Economia Titulo
Cheque volta mais para mercados
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
30/08/2005 | 08:38
Compartilhar notícia


O aumento da oferta de crédito e o prolongamento dos prazos de pagamento no varejo elevaram em 25,22% o volume de cheques devolvidos em supermercados nos primeiros sete meses do ano em comparação com igual período anterior. De acordo com a Telecheque – empresa especializada em concessão de crédito –, a cada cem cheques emitidos, 2,9 não foram pagos. Entre janeiro de julho de 2004, o índice foi de 2,32.

O alto índice de inadimplência no setor supermercadista é sintoma de recessão no comércio varejista, segundo Otacílio Santos, diretor da Telecheque. "O indicadores apontam para uma recessão branda, por enquanto. O consumidor está muito endividado e os juros continuam altos. Essa combinação de fatores força clientes a comprarem em parcelas, com pagamentos esticados", avalia.

Segundo ele, as empresas confiaram na queda dos juros no primeiro semestre, que não veio. "O custo de rolagem das dívidas é muito alto. Por isso, o consumidor acaba por comprometer mais do que deveria o orçamento mensal com pagamento de prestações", explica. "E pior: aqueles que se endividam ou perdem o crédito deixam de comprar. Isso é péssimo para o setor, e já começa a ficar evidente. A deflação no varejo supermercadista nos últimos meses é prova de que o consumo está em queda."

Para o vice-presidente da Telecheque, José Antônio Praxedes, grande parte da culpa pelos calotes em supermercados é resultado da estagnação da renda do trabalhador diante da explosão da oferta de crédito e do alongamento dos prazos de pagamento. "Os salários continuam os mesmos, e os juros no país muito elevados, fatores que obrigam o varejo a ampliar o número de parcelas para atenuar o impacto desse cenário negativo e manter as vendas. Quem não tem dinheiro no bolso para comprar à vista, entra no parcelamento. Isso justifica o aumento considerável da inadimplência", afirma Praxedes.

Diante da expansão do calote nos supermercados, empresários redobram a atenção para evitar perdas. O proprietário do Mercado Monções, em Santo André, Roberval Cordeiro, afirma que, em meio ao crescimento da inadimplência, tem incentivado a utilização de cartões de crédito. "Cheque está cada vez mais perigoso. Não aceito de ninguém que não seja de confiança. Infelizmente, temos que aprender a dizer não", diz o empresário, que chegou a perder 6% do faturamento total do mercado com cheques, há cerca de três anos.

Já o gerente da Docelar Supermercados, Valdo Nolasco, em Mauá, não revela números, mas afirma que a empresa adotou normas mais rígidas para a aceitação de cheques nesse primeiro semestre, ao notar o aumento da inadimplência. "Todas as oito lojas da rede estão mais criteriosas. Os cadastros têm sido feitos de forma minuciosa. Tudo para evitar o calote."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;