O escritor francês Alexandre Dumas (1824-1895), autor da obra-prima A Dama das Camélias, cunhou frase enigmática: “Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão”. Impossível não se lembrar dela no dia em que a Billings completa 91 anos, em pleno domingo de Páscoa. Responsável por evitar o colapso hídrico que poderia deixar secas as torneiras da Região Metropolitana de São Paulo, a represa ganha apenas descaso por ocasião da data que deveria ser festiva.

Há menos de um mês, em 7 de março, a importância estratégica da Billings foi destacada pelo presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Jerson Kelman, que utilizou as páginas deste Diário para anunciar aos paulistas o fim da crise hídrica – novidade ratificada no dia seguinte pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) aos demais veículos de comunicação do País.

Transformado em protagonista enquanto era a única alternativa para matar a sede dos paulistas, o reservatório não pode ser relegado a papel coadjuvante logo que outras fontes de abastecimento retomam suas capacidades. O Grande ABC precisa aproveitar o momento para cobrar das autoridades planos de recuperação da qualidade das águas da Billings e a preservação de sua várzea.

A ocupação irregular e o despejo de esgoto in natura em suas águas têm condenado a sustentabilidade da represa. Professor universitário interessado no tema, Ricardo de Sousa Moretti estimula a reflexão: “A Billings foi fundamental para o fim da crise hídrica no Estado, mas será que futuramente, se ela continuar sem investimento, conseguirá dar suporte?” Eis questionamento que deve ecoar pelos escritórios e mesas ocupadas pelas autoridades estaduais e municipais responsáveis pelo planejamento estratégico de longo prazo.

A Billings, uma respeitável senhora de 91 anos, não hesitou em dar a sua contribuição para manter a água nas torneiras dos paulistas durante a pior estiagem dos últimos 80 anos. Estará pronta para repetir o sacrifício, caso necessário, se o desprezo continuar?