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Estevam Soares é o ‘criador’ de Grafite
Anderson Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
15/04/2005 | 11:52
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Grafite recebeu quinta-feira o apoio dos principais personagens do futebol do Grande ABC. Jogadores e técnicos da região condenaram a atitude racista do argentino Desábato, do Quilmes, que acabou preso pela polícia após a partida do São Paulo pela Libertadores da América. Um dos mais indignados com o episódio foi o técnico do São Caetano, Estevam Soares, o criador de Grafite, apelido dado por ele a Edinaldo Batista Libânio, o camisa 9 do São Paulo.

“Era o técnico da Matonense, em dezembro de 2000, quando o Sodré (Gerson, seu atual auxiliar-técnico no São Caetano) trouxe um cara chamado Dina do Campo Limpo para fazer testes. Durante um treino, fui chamar a atenção dele mas não lembrei seu nome. Então, veio na minha cabeça o nome Grafite, um jogador do Independente de Limeira que atuei contra quando fui atleta. Na hora, gritei: Grafite! Ele virou na minha direção, olhou e todos riram. O apelido pegou, ele assumiu o nome e faz sucesso”, afirma Estevam.

O técnico do São Caetano faz questão de explicar que o apelido dado ao jogador nunca teve uma conotação racista, entre a cor negra e o grafite. “Jamais. Talvez o primeiro Grafite, com o qual joguei no passado, tenha recebido esse apelido por causa da cor de sua pele. Mas não tive essa intenção”, explica.

Questionado sobre o episódio de quinta-feira, Estevam não fica em cima do muro. “A prisão do argentino é um marco para o futebol mundial. Chamar um jogador de ‘negro’ e ‘macaco’ realmente acontece em campo, mas não pode ser considerado normal. As leis existem e devem ser cumpridas”, diz o técnico, que completa: “Os argentinos se acham os mais bonitos, inteligentes, os melhores. Se auto-intitulam como europeus e classificam os brasileiros como seres de terceira raça, inferiores”.

Mauá – O volante Capitão, 38 anos, defende a ação do delegado superintendente do Garra, Osvaldo Nico Gonçalves, que deu voz de prisão ao argentino Desábato por ofensas racistas ao atacante Grafite. O jogador do Grêmio Mauaense, que disputa a Série A-3 do Campeonato Paulista, considera que os argentinos deveriam ter adotado “medidas preventivas” após a primeira partida, na Argentina.

“Foi desagradável o que ocorreu e, por isso, a iniciativa policial foi acertada. Se os argentinos, depois da primeira partida, quando também ocorreu situação semelhante, tomassem providências enérgicas, o lamentável incidente do Morumbi não teria acontecido”, opina o volante.

Com cerca de duas décadas de profissionalismo, Capitão garante não ter passado por qualquer situação que denotasse preconceito. “Graças a Deus, nunca vivi uma situação tão desagradável como essa do Grafite e de outros companheiros de profissão. Episódios como o do Morumbi devem ser punidos com rigor”, argumenta Capitão.

São Bernardo – Dos 26 atletas que integram o elenco do São Bernardo FC, ao menos dez podem ser considerados negros, assim como a maioria da comissão técnica. E com exceção do meia Saulo, que disse nunca ter sofrido qualquer tipo de ofensa racial, o restante foi categórico ao afirmar que o que aconteceu com Grafite no jogo de quarta-feira é normal dentro do futebol.

“Na minha época de jogador, cansei se ser chamado de macaco. Nunca dei muita bola para isso, mas teve uma vez em que eu fui para cima do cara. Acabamos expulsos eu e ele”, afirmou o treinador Souza, que concordou com a atitude do atacante são-paulino em prestar queixa na delegacia. “Está na hora de dar um basta nisso. Provocação é uma coisa, mas ofender dessa forma... Daqui a pouco, os caras vão estar se batendo no meio do jogo”, afirmou.

Apesar de nunca ter passado pela situação, o meia Saulo acredita que denúncias como as que Grafite prestou são a única forma de impedir casos semelhantes. “Dessa vez vai ter uma melhora. O pessoal vai tomar mais cuidado antes de falar esse tipo de coisa”.

Já o atacante André recebeu o mesmo tipo de xingamento quando atuava pelas categorias de base do Vitória e foi jogar contra o Fluminense. Mas, ao invés de agredir seu oponente, como fez Grafite, André deu o troco de outra maneira. “Em seguida à ofensa, eu fiz um gol e fui na direção dele para comemorar. Foi a resposta mais inteligente que eu poderia ter dado”, falou.

(colaboraram Divanei Guazzelli e Renan Cacioli)



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