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Castelo encantador
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
05/08/2005 | 08:15
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Dois grandes nomes da fábula estão por trás de O Castelo Animado, animação que estréia nesta sexta em quatro salas da região. Primeiro, o do diretor japonês Hayao Miyazaki, o mesmo que proporcionou A Viagem de Chihiro (2001), grande filme na sua proposta de reacender a capacidade de fabular, numa variação bastante pessoal de Alice no País das Maravilhas. O segundo, o da escritora britânica Diana Wynne Jones, autora do livro que inspirou o longa-metragem. A mulher, que assina volumes como As Vidas de Christopher Chant e Os Magos de Caprona (publicados no Brasil pela Geração Editorial), foi aluna de J.R.R. Tolkien (autor da trilogia Senhor dos Anéis) e de C.S. Lewis (da série As Crônicas de Nárnia, cuja adaptação cinematográfica estréia em dezembro), dois bastiões da literatura fantástica. Quer mais? Diana, posteriormente, foi professora de ninguém menos que J.K. Rowling, a mente por trás de Harry Potter.

Não há como restringir-se ao filme neste momento em que o cinema parece excessivamente carente de fantasiar, numa roda de reinvencão da ficção, quando tudo já parece ter sido escrito ou filmado. Não é coincidência a quantidade tão grande de obras que apelem, e com tanta veemência, para o maravilhoso – de Harry Potter a Senhor dos Anéis, de Nárnia à troca de baterias da série Star Wars para a segunda trilogia. E nem a adesão tão incondicional de uma parcela considerável de adultos.

Foi A Viagem de Chihiro um dos responsáveis por flagrar esse contexto de ser a fantasia um efeito colateral do pessimismo da sociedade – a protagonista de Chihiro, que deixava o mundo real por uma dimensão alheia, era resultado dessa urgência de fabular.

O Castelo Animado segue direção semelhante, mas por outras alamedas. Sophie é uma adolescente que trabalha em uma chapelaria até ser encantada pela Feiticeira dos Pântanos e transformada em uma velha senhora de 90 anos. Amaldiçoada, ela consegue trabalho de faxineira no castelo do mágico Hauru. Não se trata de um palácio qualquer; a construção é capaz de andar para cima e para baixo, movida por obra de Calcifer, demônio que faz um pacto com Sophie: caso ela solucione o mistério que o mantém escravo de Hauru, Calcifer reverte o feitiço e a devolve à juventude.

Nas entrelinhas, Miyazaki reflete sobre a idade adulta como uma negação ao universo fantástico, aqui representado num tom acima do impressionismo. Dentro do castelo, Sophie redescobre a fábula quando alcança uma finitude precoce, reencontra a imaginação na base do “ou vai ou racha”. Encantador, visualmente e contextualmente.

O CASTELO ANIMADO (Hauru no Ugoku Shiro, Japão, 2004). Dir.: Hayao Miyazaki. Estréia nesta sexta no ABC Plaza 3, Shopping ABC 1, Extra Anchieta 7, Metrópole 2, Central Plaza 5 e circuito. Censura livre.




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