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Infertilidade atinge até 20% da população
Bruna Gonçalves
Do diário do Grande ABC
01/08/2010 | 08:48
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Ter um filho. Esse é o sonho de muitas mulheres. Mas pode se tornar pesadelo para quem não consegue engravidar. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Artur Dzik, a dificuldade de gerar um bebê atinge de 15% a 20% da população. "A responsabilidade está dividida - 50% homens e 50% mulheres - pelos problemas de fertilidade."

O número de casais em que ambos possuem o problema chega a 20%, segundo o professor titular de Genética e Reprodução Humana Caio Patente Parente Barbosa.

Nas mulheres, a idade vai contra a fertilidade. "A partir dos 35 anos fica mais complicado, e é nesse período que a maioria quer engravidar. Elas priorizam a carreira profissional para depois pensar em ter um filho", diz Barbosa.

Há três anos, a professora Irene Gonçalves Teixeira, 34, de São Paulo, descobriu que tinha endometriose e começou a fazer tratamento no Centro de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina do ABC. "Sou casada há sete anos e não conseguia engravidar. Já realizei várias técnicas, como coito programado, inseminação artificial e fertilização in vitro, e não consegui. Mesmo assim, não desisto", disse Irene quinta-feira enquanto aguardava para mais uma tentativa de inseminação artificial.

"Sempre tive o sonho de ser mãe. Mas, caso não consiga engravidar agora, vou adotar uma criança", disse Irene, que conta com o apoio do marido em todas as consultas.
Para os homens os problemas que causam a infertilidade são hábitos de vida, obesidade, estresse e tabagismo. "Além desses fatores, há doenças como azoospermias (ausência de espermatozoides na ejaculação)", disse Artur.

Há um ano e meio o casal do Jardim Miriam, Zona Sul da Capital, Maria Cristina Feliciano e Fábio Luiz Feliciano, ambos de 28 anos, aguarda o grande dia. "Tentávamos, mas ela não engravidava. Pela internet, descobrimos o serviço na faculdade e estamos passando por exames. Tenho azoospermia, mas preciso de uma avaliação para determinar o melhor tratamento", disse Fábio.

ACOMPANHAMENTO - Os casais, em geral, passam por acompanhamento psicológico durante o tratamento. "O país tem essa questão cultural de casar e ter filhos. Por isso, quando não conseguem, sentem-se inferiores às outras pessoas. Temos de trabalhar isso com eles. O início do acompanhamento varia, mas todos passam por nós", disse a coordenadora do serviço de psicologia do Centro de Reprodução Humana, Juliana Roberto dos Santos. Para ela, a situação é diferente entre homens. "Eles têm mais dificuldade para se abrir, porque vinculam a infertilidade à capacidade masculina", afirmou.

Novo prédio aumentará atendimentos

O Centro de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina do ABC vai ampliar o atendimento com a inauguração do novo prédio, prevista para 18 de setembro.

Segundo o professor titular de Genética e Reprodução Humana Caio Patente Parente Barbosa, o local irá passar de 100 ciclos de atendimentos mensais para uma capacidade de até 800. "O prédio possui três andares. Um andar será o centro cirúrgico, que terá capacidade para dez procedimentos por dia, ambulatório e laboratório. O outro será só para reprodução humana, com salas de atendimento médico,enfermagem e coleta de sêmen. O terceiro será para a área de ginecologia. A infraestrutura e a tecnologia foram pensadas para oferecer o melhor serviço de domingo a domingo a pacientes tanto da região quanto de São Paulo", ressaltou.

ATENDIMENTO - A vendedora de Santo André Michelle Ferreira Novaes se diz satisfeita com o tratamento iniciado no mês passado. "Perdi dois bebês em dois anos e ia a médicos que diziam que era normal. Sempre quis ser mãe e era muito difícil ouvir isso. No centro, estou passando por exames para diagnosticar o motivo de não conseguir segurar o bebê."

Para ela, a equipe médica é o que mais surpreende. "Os médicos te dão toda a base. Vou ao psicólogo, porque é muito difícil para uma mulher perder dois bebês. Passar por todo esse processo é algo que não tem como esquecer. E aqui, ao mesmo tempo em que estou vendo qual é o meu problema, conto com esse apoio".

