A montagem procura ser fiel a Saramago. “A adaptação mantém a estrutura do livro e condensa seus nós dramáticos. O narrador é dividido em três personagens, o médico (Flavio Tolezani), sua mulher (Ana Paula Nero) e o velho (Bruno Guida), espécie de alter-ego do autor”, diz Rodrigues.
Uma por uma, as personagens ficam cegas. Trata-se de uma metáfora. “É uma cegueira branca, da razão. Por excesso de informações, as pessoas não conseguem mais discernir valores”, afirma o diretor.
O espetáculo, então, aborda questões como ética, amor e solidariedade. “São todos valores humanos, até mesmo como se manifestam comportamentos sexuais, sem que se julgue ou avalie nada. A peça se preocupa em deixar interrogações”, diz Rodrigues.
As personagens não pertencem ao mundo dos excluídos sociais. São trabalhadores – médico, escriturário, taxista, ajudante de farmácia. “A peça fala sobre as classes média e média-alta, formadoras de opinião que têm instrumentos para criarem uma massa crítica, mas não o fazem. A cegueira vira epidemia e a sociedade fica destruída”, afirma o diretor.
Rodrigues destaca também o conteúdo brechtiano da montagem: “Há uma ironia fina e cruel”. O trabalho com humor que se expressa nas situações inusitadas que permeiam a peça. “O primeiro cego não lamenta a cegueira, mas o roubo do carro. O que deveria ser uma tragédia transforma-se em uma tragicomédia”, diz.
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