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A frota

O prefeito de São Paulo preocupa-se com a frota de veículos da cidade...

Rodolfo de Souza
03/03/2016 | 07:00
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O prefeito de São Paulo preocupa-se com a frota de veículos da cidade, que não para de crescer. Esta que se junta a milhares de outras frotas que, de passagem, ajudam a emperrar os caminhos que, dependendo da hora, não levam a parte alguma.

A promessa é de que, um dia, trave a megalópole. Mas há o apelo consumista que impele a comprar carro. As fábricas despejam com voracidade seu produto nas ruas. E, cada vez mais sedutores, eles exibem potência no asfalto que os suporta, parados. Seus cavalos nem impressionam mais. Preguiçosos, deixaram de correr. Ora por causa de congestionamentos, ora por causa dos radares. Desperdício de HP.

Mas os publicitários fazem direitinho o seu trabalho e, assim, conseguem encher a boca do consumidor que passa a devorar o produto antes mesmo de vê-lo na loja. Culpa de quem? É preciso mão de obra para se produzir, gente para vender a imagem e o produto. É preciso, pois, admitir que um conjunto de engrenagens é movido pela produção e venda de automóvel, e a sua parada repentina provocaria um desastre econômico sem precedentes.

Tudo porque, de olho neste filão, o governante de antigamente construiu uma cidade exclusiva para o carro. Era, afinal, o ingrediente que faltava para alavancar a economia daquele pobre país, que na época só engatinhava. Era preciso engordar os cofres e estava ali a oportunidade que faria crescer a cidade e a nação.

Para tanto, andou sufocando a natureza, empurrando rios para lá e para cá, enterrando outros, destruindo o verde... Não previu que, lentamente, o veículo particular ganharia o espaço que antes pertencia às pessoas. Pensou tão somente no dinheiro e na nata da sociedade que poderia se beneficiar com a novidade.

E hoje as pessoas se atropelam em pequenas e abarrotadas calçadas. Vive também apertado no transporte público ruim e deficitário, aquele que não dispõe de recursos para adquirir o tão sonhado possante. Mas assim que puder...

Para tanto, os governos se desdobram, construindo pontes, viadutos, vias rebaixadas, alargando avenidas... Todas, obras fundamentais que, em contrapartida, não são feitas no mesmo ritmo em que se colocam novos carros nas ruas.

Mas há um ensejo cada vez maior para que a bicicleta tome em definitivo as ruas e se torne o veículo número um nos grandes centros! E cada vez mais o povo volta os olhos para este meio de transporte tão antigo, mas que nunca saiu de moda.

Entretanto, verdade seja dita, disputa, a coitadinha, as ruas com o senhor absoluto delas, que acaba vencendo a contenda numa luta desleal. É como se o carro soubesse que as vias lhe pertencem e, por direito adquirido, não abre mão delas.

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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