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Tráfico de armas abastece o crime no Grande ABC
Delmar Marques
Da Redaçao
22/05/1999 | 18:30
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As estatísticas dos distritos policiais dos sete municípios do Grande ABC mostram que, no primeiro trimestre deste ano, foram registradas 33 mil ocorrências de crimes contra a pessoa e o patrimônio, e em pelo menos um terço dessas ocorrências foram usadas armas de fogo. Isso significa que, a cada dia, 122 armas - revólveres, pistolas, fuzis e metralhadoras - sao apontadas para pessoas que estao sendo assaltadas na regiao. Além dessas, mais dez sao apreendidas por dia.

Os números permitem estimar que o tráfico ilegal de armas no Grande ABC conta com um mercado anual de, no mínimo, US$ 45 milhoes, o que equivale ao orçamento da Prefeitura de Ribeirao Pires para este ano.

O cálculo é do representante da ANPCA (Associaçao Nacional de Proprietários e Comerciantes de Armas) em Sao Paulo, Luiz Afonso Santos, 52 anos, empresário do setor metalúrgico em Diadema. Segundo ele, o preço da arma mais comum, os fuzis Colt AR-15, muito usados por assaltantes de bancos, é de US$ 3 mil no mercado negro. Uma pistola 45 sai por US$ 1,2 mil, e uma 9mm por US$ 1 mil. Uma minimetralhadora Uzi modelo Cobra pode ser comprada por US$ 2,5 mil, e por US$ 800 um marginal compra facilmente um 380.

"O preço médio de uma arma contrabandeada fica em torno de US$ 1 mil, e uma projeçao do volume de armamento envolvido em homicídios e assaltos na regiao indica que esse mercado gira anualmente com algo em torno de 45 mil unidades", conclui Santos.

"É uma estimativa arrojada, mas nao muito longe da realidade", disse o delegado da Seccional de Polícia de Sao Bernardo, Pedro Liberal. Segundo o delegado, a oferta de armas é farta e variada, ao alcance dos bolsos de assaltantes, que nao têm dificuldades para conseguir o dinheiro por meio do roubo de um carro ou de uma casa comercial.

Nenhuma autoridade policial da regiao entrevistada pelo Diário recordou da prisao de um único traficante de armas no Grande ABC nos últimos cinco anos. A raridade contrasta com o roubo de 85 carros ao dia nos sete municípios por ladroes armados, enquanto há registro de apenas uma arma roubada diariamente.

Os números também revelam que, nos últimos 12 meses encerrados em março, 3.076 armas foram apreendidas na regiao, um crescimento de 53,26% em relaçao ao volume de armas apreendidas nos 12 meses imediatamente anteriores. Como a polícia consegue apreender apenas 1% das armas em circulaçao entre os bandidos, segundo estimativa das próprias autoridades, descobre-se que o mercado de armamentos clandestinos cresce num ritmo que nao encontra paralelo em nenhum outro setor da economia.

Se o registro de armas roubadas tem como média uma arma ao dia, de onde surgem as outras 121 usadas diariamente nos crimes cometidos no Grande ABC? "Só podem vir do tráfico, do contrabando", admite o comandante da PM no Grande ABC, coronel Roberto José Nogueira.




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