TRATAMENTO - O serviço funciona no campus da Faculdade (Avenida Príncipe de Gales, 821, tel.: 4993-5401). O custo dos procedimentos variam. O processo de inseminação artificial custa cerca de R$700 - incluindo medicação. A fertilização in vitro varia de R$ 4.000 a R$ 5.000, já incluídas as medicações. "É um preço muito inferior ao de outros lugares", disse Barbosa.

Endometriose atinge 20% das mulheres

A endometriose, doença da professora Irene Gonçalves Teixeira, 34 anos, de São Mateus, Zona Sul da Capital, atinge 10% a 20% das mulheres, segundo a ginecologista Emanuelli Alvarenga Silva, do Hospital e Maternidade Beneficência Portuguesa de Santo André.

A doença é caracterizada pela presença de endométrio - tecido dentro do útero que se desprende durante a menstruação - fora da cavidade uterina. Atinge mulheres entre 13 e 40 anos. "Fatores como imunidade baixa, sedentarismo, alimentação inadequada e ansiedade contribuem para o aparecimento dos sintomas da doença. Entre os principais estão cólica menstrual de forma intensa, fluxo menstrual irregular, dificuldade para engravidar e alterações intestinais e urinárias no período de menstruação", explicou a ginecologista.

O que mais preocupa a especialista é que as mulheres procuram o ginecologista em estágio avançado da doença. "Muitas vão adiando a consulta e, quando chegam ao consultório, é porque não conseguem engravidar. Por conta disso, 40% a 50% das mulheres já chegam em estágio avançado e inférteis."

Emanuelli aconselha as mulheres a procurar o médico assim que começarem a perceber os sintomas. "O diagnóstico precoce proporciona um tratamento mais eficiente. Em alguns casos, após o tratamento ou retirada de todas as lesões, há possibilidades de a doença voltar, já que está ligada ao retorno da menstruação."

Brasil possui cerca de 100 serviços de reprodução humana

Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Artur Dzik, há cerca de 100 serviços de reprodução humana no País, mas a maior parte da população não tem acesso.

"Há poucos serviços públicos. Em São Paulo, casais fazem fila no Hospital Pérola Bayton. Serviços em escolas, como o da Faculdade de Medicina do ABC, que recebe pessoas de São Paulo, por exemplo, também são raros. E como há poucos serviços de baixo custo, o acesso dos pacientes é pequeno, porque os tratamentos custam caro", ressaltou.

De acordo com Dzik, são feitos aproximadamente 20 mil ciclos de tratamento de alta complexidade por ano - no caso, a técnica de fertilização in vitro. Ele afirma que não levantamentos que contabilizem o número de inseminações aritificiais.

"O número desejado de fertilizações in vitro por milhão está muito aquém do desejado. A média de países da Europa Ocidental é em torno de 1.500 ciclos por milhão, enquanto que no Brasil é de 50 ciclos. Mesmo que haja dez faculdades iguais à Medicina ABC, junto com o hospital, a demanda será reprimida.

Doações de sêmen devem crescer com nova estrutura

Com a inauguração do prédio do Centro de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina do ABC, o professor titular de Genética e Reprodução Humana Caio Patente Parente Barbosa acredita que o banco de sêmen da instituição de ensino terá tudo para aumentar. "Teremos mais salas de coleta de sêmen, Mas é preciso divulgar e conscientizar as pessoas da importância da doação."

Conforme reportagem publicada na quarta-feira, nasceu no dia 3 de julho a primeira criança gerada a partir do banco de sêmen da faculdade, criado em 2008. O próximo bebê deve nascer até o fim do mês.

Para a biomédica responsável pelo banco, Juliana Ornelas, a procura é grande, mas não há quantidade suficiente para atender à demanda. "Temos 12 amostras de doadores de esperma. Precisamos de biotipos diferentes das características comuns, como pele parda, olhos e cabelos castanhos."

Os interessados em doar devem ter entre 18 e 45 anos, não apresentar histórico de doenças hereditárias ou infectocontagiosas. É preciso concordar com o anonimato garantido pelo Conselho Federal de Medicina. A inscrição é gratuita pelo telefone 0800-770- 7045 ou pelo e-mail duvidas.rephumanas@fmabc.br. Para ajudar o receptor, o doador pode fazer uma descrição de sua personalidade.




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