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O rádio faz 100 anos
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
20/01/2001 | 15:59
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Com 100 anos de existência, o romântico rádio está preparado para ser o principal meio de comunicação do século XXI. Parece estranho, principalmente para quem aposta na vitalidade da Internet. Na verdade, a tecnologia não será problema, já que os dois – rádio e Internet – estão namorando há algum tempo. O que pesa, agora, é a experiência de ter vivido a fundo a interatividade, a segmentação e a agilidade, tudo que é necessário para gerar informação e entretenimento de boa qualidade.

Neste ano, comemora-se o centenário da primeira transmissão de som intercontinental realizada pelo invento do italiano Guilherme Marconi (1874-1973). Foi no dia 12 de setembro de 1901 que a mensagem saiu da Inglaterra, atravessou o Oceano Atlântico e, assombrando o mundo, chegou aos Estados Unidos. Oito anos depois o cientista recebeu o prêmio Nobel de física.

Mas o que não passava de apenas alguns sinais sonoros foi se aperfeiçoando – e a Primeira Guerra contribuiu muito para isso – até chegar ao rádio que conhecemos hoje. Um aparelho que, por meio de satélite, reproduz vozes, melodias e tem várias aplicações.

O apelido caixa de música, que já há tempo não se usa, perderá totalmente o sentido. Profissionais da área acreditam que o rádio perderá seu formato convencional ao se misturar, inevitavelmente, com novas tecnologias. “O rádio do século XXI é a comunicação auditiva. Ele vai se dissociar dessa caixinha quadrada e passará a ser propagado por computador”, antecipa o jornalista Heródoto Barbeiro, apresentador do Jornal da CBN, da rádio CBN.

Ao evocar a Internet, a pergunta a ser feita é: qual a vantagem de ouvir rádio diante de um computador? Mas não será bem assim, pois a Internet móvel já permite sua utilização no carro ou no telefone celular e, até, sob comando de voz. “Surgirão os portais de informação”, diz o radialista Rubens Palli, locutor da Nativa FM.

No entanto, esse estágio parece estar em um futuro um pouco distante no país. A próxima etapa seria, então, a utilização da banda digital. “Isso já é realidade no Japão e aqui já existem emissoras com equipamentos digitais aguardando a chegada desse sistema”, afirma Palli.

Para Heródoto, o Brasil saltará essa etapa digital. “O sistema por onda eletromagnética já deu o que tinha que dar”, acredita o jornalista. Na sua opinião, o salto seria direto para o modelo via Internet.

Essa forma voraz com que a rede mundial de computadores absorve tudo chega a assustar alguns profissionais. Waldemar Ciglioni, 82 anos, 65 dos quais dedicados ao rádio, adota o princípio de que “todo exagero é prejudicial” ao demonstrar sua preocupação com a quantidade de conteúdo: “Existe tanta informação na Internet que o indivíduo passa a ser apenas passivo. Ele não tem tempo para a criatividade”.

Veículo de massa – O rádio foi um invento revolucionário que provocou mudanças de comportamento, de informação e cultural durante o século XX. Cem anos depois, mesmo com o advento da TV e da Internet, sua personalidade continua forte e é, ainda, considerado o verdadeiro veículo de massa do Brasil. Suas características mais atraentes são a segmentação e a interatividade.

“Nos últimos cinco anos, o rádio aumentou sua audiência em 44%”, informa Antonio Rosa, presidente do GPR (Grupo dos Profissionais do Rádio), criado há dois anos com o objetivo de revitalizar o rádio. Outro número significativo é o crescimento em publicidade, que cresceu 27% em 1999, comparado ao ano anterior, segundo Rosa.

Entre os profissionais de rádio é difícil encontrar quem negue essa realidade. “Durante o dia, o rádio tem, quantitativamente, mais audiência que a TV”, afirma o jornalista Heródoto. O radialista Palli, por sua vez, destaca o maior alcance. “O rádio chega a lugares distantes que nem a TV aberta consegue atingir”, conclui.

Empatia – Mas uma importante causa de sua popularidade é, sem dúvida, a empatia com o ouvinte. “O rádio é um grande prestador de serviço e tem um sólido modelo de segmentação. O ouvinte não precisa se encaixar na grade da emissora, o que acontece é exatamente o contrário”, explica o presidente do GPR.

Um dos primeiros exemplos de segmentar (ou especializar) a programação ocorreu há mais de 60 anos e foi promovido pelo radialista Waldemar Ciglioni. “Criei o programa A Voz do Oriente, na Rádio Educadora Paulista, dedicado à colônia sírio-libanesa. Foi um dos crimes que cometi no rádio, pois esse tipo de música é terrível”, conta.

Hoje, diretor da rádio Mundial FM, Ciglioni comanda uma programação esotérica, mas que tem espaço para atrações dedicadas a comunidades. Desta vez não há crime: o Bella Itália, apresentado por Fábio Botto, traz a moderna música italiana para São Paulo, cidade com forte concentração de oriundos e seus descendentes.

Em termos de informação, a CBN foi pioneira em oferecer só notícias em FM. “Hoje temos mais ouvintes em FM que na AM. Outro detalhe é que, com essa mudança, nossa audiência tornou-se mais jovem e mais qualificada”, diz Heródoto.

Interativo – A proximidade entre rádio e público exige uma comunicação imediata. É aí que entra a interatividade, que já é utilizada via telefone, mas tende a se acentuar. “A interatividade é muito importante para a rádio do futuro e será facilitada pelo uso da Internet”, acredita Heródoto. Na Nativa FM, o ouvinte se manifesta por um veículo também antigo e eficiente. “Recebemos mensalmente 2 milhões de cartas”, diz o locutor da emissora.




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