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Fotógrafo autodidata tenta se firmar como profissional
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
10/03/2001 | 17:58
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  As fotografias feitas por Leonardo Duarte, 21 anos, sobretudo nas áreas periféricas do Grande ABC, são marcadas por uma poesia quase sempre cruel. Assim, elas revelam uma leitura social crítica e baseada na experiência, já que são mostrados aspectos da realidade que integram o cotidiano de Leonardo. “Gosto de fotografar a favela. É o que eu conheço, o lugar com o qual me identifico e é a coisa que sei fazer”, diz o fotógrafo cearense, que produz imagens com inegável valor plástico, proveniente de uma sensibilidade aguçada e intuitiva. Parte dessa produção pode ser vista em mostra virtual na Internet, no site www.fotosite.com.br (no ícone visor).

Há cerca de oito anos morando em São Bernardo, Leonardo passou boa parte desse tempo pelas ruas da cidade, vendendo balas na porta de uma montadora ou mesmo pedindo esmolas. “Sempre atrás de auxílio, para poder levar alguma coisa para casa: dinheiro, comida...”, explica ele, que também já trabalhou em uma banca de jornal e como camelô. Esse contato direto com a realidade das ruas sempre o manteve próximo ao banditismo e às drogas: “Mas nunca me interessei em me drogar ou roubar.”

Leonardo, que freqüenta o projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo desde 1995, chegou à cidade no fim de 1993. “Minha mãe se separou do meu pai, então nós viemos de Juazeiro do Norte (CE) para o Grande ABC. Viemos eu, minha mãe, dois irmãos e um sobrinho.”

No fim de 1997, o Diário publicou uma reportagem sobre uma exposição de Leonardo ocorrida em São Bernardo. Na ocasião, ele havia acabado de financiar uma máquina fotográfica simples, com o objetivo de realizar seu sonho: iniciar-se na profissão de fotógrafo e retratar a realidade cruel da periferia.

De lá para cá, ele fotografou e publicou algumas imagens em jornal, revista e livro. Também trabalhou em um laboratório fotográfico. “Em 1998, enquanto expunha em bibliotecas de São Bernardo, comecei a ter oportunidades, mas fiquei meio assustado com elas. Nunca fui acostumado a ter chances”, revela.

Apesar de um início promissor, o sonho profissional não foi efetivamente realizado até hoje. O principal motivo para essa não realização são os acontecimentos nem sempre positivos que marcaram e ainda marcam a vida do jovem fotógrafo.

No fim de 1998, em busca de um futuro melhor, Leonardo rumou para Juazeiro. “Queria arrumar emprego em um jornal de lá, mas não consegui. Mesmo assim, fotografei um pouco por aquela região.”

O jeito então foi voltar para o Grande ABC, trazendo junto Patrícia Silva Pereira, 19 anos, sua prima e, desde então, mulher. Com o início do relacionamento amoroso, Leonardo distanciou-se da fotografia. “Voltei para a casa da minha mãe e comecei a arrumar material para construir um barraco para mim e a Patrícia. Eu tinha de pensar em nós dois e não sobrava mais tempo para a fotografia. Nessa época, eu mentalizava as coisas, algumas queriam acontecer, mas eu não conseguia tirar proveito”, diz.

 “Daí, no início de 2000, a Patrícia engravidou, já no barraco que eu construí. Fiquei deprimido: pensava nas chances que havia perdido. Eu não saía do barraco e então parei mesmo com a fotografia. Não tinha dinheiro nem para comer, quanto mais para fotografar”, conta. Nesse período, Leonardo foi obrigado a vender sua pequena máquina.

Em novembro passado nasceu o filho do casal, Hernesto Gabriel, que só viveu pouco mais de 3 meses, morrendo em decorrência de toxoplasmose. Em meados de janeiro, Leonardo voltou a trabalhar com o que gosta. Hoje é assistente de um escritório de fotografia em São Paulo. “Faço diversas coisas, como carregar a bolsa de equipamentos, trocar lentes e filmes.” Continua fotografando, mas agora com uma máquina emprestada. Patrícia, sua mulher, engravidou novamente.




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