Há quem não conheça a fama de Doll e seus Solventes - principalmente aqueles que não circulam no circuito de rock independente -, mas o líder que empresta nome ao grupo recentemente tem estendido seu leque de admiradores a uma esfera muito maior, com participações especiais nos shows da atual turnê comemorativa de 30 anos do primeiro disco da Legião Urbana. Ao lado de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, ele sobe ao palco para executar canções como 1965 (Duas Tribos), Fábrica e Mais do Mesmo. Não é o vocalista principal da trupe - função exercida por André Frateschi -, mas a energia que mostra ao subir no palco, com passos que se aproximam da dança do ventre, e a desenvoltura performer em estado puro, lhe garantiram a atenção de críticos e fãs da Legião Urbana.
Doll conheceu Villa-Lobos por intermédio de Fernando Catatau, guitarrista e líder da banda Cidadão Instigado, integrante de uma geração anterior a Doll na cena roqueira da capital do Ceará. Há três anos, Catatau chamou o músico para viver em São Paulo e ofereceu o próprio apartamento como morada por algum tempo. Numa tarde, o guitarrista da Legião Urbana foi convidado para almoçar frango com manga, como lembra Doll. Passaram a tarde ouvindo discos e trocando experiências. À noite, Dado e Doll fizeram participações em um show do Cidadão Instigado e, depois disso, os dois passaram a fazer aparições especiais e ocasionais em shows das respectivas bandas.
"Renato Russo e Legião Urbana são importantes para a minha formação. Até mesmo para a minha performance no palco", ele diz, ao citar o músico morto em 1996 ao lado de outros ícones da música, donos de estilos característicos como Michael Jackson, Elvis Presley, Jim Morrison e Iggy Pop.
Por falar do líder do Stooges, Doll ganhou a alcunha de Iggy Pop do Sertão e faz justiça à comparação pela referência musical ao padrinho do punk, ao antigo flerte com a morte no abuso de substâncias ilícitas, às letras cruas sobre experiências próprias.
Doll levou a tríade de sexo, drogas e rock-n?-roll ao pé da letra por muitos anos. Atuou como líder da banda Kohbaia entre 1997 a 2009 e com ela fez barulho na cena roqueira do Estado. Naquele 2009, nasceu o Solventes em um momento no qual ele decidiu viver apenas sob o pretexto do rock-n?-roll. As experiências passadas, e até canções do Kohbaia, estão espalhadas por Jonnata Doll e os Garotos Solventes, o primeiro disco da trupe. São canções como Namorada Fantasma (sobre uma garota viciada), Rua de Trás (lugar em Fortaleza conhecido por ser ponto de venda de drogas) e Esqueleto (a narrativa de quem vê o próprio corpo definhar). O álbum foi produzido por Yuri Kalil (integrante do Cidadão Instigado).
O ano de 2016 promete ser um novo passo para o estabelecimento do grupo. Um segundo álbum, chamado de Crocodilo, será lançado ainda no primeiro semestre com produção do sempre excelente Kassin (cuja atuação vai de Los Hermanos a Vanessa da Mata, passando por Clarice Falcão e Buchecha).
Doll também expande a sua própria arte. Flerta com o cinema (recentemente, o seu Planeta Escarlate foi exibido no Festival de Cinema de Tiradentes) e teatro (como a peça Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou, que volta ao Espaço dos Satyros em março).
Em todas as formas de arte, a performance do músico é de entrega. "Jonnata Doll não é um personagem", ele explica. Na escola, era alvo de piada. "Fazia coisas escatológicas para fazer as pessoas rirem. Achavam que eu tinha problema. E vi no rock uma chance de dizer o que eu queria", ele conta também. Em São Paulo, Doll decidiu viver no centro, perto do cinza da metrópole - só um integrante do grupo ainda mora em Fortaleza. Entre uma tragada e outra, ele elogia a vista da Praça Roosevelt. "Gosto desse caos", acrescenta, apontando os carros abaixo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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