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Famílias lutam por bolsa de estudos integral para autistas
Natália Scarabotto
Especial para o Diário
07/07/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Famílias de estudantes e ex-estudantes autistas da Escola Gapi, em São Bernardo, especializada no Ensino Infantil e Fundamental de crianças com autismo, têm passado dificuldades desde janeiro, quando as bolsas de estudo integrais, financiadas pelo Estado por meio de ação civil pública, foram cortadas.

“É uma situação humilhante. Meu filho está sem ir para a escola há seis meses e não posso trabalhar porque não tenho com quem deixá-lo”, afirma Adelaide Romero, 35 anos, mãe de Júlio César, 7, que tem autismo e retardo mental.

O caso começou no ano passado, quando a Gapi anunciou o corte das bolsas de estudo em período integral de 40 alunos beneficiados. Na época, o MP (Ministério Público) de São Bernardo, por meio da 2ª Promotoria de Justiça Cível, instaurou inquérito para apurar o corte das bolsas. De acordo com o MP, o inquérito foi arquivado e o promotor não deu mais detalhes sobre o caso.

Para o início deste ano letivo, as famílias tiveram que se adaptar. Adelaide decidiu retirar o filho da instituição e entrou com processo na Justiça para conseguir outra escola. “Desde outubro estava correndo e só saiu o resultado no dia 17 de junho. Tinha solicitado bolsa integral em um colégio em São Paulo e ganhei em primeira instância, mas recorreram para conseguir uma escola aqui no Grande ABC. Eu mesma já liguei nas seis escolas daqui e todas estão lotadas.”

Durante esses meses sem frequentar as aulas, a mãe afirma que Júlio César regrediu no tratamento. “Está mais agitado e agressivo, até se autoagredindo. Por conta disso, tivemos que aumentar a dosagem dos remédios.”

Já Ana Paula Brasil, 35, acabou por aceitar as novas condições. O filho Vitor Gabriel, 11, que tem autismo grave não-verbal, passou a frequentar o período integral apenas uma vez por semana. “Ele sentiu muito essa mudança de rotina. Agora estuda à tarde mas, todos os dias, acorda às 5:50, pega a mochila e vai para o portão e eu tenho que explicar que não está na hora ainda.”

Para suprir a falta do período integral, Vitor Gabriel tem se consultado com especialistas do convênio médico, mas não é eficaz. “Eles sempre falam que não conseguem fazer um tratamento contínuo porque não são especializados nisso”, afirma Ana Paula. Ela destaca ainda a importância que a escola teve para o filho. “Ele aprendeu a comer sozinho, a pegar uma bolacha e a entender e obedecer comandos que damos. Então, sem essa rotina, ele fica mais hiperativo e nem sempre consigo ter controle sobre ele porque não sou especialista.”

O Estado de São Paulo tem a obrigatoriedade, por meio de sentença de ação civil pública, de oferecer ensino pedagógico a autistas em instituições especializadas. Na falta desses locais, deve realizar convênios com instituições que forneçam tal atendimento, como a Gapi.

A Secretária da Educação do Estado de São Paulo informou, por meio de nota, que não houve interrupção no repasse de verba para o custeio desses alunos. E que a Escola Gapi é responsável por definir que tipo de atendimento cada criança precisa receber.

Por estar em período de férias, o Diário não conseguiu conversar com os responsáveis pela instituição de ensino especializada até o fechamento desta edição. 




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