Pesquisas de opinião pública registram descontentamento cada vez maior do brasileiro com a política. A representatividade enfrenta grave crise, o que é extremamente perigoso para a democracia. Quando os cidadãos deixam de crer que há pessoas capazes de falar por eles nas instituições constituídas, abre-se fosso de legitimidade que pode descambar em regime de exceção. Boa parcela da responsabilidade pelo desencanto generalizado da população deve ser atribuída à falta de bom-senso de alguns políticos. Como o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT).

Em plena crise econômica, que tem obrigado o gestor a rever investimentos em projetos e a diminuir o passo em programas sociais, o petista achou por bem enviar à Câmara texto em que reajusta o próprio salário em 19,61%, com direito à retroatividade a março. Com isso, se os vereadores endossarem o pleito, passará a ganhar mensalmente R$ 30.620 – mais do que o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que recebe R$ 21.631.

Enquanto os vereadores de oposição chiam, com razão, os governistas lembram que Marinho age de acordo com a legislação em vigor e defendem que ele é tão servidor público quanto os demais, que tiveram direito a aumento idêntico. Quanto a essas argumentações, nenhuma reparação. Mas o prefeito poderia se espelhar em outras lideranças políticas do País, inclusive na correligionária que ocupa o Palácio do Planalto, e abrir mão do reajuste salarial como sinal de que compreende o difícil momento enfrentado pelo País.

A presidente Dilma Rousseff (PT), em esforço para diminuir os gastos públicos, mandou para o Congresso proposta que reduz seu próprio salário em 10%, dos atuais R$ 30.934,70 para R$ 27.841,23. O projeto já foi aprovado na Câmara e deve ser ratificado no Senado. Pode-se argumentar que a chefe da Nação faz pouco para o que se espera dela para repor o País nos trilhos do crescimento. É verdade – e ela deve ser cobrada por isso. Mas nada como um aceno para reacender as esperanças. Algo que Marinho não faz.