Setecidades Titulo
Despejo da água do Pinheiros para a Billings depende da Petrobras
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
26/03/2005 | 15:28
Compartilhar notícia


Neste domingo a Billings completa 80 anos e mais uma vez discute-se o despejo da água do rio Pinheiros na represa. Água que o governo do Estado promete tratar devidamente para que a Billings não fique ainda mais poluída do que já está. Trata-se da flotação, projeto lançado pelo então secretário estadual do Meio Ambiente Ricardo Tripoli, em 2001, como solução para a poluição do Pinheiros. Para que os testes com o novo sistema sejam feitos, são necessários R$ 12 milhões, que o governo do Estado espera conseguir junto à Petrobras.

A Petrobras foi responsável pelo financiamento da primeira parte do projeto que teve um custo de R$ 60 milhões. Agora são necessários mais R$ 12 milhões para fazer os testes do sistema de flotação, que consiste em sete estações de despoluição da água do Pinheiros. "A licença ambiental é de responsabilidade da Emae  (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), e os testes são parte desse licenciamento. O departamento jurídico estuda uma forma de resolvermos a questão", diz Ildo Sauer, da Petrobras, como justificativa para não liberar de imediato o dinheiro para os testes.

A Petrobras apresentou duas propostas à Emae. Uma prevê um acordo para o empréstimo do dinheiro. A outra, um convênio amplo entre as duas partes que envolveria várias questões, entre elas a flotação. "Este acordo seria responsável pela mudança da matriz energética da frota de ônibus de todo o Estado. Os ônibus passariam a ter motor bicombustível e a operar a maior parte do tempo com gás natural", diz o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer. O novo convênio também englobaria laboratórios e refinarias de gás natural. Ou seja, um acordo longo que adiaria ainda mais a flotação.

A Emae, por sua vez, diz que a Petrobras não se posicionou oficialmente sobre nenhuma das propostas. "Discutimos uma série de possibilidades. Entre elas, falamos sobre flotação e esse novo convênio com a Petrobras. Mas, foi tudo muito genérico", diz Antônio Bolonhese, diretor de Geração da Emae. Bolonhese espera uma nova reunião com a Petrobras para definir o futuro do sistema de flotação.

O fato é que as propostas da Petrobras só dificultam mais o processo que o governo do Estado esperava ter colocado em prática há pelo menos dois anos. Só não colocou porque o Ministério Público interveio e obrigou o governo a realizar o EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental) para comprovar que a água tratada realmente tinha boa classificação para ser jogada na represa Billings. Vitória dos ambientalistas.

A elaboração do EIA-Rima segue seu curso normal, segundo Antonio Bolonhese, da Emae. "Os testes podem ser feitos em paralelo." A inclusão dos testes no EIA-Rima foi objeto de um acordo com o Ministério Público, estabelecido em dezembro do ano passado. Para o secretário estadual de Energia, Mauro Arce, esses resultados poderão esclarecer as dúvidas sobre a flotação. "Os testes são importantes porque poderemos verificar a eficiência do sistema", diz. Resolvida a questão da verba que falta, o licenciamento ambiental ainda deve demorar entre um ano e um ano e meio.

A primeira etapa do projeto tem capacidade para tratar 10 metros cúbicos por segundo que, ao serem bombeados para a represa Billings, poderão gerar 50 MWs por hora em energia elétrica. Com a instalação total do sistema, seriam bombeados 50 metros cúbicos por segundo para a Billings, o que elevaria a capacidade da usina Henry Borden em 250 MWs/hora. Hoje, a usina, que poderia gerar 870 MWs/hora, produz apenas 100 MWs/hora em média. Desde 1992, a água poluída do Pinheiros só é bombeada para a represa em situações especiais, como, por exemplo, nas épocas de chuvas para evitar enchentes na capital.

O restante do projeto tem um custo de R$ 200 milhões e não está vinculado à Petrobras. A Emae só poderá implementar o sistema se conseguir o licenciamento ambiental, que ainda prevê a apreciação do EIA-Rima pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) e uma série de audiências públicas. "O convênio era apenas para a primeira fase do sistema. Depois que a flotação for aprovada, veremos quem serão os parceiros para a conclusão do projeto", diz Arce.

Após toda essa via-sacra, certamente o governo do Estado vai enfrentar um outro obstáculo, os ambientalistas. Eles são contra o bombeamento da água do Pinheiros à Billings por não confiarem na qualidade das águas flotadas. Os ambientalistas acreditam que a água, mesmo tratada, ainda terá metais pesados e outras substâncias que comprometerão o abastecimento à população.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;