Há pelo menos dois anos, a Avenida Armando Ítalo Setti, em São Bernardo, é utilizada como estacionamento de carros apreendidos pela polícia. A equipe do Diário esteve no local ontem e constatou 13 veículos nestas condições, sendo que dois deles estavam severamente danificados. A polícia aponta superlotação no pátio terceirizado pela Prefeitura, que por sua vez alega que há aproximadamente 500 vagas disponíveis. Para os moradores, os transtornos são recorrentes.

Documentos afixados nos veículos mostram que alguns foram apreendidos há mais de dois meses. Há carros sem os vidros e enferrujando a céu aberto. Além de abrigar mendigos, as contínuas chuvas de verão tornam essas sucatas possíveis criadouros do mosquito transmissor da dengue.

A escassez de vagas disponíveis na avenida também prejudica o comércio da região. "Fica um pouco complicado para o comércio do bairro. Às vezes, alguém vem aqui e tem que colocar o carro quatro quadras acima", diz a dona de casa Solange Donadon.

Os moradores também sofrem com a falta de espaço. "A gente recebe visitas, e elas não têm onde estacionar", afirma a psicóloga Luciane Sanches, ao dizer que a situação já foi pior. "Teve épocas em que a nossa rua parecia um desmanche. A maioria dos carros, no entanto, foi retirada no ano passado. Mesmo assim, não deveria ter restado nenhum."

Segundo Luciane, os veículos estacionados acabam desvalorizando o local. "Estamos bem no Centro da cidade, isso não poderia acontecer em um bairro como esse. É algo bem desagradável", diz.

Outro problema que preocupa os moradores é a insegurança, apesar da proximidade com o 1º DP (Distrito Policial). "Algumas pessoas vêm aqui e levam o que sobra dos carros. Já vimos pessoas dentro dos veículos e nos sentimos ameaçados", diz a professora Renata Zentner.

FALTA DE VAGAS
O delegado titular do 1º DP, Victor Vasconcellos Lutti, afirma que não há para onde levar os carros. "Quando é possível, nós recolhemos os veículos com o guincho, mas nem sempre podemos mandá-los para o pátio, por causa da superlotação."

Segundo o delegado, existem dois pátios que recebem veículos apreendidos na cidade. Um está na Rua Capitão Casa e recebe veículos que cometeram faltas administrativas - como ausência de documentação ou não pagamento de IPVA. O outro, localizado na Rua Roberto Scarpelli Amedeo Bigucci, abriga os automóveis e motos que tiveram relação com algum crime.

"Esta delegacia é a segunda mais movimentada em todo o Estado de São Paulo. O acúmulo de serviços é muito grande", justifica Lutti. Em sua gestão, a delegacia conseguiu mapear e organizar o grande número de motocicletas apreendidas por seu DP, mas os carros são maiores e precisam de mais espaço, diz ele. "A cidade precisaria de pelo menos mais 1.000 vagas para sanar o problema", estima.

A Prefeitura informou que os veículos apreendidos pela Polícia Civil são de responsabilidade do Estado, e que está em vias de celebrar um convênio com o governo de São Paulo para a criação de um pátio unificado. "A partir disso, a administração poderá acomodar os veículos apreendidos."