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Valet barbariza com carros dos outros
Evaldo Novelini e Willian Novaes
27/05/2011 | 07:40
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A falta de respeito dos ‘profissionais' que são pagos - e bem pagos - para cuidar do seu veículo em um pequeno período de lazer e descanso é absurda. Os manobristas dos valets em Santo André pisam fundo no acelerador, passam por semáforos vermelhos, enchem o carro de estranhos, atrapalham o trânsito, cometem barbeiragem e ainda estacionam na rua.

A sensação de impotência é gigantesca. Na noite em que a equipe do Diário percorreu o principal ponto de encontro de Santo André, a Rua das Figueiras, presenciou, observou, gravou e fotografou de tudo com os automóveis que deveriam apenas ficar parados em um estacionamento.

A reportagem flagrou desde o momento em que um manobrista furou um farol fechado com o carro da equipe até a cara de pau dos recepcionistas confirmando que os automóveis seriam guardados em estacionamento. As sensações de descaso e impotência aumentam a cada ato dessa verdadeira máfia que impera nas ruas.

Depois de seguir alguns outros carros, a reportagem constatava o mesmo fim. O veículo ficava parado na porta de empresas, residências e até imobiliárias ou em algum trecho demarcado da via. Em um ‘estacionamento a céu aberto', a segurança era feita por três homens que mandavam e coordenavam o sobe e desce dos veículos na Rua Almirante Protogenes.

Essas mesmas três pessoas utilizavam radiotransmissores para despachar os veículos ‘guardados' em vias públicas. O preço parece que é tabelado. R$ 15. Um recepcionista confirmou que um dono era o responsável pelo serviço de valets em seis casas noturnas na região: "Por isso não tem como dar desconto. O patrão comanda tudo".

Nas primeiras horas da noite os carros até que são guardados nos poucos estacionamentos das proximidades. Com o aumento do movimento nas baladas, no entanto, as ruas tornam-se os destinos dos veículos. Só um item continua idêntico: o preço do serviço. Além do descaso na hora do rush com o trânsito. Os carros parados são estacionados em filas duplas nas portas dos bares.

Quem reclama recebe um palavrão de bate-pronto. Com cara de poucos amigos, os manobristas fingem não ouvir as queixas dos proprietários e chegam a demorar dez minutos para entregar os veículos de volta.

Em três oportunidades os veículos da reportagem rodaram 700, 800 e 1.200 metros. Sendo que havia ao menos um estacionamento legalizado ao lado, a não mais que 50 metros de distância. Mas os carros desceram, subiram morros, deram voltas desnecessárias até parar em via pública. Na Avenida Prestes Maia, mesmo fora da rota dos estacionamentos, alguns deles trafegaram muito acima dos 60 km/h permitidos.

Na hora do pico, em um serviço de valets que serve tanto a uma casa de pagode quanto a uma ‘crepperia', os manobristas aceleravam os carros dos clientes assim que dobravam a esquina, passavam em buracos e valetas sem qualquer cuidado e ainda paravam para trazer de volta os colegas que tinham levado outros automóveis.

Com o início da madrugada os carros são guardados novamente em estacionamentos. Nessa hora são poucos os clientes chegando aos bares e muitos os que estão indo embora. Sem ter a mínima ideia das aventuras que o seu veículo enfrentou nas últimas horas.

 

 

 

Prefeitura garante que fiscaliza abusos cometidos no trânsito

 

A realidade nas ruas é muito diferente da que a Prefeitura de Santo André informou ao Diário sobre os valets. A administração municipal alegou que em todos os fins de semana, os funcionários do Departamento de Segurança de Trânsito realizam fiscalização para coibir o desrespeito às normas do tráfego.

A equipe não registrou nenhuma viatura ou fiscal do DST em ação. Mas sim confusões no trânsito nas imediações da Rua das Figueiras, no bairro Jardim. A Prefeitura disse que os serviços dos funcionários públicos têm a finalidade de evitar fila dupla, estacionamento proibido e também cones nas vias.

Pelo menos no momento da reportagem, isso não ocorreu. Havia carros parados nas calçadas, em filas duplas e objetos demarcando as vagas em frente de estabelecimentos. O governo informou que, apenas nas Figueiras, emitiu 5.032 multas de trânsito neste ano, mas não especificou quantas delas foram decorrentes de serviços de valet mal prestados.

A forma de atuação dos valets se repete. Os recepcionistas ficam em uma bancada pequena com um toldo de plástico, com cones para demarcar que ali é ‘proibido' estacionar. O espaço serve como desembarque. Ao parar ali para esperar alguém que esteja saindo, os funcionários informam para ser rápido.

 

NOTA FISCAL

Outro problema é a falta de nota fiscal. A equipe do Diário conseguiu apenas recibos, sem valor fiscal. Os funcionários dos valets disseram que o documento estava em falta. No primeiro momento, fecharam a cara e perguntaram se o cliente precisaria mesmo. Com a resposta positiva, foram até outra bancada e, após alguns minutos, retornaram com o mesmo papel: "Só temos esse aqui; fique com ele. Nunca vi ninguém pedir recibo na saída da balada".

A Prefeitura citou que o Procon trabalha na fiscalização das informações das placas e exige mudanças dos prestadores de serviços quando o serviço não atende às exigências do Código do Consumidor. A Polícia Militar não respondeu ao Diário.

 

 

Bares são corresponsáveis por cobrir eventual dano ao veículo

 

Os bares que se utilizam dos serviços de valets, mesmo que terceirizados, são corresponsáveis pelos eventuais danos causados aos automóveis que são, irregularmente, estacionados nas ruas. A afirmação é da diretora do Procon de Santo André, Ana Paula Satcheki.

Diante de uma ocorrência, o dono do carro deve exigir ressarcimento da empresa do valet e do estabelecimento que ele frequentava no momento. "A responsabilidade é dividida", garante a diretora do serviço de proteção ao consumidor em Santo André.

Ana Paula ressalta que é importante para o motorista exigir e conservar o recibo do serviço de valet. Ele serve como prova para a abertura de uma ação de ressarcimento de danos no Procon. Por isso, o documento deve trazer a data e os horários de entrega e retirada dos veículos. Também se trata de medida de segurança para o proprietário recorrer de eventuais multas, comprovando que, no momento da infração, ele não estava dirigindo o veículo.

Lei municipal sancionada pelo então prefeito João Avamileno (PT), em 21 de abril de 2004, proíbe que o serviço de valet utilize via pública para deixar veículos.

A mesma legislação obriga o explorador dos serviços a possuir local adequado e seguro para o estacionamento dos veículos, a apresentar relatório técnico de impacto causado na vizinhança pela atividade e a celebrar seguro para a cobertura de incêndio, furto, roubo e colisão.

A lei também informa que, se o estacionamento utilizado ficar em endereço diferente do de onde o serviço é contratado pelo motorista, a empresa de valet deve celebrar um seguro para o percurso.

 

MULTAS

Os serviços de valets que descumprirem a lei devem ser notificados para corrigir as falhas em 30 dias. Caso não se enquadrem nesse período, são multados em R$ 721,02 (equivalentes a 300 unidades do Fator Monetário Padrão). Na reincidência, o valor dobra. A pena máxima, caso o prestador insista em desrespeitar a legislação, é o fechamento da empresa.




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