Encerrados na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) desde que foram finalizados, os murais 'Guerra' e 'Paz', de Cândido Portinari (1903-1962), voltam em exposição que abre hoje no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Pintados sob encomenda a pedido do governo brasileiro para presentear a organização, os paineis de aproximadamente 14 m x 10 m cada eram um apelo mais que necessário para o período em que ainda estavam frescos nas memórias coletivas dos horrores impingidos pela 2ª Guerra Mundial.

De um lado, o azul-marinho domina a cena dos horrores, com rostos tristes que lamentam a morte, clamam aos céus pelo fim dos genocídios e feras soltas a tocar terror ao povo. As vítimas estão representadas. Do outro, simbolizando a paz, trabalhadores e crianças vivem a vida que lhes cabe da melhor maneira que podem. Tons de verde são predominantes no mais esperançoso dos painéis.

A confecção do projeto foi uma batalha para o artista brasileiro. Proibido de pintar por conta de intoxicação pelas tintas, Portinari aceitou a missão que só deu cabo depois de quatro anos de trabalho que envolveram esboços e maquetes.

Cerca de 80 estudos dos mais de 200 que ele preparou para compor os murais também estarão na mostra. São trabalhos feitos em técnicas como guache, grafite e lápis de cor, onde Portinari faz o treino das representações que levou às telas. Nunca este material esteve reunido, já que o artista os criava e vendia.

A guerra de Portinari, tanto contra sua saúde quanto pela paz, apesar de ter legado à humanidade um patrimônio artístico de valor incalculável, não lhe deu todas as honras merecidas. Proibido de ir na cerimônia de inauguração dos murais na ONU por causa de sua aproximação com o Partido Comunista, o artista foi representado pelo embaixador Cyro de Freitas-Valle.

RESTAURO
O responsável por trazer as obras ao Brasil é João Candido Portinari, filho do pintor, que dirige a Fundação Portinari. Os dois murais ficaram expostos no Rio de Janeiro durante quatro meses enquanto passavam por restauração em ateliê aberto. Na sede da ONU eles ocupam posição em frente a uma janela desde 1957 e perderam, nessas décadas, um pouco da vivacidade e das cores originais. Sabendo da reforma do espaço, o filho lutou para conseguir a liberação dos painéis, que depois de São Paulo percorrerão o mundo, indo a locais como Hiroshima, um dos principais palcos de representação da estupidez e violência humanas.

Guerra e Paz - Exposição. No Memorial da América Latina - Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, São Paulo. A partir de hoje, de terça a domingo, das 9h às 18h. Grátis. Até 21 de abril.