Nacional Titulo
Vazamento de óleo pode destruir ciclo de vida por 20 anos
Do Diário do Grande ABC
22/01/2000 | 13:58
Compartilhar notícia


O saldo real do vazamento de 1,3 milhao de litros de óleo na Baía de Guanabara para o meio ambiente pode demorar até uma geraçao para ser conhecido: contaminada pelo vazamento da terça-feira no duto da Petrobras, a fauna da orla do mangue - um verdadeiro berçário da natureza - está condenada, em alguns casos, a até 20 anos de luta pela recuperaçao. Segundo biólogos que visitaram a Area de Proteçao Ambiental (APA) de Guapimirim (Regiao Metropolitana) - o maior trecho de preservaçao permanente do estado, com 80 quilômetros quadrados -, o óleo já cobriu mudas e raízes aéreas de mangue, destruindo boa parte da vegetaçao.

Para demonstrar o tamanho do estrago, especialistas comparam o manguezal a um supermercado da natureza. Nele, acumulam-se folhas, frutos e sementes que caem das árvores e se depositam na lama. ``Ali microalgas e larvas de peixes e crustáceos se alimentam e enriquecem a biodiversidade', diz o ambientalista Sérgio Ricardo de Lima. Na flora, o impacto da poluiçao pode durar até uma década - tempo médio para reconstituir a vegetaçao de forma induzida, ou seja, com replantio.

Asfixia - O óleo também já começa a alterar o ciclo de reproduçao das aves. O produto provoca o ressecamento das asas, asfixia os filhotes e deixa os pássaros estridentes, agonizando até a morte. O cheiro forte também intoxica. ``É uma invasao ao berçário do ambiente costeiro que destrói toda parte de plâncton (microorganismos vegetais e animais)', informa o biólogo Osny Pereira Filho, presidente do Grupo Mundo da Lama, ONG que atua com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo Osny, quando o óleo gruda, resseca as asas das garças, socós, biguás e mergulhoes provocando também uma infecçao cutânea. Uma bomba de efeito retardado. ``Recuperar o meio ambiente para essas espécies requer um trabalho árduo. É preciso limpar, descontaminar e replantar o mangue para que elas continuem sobrevivendo. Só com o tempo as pessoas vao perceber a perda sócio-econômica e ecológica desta tragédia', avalia.

Prazos - De acordo com o engenheiro químico industrial e coordenador de campanha do Greenpeace Internacional, Marcelo Furtado, a recuperaçao do manguezal de Guapimirim, atingido numa área de 1,5 mil hectares até sexta-feira, pode levar de 5 a 20 anos. Para salvar algumas aves e caranguejos, Marcelo foi para o mangue lavar dos animais o excesso de óleo. Para muitos, a ajuda chegou tarde. ``Vi muitos caranguejos e pássaros morrendo antes de serem tratados', lamenta. ``O efeito contaminante nesse ecossistema frágil foi letal', diz. Por pelo menos seis meses, caranguejos, camaroes, siris, moluscos e peixes nao serao consumidos.

Para o biólogo Mário Moscatelli, a destruiçao da fauna e da flora nao tem preço. ``Os esforços de tantas pessoas pela preservaçao do meio ambiente foram jogados fora em minutos', protesta. O oceanógrafo David Zee, professor do Departamento de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), teme outra conseqüência: a decantaçao do óleo nas profundezas. ``Se nao correrem com a limpeza, isso pode acontecer nos próximos dez dias e afetar as fauna e flora bentônica, matando mais mexilhoes, moluscos, crustáceos e algas'.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;