outra, o anfitriao era o compositor Randy Newman. Na véspera, estiveram no Rio. Vieram de Buenos Aires. O tour por capitais sul-americanas faz parte da campanha para promover 'Toy Story 2", que estréia no dia 17 no Brasil. Entra em 348 salas, sinal de que a distribuidora Buena Vista e os exibidores nacionais acreditam num estouro de bilheteria.

Quem viu "Toy Story", o primeiro, por certo se lembra dos personagens. Dois brinquedos: Woody e Buzz Lightyear, liderando uma multidao de outros bonecos. Na esteira do grande sucesso de bilheteria de 1995, surge agora a seqüência. Lasseter explica o conceito: "O primeiro filme passa-se quase todo em interiores, dentro da casa: o atual é um road movie, os personagens ganham a rua e o mundo." Uma mudança considerável, que amplia os limites da açao em filmes animados. Há momentos que parecem live action (a travessia da rua, o aeroporto). Para isso contribuiu, com certeza, a aventura de "Vida de Inseto", que a Pixar fez depois de "Toy Story". A experiência com cenas de natureza, muitos exteriores, liberou a Pixar para para fazer 'Toy Story 2".

Nada deixa o diretor mais feliz do que a observaçao feita pelo repórter: "A história é tao legal que faz a gente esquecer a técnica." Lasseter diz que a Pixar é isso - tecnologia de ponta na área da animaçao, mas totalmente subordinada à história. "Nao cultivamos a técnica por si; ela tem de estar a serviço de um objetivo, que é a história."

Seqüestro - Na história, o caubói é seqüestrado por um colecionador e Buzz sai atrás do amigo numa louca corrida. Com ele, segue a turma toda de brinquedos. Lasseter explica como teve a idéia: "Sou pai de cinco filhos, quatro sao crianças entre 10 e 2 anos." Adoram brinquedos e o problema é que ele, Lasseter, é um colecionador de bonecos. Tem lá os dele muito bem guardados no escritório. Volta e meia as crianças invadiam seu território. Lasseter reclamava. Um dia sua mulher lhe disse: "Deixe-os brincar, brinquedos sao feitos para as crianças." Lasseter ficou com aquilo na cabeça. E começou a tecer o fio da história, explorando o medo de um brinquedo de perder-se do seu dono, de ser esquecido, de perder a utilidade como objeto de folguedos.

Por mais emocionante que seja essa história, para adultos e crianças - Lasseter nao faz distinçao, diz que fez o filme pensando no público como um todo, tentando atingir da criança ao idoso -, a técnica continua prodigiosa. Nada mais normal para o diretor. Nos quatro anos decorridos desde "Toy Story", a tecnologia nao cessou de evoluir. Lasseter nao sabe até onde a animaçao poderá ir com computadores cada vez mais avançados, mas acha que nem todo o desenvolvimento tecnológico vai acabar com a animaçao tradicional. Para ele, animaçao tem a ver com imaginaçao. "É criatividade, ousadia." O computador só é válido como novo meio por permitir ampliar os limites da imaginaçao. Volta ao conceito de que a história é o mais importante.

Randy Newman é outro que destaca o valor da história contada. O Newman do nome o inscreve como integrante de uma dinastia musical do cinema americano. Os tios Alfred e Lionel foram músicos notáveis. Newman nao hesita em apontar Alfred, por sua atividade na empresa Fox, como um dos maiores, senao o maior compositor de todos os tempos. E polemiza: nao considera a parceria de Bernard Herrmann tudo aquilo que dizem. Admira as partituras de "Psicose' e "Taxi Driver' (de Scorsese), mas em geral acha que Herrmann é supervalorizado.

Considera as parcerias positivas no cinema. Cita a associaçao de Nino Rota com Fellini, a de John Williams com George Lucas, a dele com John Lasseter. "Trabalhar no segundo Toy Story foi mais fácil." Acha que, do primeiro para o segundo filme, Lasseter evoluiu nas escolhas, tem mais ouvido, sabe fazer-se entender. Diversas vezes indicado para o Oscar, ele acha que poderá ser de novo, na categoria de cançao (a melhor é a da boneca que foi esquecida pela dona). Mas nao é do tipo que valoriza o prêmio da academia. "Nao ligo", garante. Adora música brasileira. Nao apenas bossa nova, Caetano Veloso e Gilberto Gil merecem seus elogios. Acima de todos coloca Jobim e Villa-Lobos. "O Brasil é um país abençoado por sua diversidade e colorido musical", resume.




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