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MEC busca diálogo com empresa e escola

Intuito é adequar cursos técnicos à demanda e facilitar ingresso de jovens no mercado de trabalho

Nelson Donato
Especial para o Diário
03/03/2016 | 07:16
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Denis Maciel/DGABC


Em tempos de crise, quando o ritmo de demissões é crescente, o mercado de trabalho transforma-se em ambiente hostil. A situação fica um pouco mais complicada para pessoas que possuem pouca ou nenhuma experiência e estão em busca de oportunidade. Nesse cenário desfavorável, um dos principais objetivos do MEC (Ministério da Educação) é estreitar a relação entre instituições de ensino profissionalizantes e empresas. Com isso, as demandas das corporações seriam ouvidas e, consequentemente, haveria mais alunos capacitados para suprir tais necessidades.

O tema foi levada discussão durante o primeiro dia do seminário Educação e Trabalho: Uma Articulação Possível, organizado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, e que continuará hoje, no Auditório Sigma da Universidade Metodista de São Paulo, situado à Rua Alfeu Tavares, 149, no Rudge Ramos, em São Bernardo.

De acordo com o diretor de desenvolvimento da rede federal de educação profissional e tecnologia do MEC, Luciano Oliveira Toledo, as instituições das redes federais, estaduais e municipais já disponibilizam seus cursos conforme a demanda do mercado. “O que queremos a partir de agora é fortalecer a integração entre os formadores e os setores produtivos. O ministério (da Educação) quer investir nesses diálogos e melhorar esta relação.”

Toledo destaca a importância do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego), que desde 2011, segundo ele, já ajudou milhares de jovens e adultos que não tinham o preparo adequado a ingressarem no mercado de trabalho. “É importante também aliar a educação profissional à EJA (Educação de Jovens e Adultos), que hoje tem um índice de conclusão muito baixo. A partir do momento em que o estudante sentir que está sendo preparado para trabalhar e de que haverá uma continuidade na sua instrução, a tendência é aumentar o número de pessoas que concluem o Ensino Médio.”

No Brasil, apenas 20% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso ao Ensino Superior. Este dado ressalta a importância da oferta de cursos técnicos e profissionalizante. No Grande ABC, conhecido por ser um dos polos industriais do País, a importância da educação continuada é ainda maior, pois um dos principais atrativos para as companhias instaladas nas sete cidades é a qualificação da mão de obra.

A melhora da Educação e sua continuidade são assuntos constantemente veiculados às pautas da economia brasileira. Em tempos de crise, a relevância desse assunto ganha mais destaque.

MUDANÇA - Por contas das demissões no setor automotivo, é preciso buscar novos caminhos e variedades de cursos preparatórios não faltam. Hoje, 70% do capital de trabalho da região é proveniente da indústria. O restante é gerado em comércios e serviços. Para o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, Giovanni Rocco, é preciso mudar essa distribuição. “Estamos olhando com muita atenção para o que ocorre atualmente na nossa economia regional. O mercado é carente de novas iniciativas que integram as empresas e o que é oferecido na qualificação profissional. O nosso objetivo é melhorar o diálogo entre esses atores.”

A transição da educação para o trabalho foi outro assunto discutido durante o seminário, devido à turbulência econômica e ao fechamento constante de postos de trabalho. Luís Paulo Bresciani, secretário executivo do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, destaca que, neste momento de recessão, é preciso abrir novos caminhos. “É necessário desmistificar que os cursos técnicos e profissionalizantes são voltados apenas para as montadoras. Existem diversas oportunidades de formação (em outras áreas). Temos uma rede de ensino muito vasta e tenho certeza que com as discussões sobre esse tema serão ministradas aqui na região.”


Qualificação atrai multinacionais para a Itália

A região de Emília Romana, na Itália, é conhecida por ser um polo das indústrias automotiva e mecânica do País europeu. Apesar de similar ao Grande ABC, esse local implantou várias políticas públicas que resultaram em seu desenvolvimento e prosperidade.

A principal delas foi o investimento no capital humano. Tal tema foi abordado durante a palestra do secretário de coordenação de políticas europeias de desenvolvimento do governo de Emília Romana, Patrizio Bianchi, durante o seminário Educação e Trabalho: Uma Articulação Possível.

A qualificação dos habitantes foi baseada em um modelo que integra o Estado, a inovação, o território e as provisões. Esses quatro elementos unidos culminaram com a melhora econômica, conforme destaca Bianchi. “A tecnologia é necessária, porém, ela destrói empregos e, por isso, é preciso criar novos postos de trabalho. Encontrar alternativas.”

Para manter a estabilidade, o secretário conta que foi necessário realizar reformas educacionais. “Na Itália, havia uma divisão bem clara desde o século 19. Havia escolas muitos boas e outras péssimas. Para mudar esse quadro foi preciso integrar a Educação e estimular o trabalho conjunto das universidades, do sindicato e das empresas.”

Bianchi detalha que foi preciso cuidado especial com os trabalhadores que já estavam no mercado. “Foi necessário ensiná-los, implementar a escola dentro das empresas. Hoje, a economia é globalizada, mas não se pode dizer o mesmo da sociedade. É preciso envolver as corporações no início dos processos educacionais.”

O italiano alerta que cada país tem suas peculiaridades e, portanto, precisa buscar seu modelo ideal. “Lá na Europa temos a Alemanha como referência, por isso todos pedem para que se copie sua gestão. O que deu certo lá, falhou na Itália. Mas, pelo o que vi aqui, o Grande ABC tem muito potencial para achar sua fórmula ideal.”
 




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