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Em nove meses, 5.000 deixam o plano de saúde
Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
03/01/2016 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


Em tempos de crise econômica, a população é obrigada a cortar o que pode para economizar e, às vezes, a redução afeta até o que é primordial: a atenção à Saúde. No Grande ABC, 5.036 pessoas deixaram de ter convênio médico entre de dezembro de 2014 e setembro de 2015, número que equivale a média de 16 cancelamentos por dia. Como consequência, o já sobrecarregado e deficiente sistema de Saúde público da região sofre com o aumento da demanda sem o suporte financeiro e de infraestrutura adequado.

Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), as sete cidades possuíam 1.466.363 beneficiários de planos de saúde em dezembro de 2014, número que caiu para 1.461.327 em setembro do ano passado. Em todo o País, meio milhão de pessoas ficaram sem o apoio da assistência médica particular no mesmo período. Em contrapartida, o DataSUS (banco de dados do Ministério da Saúde) mostra que a produção hospitalar do SUS (Sistema Único de Saúde), subiu de 107.907 internações entre janeiro e outubro de 2014 para 108.402 no mesmo período de 2015.

Em Ribeirão Pires, a Prefeitura afirmou que houve aumento da demanda em todos os equipamentos de Saúde. “O município vê com preocupação a questão. Com o aumento de atendimento, aumentam os insumos, a distribuição de medicamentos sem planejamento e fila de espera em algumas especialidades médicas”, declarou em nota. Santo André informou não possuir levantamento do impacto e as demais cidades não se pronunciaram.

O administrador de empresas Roger Galvão, 31 anos, de Diadema, perdeu o convênio médico após ser demitido em novembro. O rapaz passou por uma cirurgia no joelho em setembro e teria de fazer 45 sessões de fisioterapia, no entanto, só fez 30. “A parte básica, de recuperar movimento, eu já tinha terminado, mas a parte de fortalecimento não deu tempo. Até arrumar outro emprego, se precisar, é para o sistema público que eu irei”, disse.

A assistente de comunicação Camila Polese Alves de Jesus, 26, de São Bernardo, pagou plano médico por um ano e quatro meses, no valor de R$ 300 mensais. Demitida em dezembro de 2014, ela teve de cancelar. “Consegui manter o convênio, com a ajuda dos meus pais, por um tempo, mas como o meu pai é corretor de imóveis e a crise afetou muito a área dele, ficou difícil”, relatou.

Dois meses depois, Camila já sentiu as dificuldades do setor público. “Estava com tontura e desconfiei ser crise de labirintite. Fui na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Dayse e consegui marcar consulta com o clínico geral para o dia seguinte, porém, o médico solicitou exames de sangue, marcado para outubro”, comentou. No entanto, ela conseguiu outro emprego, que oferece assistência médica, em agosto. “O SUS não está preparado para atender a demanda. Foi mais fácil conseguir um emprego do que fazer o exame de sangue”, concluiu. 


Sem recursos e universal, SUS é alvo de crítica, diz especialista

Para a professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento, há visão negativa a respeito do sistema público de Saúde, “apesar de muitos usuários dos convênios médicos já se beneficiarem dos serviços do SUS (Sistema Único de Saúde), como Farmácia Popular, distribuição de medicamentos de alto custo, vacinação, transplantes, vigilância sanitária, e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).”

A especialista elenca o que leva a essa aversão. “Isso ocorre porque praticamente divulga-se apenas aquilo que é problemático. Em segundo lugar, porque parte das pessoas ainda não compreendeu a abrangência do SUS, que realiza desde cirurgias de alta complexidade até inúmeras ações preventivas e de atenção básica”, listou Vânia.

Na visão da professora, as dificuldades do sistema devem-se ainda à pouca compreensão sobre o princípio “Saúde como direito de todos e dever da sociedade em supri-la”, o que dificulta a alocação de recursos financeiros suficientes para a Saúde pública. O sistema, segundo ela, é visto pela maioria dos políticos e da sociedade como “sistema alternativo de atendimento para os pobres e miseráveis

CRISE - Em reunião com o ministro da Fazenda Nelson Barbosa na semana passada, governadores pediram que a cobrança aos planos de saúde por usuários que são atendidos pelo Sistema SUS seja feita pelos Estados e municípios. Isso porque atualmente a cobrança é feita pelo governo federal.

Gastos de pacientes que são clientes de planos de saúde, mas são atendidos no SUS, são passíveis de ressarcimento com pagamento dos planos ao governo.

Rede de medicina popular na região tem alta de atendimento

Na falta do convênio médico e com a dificuldade de atendimento pelo SUS, uma saída é recorrer às redes de medicina popular, como é o caso do Dr. Consulta que, no Grande ABC, possui unidades em três cidades (Santo André, São Bernardo e Diadema).

As consultas custam R$ 90, exceto com o oftalmologista (R$ 100) e com o cardiologista, neurologista, psiquiatra e geriatra (R$ 120). Para pagar, há opções de parcelamento sem juros. São quase 30 especialidades oferecidas e 330 médicos distribuídos nos dez equipamentos.

Levantamento registrado nos últimos meses mostra que a demanda aumentou consideravelmente neste período de crise financeira. Até junho, no município andreense, na unidade situada à Rua Senador Fláquer, no Centro, eram feitos 1.500 atendimentos por mês, atingindo 3.000 mensais nos meses seguintes. Em São Bernardo, no espaço que fica dentro do São Bernardo Plaza Shopping, de 3.700 pacientes atendidos passou para 5.000/mês. Em Diadema, nos consultórios instalados no shopping Praça da Moça, de 2.000 pacientes, passou para 3.000.

“Com a queda de arrecadação, há insuficiência de recursos para que o SUS amplie suas atividades. Pelo contrário, ele está sofrendo e atendendo menos pessoas de forma adequada. Nas três unidades que temos no Grande ABC, o movimento aumentou em 51% nos últimos cinco meses”, observou o vice-presidente da área médica, Marcos Fumio Koyama.

“A saúde é diferente de um bem de luxo, de coisas que podem ser postergadas. A pessoa está precisando e vai buscar alternativa. Se ela não encontra no SUS, com certeza vai vir para o Dr. Consulta, que é uma opção acessível”, considerou Koyama. Mais informações no site www.drconsulta.com.




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