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Marinho ignora mutirão da catarata

Prefeito se recusa a comentar sobre cirurgias no
Hospital de Clínicas que deixaram ao menos 17 cegos

Natália Fernandes
Nelson Donato
Especial para o Diário
13/02/2016 | 08:18
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Orlando Filho/DGABC


O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), recusou-se a comentar sobre o sofrimento dos moradores da cidade prejudicados em mutirão da catarata realizado no dia 30 de janeiro, no Hospital de Clínicas. Abordado pela equipe do Diário durante vistoria às obras de ampliação da sede da Comunidade São Pio de Pietrelcina, no Riacho Grande, o petista se mostrou irritado com os questionamentos acerca das cirurgias realizadas em 27 pessoas, sendo que 21 delas adquiriram infecção ocular, pelo menos 17 ficaram cegas e dez precisaram remover o globo ocular. 

“Faça-me o favor! Fale com a Odete (Gialdi, secretária de Saúde) ou com a (Secretaria de) Comunicação. Muito me admira vocês virem até uma atividade para conversar sobre isso”, disse Marinho. Passados 14 dias do procedimento cirúrgico, a Prefeitura ainda desconhece a causa da contaminação pela bactéria Pseudomonas aeruginosa. A expectativa da Secretaria da Saúde é que o resultado da sindicância aberta seja conhecido até o início de março. 

A equipe do Diário solicitou, por diversas vezes, entrevista com a secretária de Saúde para falar sobre o assunto, mas obteve apenas comunicados oficiais. Na quinta-feira, em visita à Câmara de Vereadores para dar esclarecimentos sobre o mutirão, Odete Gialdi também evitou estender respostas aos jornalistas. Pedido de CPI para apurar as falhas nas cirurgias entrou na pauta do Legislativo municipal e o tema é alvo de investigação por parte do Ministério Público.

Conforme o jornal A Tribuna de Santos, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu sindicância para investigar o caso. Além disso, todo o material utilizado nos procedimentos foi encaminhado para análise do Instituto Adolfo Lutz.

Até a conclusão do processo de investigação sobre as causas do problema, a Prefeitura suspendeu o contrato vigente com o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista desde 2013, responsável pelos procedimentos. Por telefone, o advogado recém-contratado para representar a empresa, José Luiz Macedo, informou que o foco principal é descobrir a origem da contaminação, para, posteriormente, definir responsabilidades. “Estamos cuidando de uma fatalidade. A empresa foi contratada para prestar serviços médicos e ninguém imagina que vai acontecer o pior”, diz.

O profissional destacou não ter tido tempo de analisar o contrato firmado entre a Prefeitura e o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista tampouco soube detalhes sobre quadro de funcionários e de sócios da empresa. Macedo esclareceu ainda que o instituto não mantém convênio direto para prestação de serviços oftalmológicos com outras prefeituras, além de São Bernardo. “Foram quase 1.000 cirurgias bem-sucedidas (946 procedimentos em 2015)”, afirma.

Famílias acusam unidade hospitalar de negar liberação de prontuário

Enquanto o chefe do Executivo de São Bernardo se recusa a comentar o caso, as famílias das vítimas prejudicadas pelo mutirão de catarata buscam justiça. Uma das reclamações é que o Hospital de Clínicas estaria dificultando a liberação dos prontuários médicos aos pacientes.

 “(A assistência) Está sendo a pior possível. Além de não nos darem nenhum suporte e acompanhamento médico, estão dificultando a liberação dos prontuários. No hospital, disseram que só teremos acesso caso a Odete Gialdi (secretária de Saúde) autorize”, destaca a advogada Letícia Maykoga, 35 anos, filha da paciente Genesil Maykoga, 66, que perdeu a visão após o procedimento cirúrgico.

Pelo menos 11 famílias se organizam para entrar com ação coletiva contra a Prefeitura.




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