É incomum apontar favorito em semifinal de Copa do Mundo. Os retrospectos de Holanda e Uruguai, no entanto, abrem precedentes. Imbatíveis há 24 jogos - um ano e nove meses -, os holandeses têm a responsabilidade de seguir no Mundial, ainda mais depois de despachar o Brasil. Já os uruguaios estão com sensação de dever cumprido, depois da dramática classificação contra Gana. Porém, na Copa em que a zebra virou protagonista, favoritismo é mero palpite. O duelo acontece às 15h30 (de Brasília), no Green Point, na Cidade do Cabo.

É justamente contra a euforia que o técnico holandês Bert van Marwijk trabalha. Ele sabe que precisa mudar o foco e valorizar a força do adversário para evitar surpresa. Afinal, a Holanda está vacinada desde a Euro de 2008, quando venceu França e Itália, mas foi eliminada pela Rússia. "Sabemos como funciona. A euforia é grande, mas não podemos entrar neste jogo. O Uruguai é muito perigoso, conta com jogadores experientes e será um grande rival", aposta o treinador, que foi o único a vencer os cinco jogos que disputou.

EMMas nem tudo são flores na Holanda. O volante De Jong e o lateral-direito Van der Wiel estão suspensos e serão substituídos por De Zeeuw e Boulahrouz, respectivamente. Já o atacante Van Persie se recuperou de dores no cotovelo e joga, assim como o zagueiro Mathijsen, que está livre de incômodo no joelho.

No Uruguai, o técnico Oscar Tabarez resolveu adotar discurso longe do convencional. Exageradamente modesto, o treinador parece se fingir de morto para dar o bote fatal. "Somos os mais fracos. Não jogamos futebol brilhante até agora", analisa, jogando a responsabilidade para o rival. "É como se estivéssemos numa festa para a qual não fomos convidados, mas temos o direito de participar", completa.

Por enquanto, Tabarez tem três desfalques: o atacante Luis Suarez e o lateral-esquerdo Fucile estão suspensos, enquanto o meia Lodeiro sofre com fissura no pé. Já o zagueiro Lugano luta para se recuperar de torção no joelho direito e segue como dúvida. Se não puder jogar, Scotti entra em seu lugar, enquanto Cáceres deve ocupar lugar na lateral. No meio, Gargano ganha vaga com Forlán sendo escalado no ataque ao lado de Cavani.

Favoritismo à parte, Holanda e Uruguai querem resgatar conquistas históricas. A Laranja Mecânica sonha reviver uma decisão depois de 32 anos - foi finalista em 1974 e 1978, ficando com o vice nas duas ocasiões. Já a Celeste quer ter a chance de repetir o título de 1930 ou o Maracanazzo de 1950, quando também era coadjuvante e superou o favorito Brasil na final.

Esperanças nos pés de Sneijder e Forlán

A classificação de Holanda ou Uruguai para a final da Copa passa, necessariamente, pelos pés dos craques Sneijder e Forlán. Cérebros das seleções, os jogadores ditam o ritmo e parecem predestinados a brilhar em um Mundial no qual as grandes estrelas sucumbiram. Hoje, eles podem escrever mais um importante capítulo na história.

Jogando como um típico meia, Sneijder tem a responsabilidade de municiar os três atacantes holandeses: Kuyt, Robben e Van Persie. Mesmo mais longe do gol, seus chutes têm feito a diferença. Contra o Brasil, no entanto, foi o cabeceio que resolveu. "Foi meu primeiro gol de cabeça, dificilmente vai acontecer novamente", prevê.

Sempre tranquilo, ontem, na véspera do jogo contra o Uruguai, Sneijder se meteu em grande polêmica ao comparar o técnico da Holanda, Bert van Marwijk com o brasileiro Dunga e o argentino Maradona. "É agradável ter alguém no comando que transmite tranquilidade e não pânico. Mesmo com a desvantagem diante do Brasil, nosso técnico se manteve calmo. Prefiro um treinador como Van Marwijk ao lado do campo a idiotas como Maradona e Dunga", cutucou.

Horas depois, a assessoria de imprensa do jogador, temendo a repercussão da declaração, tratou de negar as palavras do meia. "Sneijder não falou a palavra idiota. Ele só disse que Dunga e Maradona são diferentes do seu treinador Bert van Marwijk", explicou em nota oficial.

Se Sneijder é importante para a Holanda, imagine Forlán para o Uruguai. O meia-atacante marcou três dos sete gols da Celeste na Copa, além de ter recebido três premiações da Fifa como melhor homem em campo. Hoje, um pouco mais adiantado, Forlán terá a responsabilidade de marcar e classificar o Uruguai para a final.

 "Vai ser um jogo complicado porque a Holanda tem grandes jogadores. Mas nosso time está preparado para superar mais essa dificuldade", garante o atleta do Atlético de Madrid.

Forlán, aliás, será marcado por pelo amigo Heitinga, seu companheiro de clube. Os dois trocaram mensagem por celular apimentando o confronto. "A partida vai ser um inferno, Diego", foi o que escreveu o zagueiro ao craque uruguaio. "Ele é bom com ambos os pés e é muito difícil prever o que vai fazer. Não pode dar tempo para concluir a gol, mesmo de longa distância, porque ele possui um dos mais precisos chutes do planeta. Ele é Deus, tanto em Madri quando no Uruguai", confessa o zagueiro holandês.

Pressão de Cruyff por futebol bonito não abala holandeses

O histórico de grandes atuações continua tirando o sono do técnico holandês Bert van Marwijk. Mesmo com grande campanha na Copa, o eterno ídolo Cruyff declarou nos últimos dias estar decepcionado com a perda da da identidade do futebol holandês que ficou pragmático. A pressão, no entanto, parece não abalar.

 "Respeito muito a geração de Cruyff, mas não quero fazer comparações. São situações e épocas diferentes. Além disso, não chegamos à final. Temos que passar pela semifinal primeiro", declara o treinador. "Nós queremos ganhar jogando bonito e trabalhamos para isso, mas também ficaremos felizes se vencermos de outra forma, já que, no passado, nós encantamos e ficamos sem títulos", completa o capitão Van Bronckhorst.