Setecidades Titulo Santo André
Familiares acusam clínica de estética de negligência

Paciente teve complicações após três cirurgias realizadas no mesmo dia e família reclama da falta de médico para socorrê-la

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
10/03/2016 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


O supervisor de vendas Paulo Cesar Moreira, 42 anos, não se conforma com a perda da mulher Katia Cilene Lucas Moreira, 42 anos, que morreu no dia 27 após complicações pós-operatórias na clínica particular Luiz Anchieta, localizada no Parque das Nações, em Santo André. Ela foi submetida a cirurgia múltipla de abdominoplastia, remoção de útero e implante de silicone nos seios. A indignação de Moreira se dá pela ausência de médico na clínica quando sua mulher passou mal. Ele precisou acionar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Dois anos atrás, Katia foi submetida à cirurgia bariátrica, surgindo a necessidade de fazer remoção da pele em excesso e correção nos seios. A dona de casa, que morava em Praia Grande, no Litoral, chegou à clínica por indicação de uma prima do marido. A unidade atende as especialidades de ginecologia, obstetrícia, mastologia, além de estética corporal e facial. “Pesquisamos que tinha um hospital com UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Era a segurança que precisávamos”, contou Moreira.

Vários exames foram pedidos à paciente para avaliar suas condições de saúde. Como Katia tinha mioma e precisava de cirurgia para retirar o útero, o médico e proprietário da clínica, Luiz Anchieta, teria dito que poderia realizar o procedimento junto aos outros dois, pois seu estado de saúde era bom. O valor ficou em R$ 17,3 mil, com desconto.

Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Dênis Calazans, a associação de múltiplos procedimentos médicos em um único ato cirúrgico “deve ter uma análise muito pontual, personalíssima.”

Os procedimentos foram realizados no dia 25. No dia 26, quando já poderia retornar para casa, Katia começou a se sentir mal. Ao tentar caminhar à pedido de um enfermeiro, desmaiou. “Pedi três vezes para o enfermeiro chamar o médico e ele disse que estava chegando. O enfermeiro veio com um equipamento de oxigênio e estava tão nervoso que eu mesmo tive que ligar”, disse Moreira. “Chamei o Samu e, assim que a ambulância veio, o médico (Luiz Anchieta) chegou uns dois minutos depois.”

Katia foi encaminhada ao Hospital Doutor Christóvão da Gama, onde morreu no dia 27. A família aguarda laudo do IML (Instituto Médico-Legal) para saber a causa da morte. O resultado tem prazo de 15 dias úteis para sair. “A falta de atendimento da clínica foi o problema. Se tem UTI, porque não tem médico?”, questiona o marido, que levou o caso ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). O órgão informou que está instaurando sindicância para apurar os fatos .

A Prefeitura de Santo André disse que a Vigilância Sanitária foi informada do caso “e tomará as medidas cabíveis.”

O Diário procurou o proprietário da clínica, Luiz Anchieta, mas quem se pronunciou foi o administrador da unidade, José Roberto Persiani. Segundo ele, desde o começo Katia estava decidida a realizar os três procedimentos. “O risco de se fazer um ou mais no mesmo dia vai depender do tempo total da cirurgia e, neste caso, o tempo cirúrgico foi de aproximadamente três horas, considerado baixo”, falou. Segundo ele, o Samu foi chamado pela própria clínica.

“A paciente Katia, após caminhar com acompanhamento do enfermeiro, rotina normal para pós-operatório, retornou ao leito e teve um mal súbito. Imediatamente, a equipe médica foi acionada, a paciente foi monitorada e assistida adequadamente. Devido à gravidade do quadro, acionamos nosso serviço de resgate, juntamente com o Samu, para remoção”, afirmou.

O médico Luiz Anchieta foi ao hospital e, de acordo com Persiani, foi realizado exame de ultrassonografia abdominal para detectar se havia alguma hemorragia decorrente da cirurgia, o que foi descartado pelo médico de plantão. “Após o exame, decidiu-se encaminhá-la para realização de uma tomografia contrastada, visto que passou-se a suspeitar de uma embolia pulmonar. Há suspeita de tromboembolia pulmonar maciça, que deverá ser confirmada após realização da necrópsia”, declarou. “No hospital, o doutor Luiz conversou com o marido da paciente e colocou-se à disposição para qualquer ajuda ou esclarecimento que se fizesse necessário”, garantiu Persiani.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;