Economia Titulo Crise
Região perde três vezes mais empregos formais que em 2014

Empresas do Grande ABC fecharam 33.742 postos
com carteira assinada no ano até o mês de novembro

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
19/12/2015 | 07:14
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Celso Luiz/DGABC


O Grande ABC perdeu, neste ano até novembro, três vezes mais postos de trabalho com carteira assinada do que no mesmo período de 2014. O saldo de empregos formais (diferença entre contratações e demissões) ficou negativo em 33.742 vagas, enquanto nos primeiros 11 meses do ano passado, houve a eliminação de 10.996 postos. Com isso, o emprego na região, que já havia perdido todo o ganho obtido um ano antes – de janeiro a novembro de 2013 gerou cerca de 10 mil vagas –, tem o pior resultado dos últimos 15 anos, segundo o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, o professor Sandro Maskio.

Os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregos), do Ministério do Trabalho e Previdência Social, divulgados ontem, mostram a deterioração da atividade industrial, que tem puxado para baixo todos os outros setores nos sete municípios, segundo especialistas.

Das quase 34 mil vagas fechadas, cerca de 21 mil foram cortadas pelas fabricantes, mas houve redução também no comércio, em serviços e na construção civil. “A indústria na região é muito forte e (a crise no segmento) acaba respingando em tudo”, afirmou o gestor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), o professor Hélio Gonçalves de Souza. Ele destaca ainda que o parque industrial do Grande ABC tem peso expressivo do segmento automobilístico, o qual não vem mostrando sinais de melhora nos últimos meses.

Além do impacto gerado pela redução de trabalho em prestadoras de serviços, a retração do setor produtivo tem efeito no consumo, impactando a área comercial. Isso ocorre porque as fabricantes são, tradicionalmente, as que pagam os melhores salários. A Rais (Relação Anual de Informes Sociais) de 2014, também do Ministério do Trabalho, mostra que, na média, o rendimento dos assalariados das fábricas na região (R$ 3.749) é quase o dobro (91% maior) do que o do comércio. E, em novembro, do Caged mostraram que o setor industrial segue demitindo. Fechou 1.815 vagas formais no mês, enquanto os serviços eliminaram 44 postos e, a construção civil, 540. O saldo total no mês (-1.540) só não foi pior porque o comércio abriu 823 postos de trabalho, compensando em parte o desempenho negativo.

PERSPECTIVA - As projeções para o início de 2016 não são das melhores, segundo os especialistas. Souza cita que os gastos dos primeiros meses do ano são concentrados no pagamento de IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e mensalidade e material escolar. “Não é época para comprar carro”, diz o professor da USCS.

Outro fator que atrapalha é a crise política, que amplia as incertezas e adia decisões de investimento e contratações. “Agora (com a saída do ministro Joaquim Levy, do Ministério da Fazenda) ainda fica a expectativa de definição da política econômica”, cita Maskio.


Comércio elimina 3.046 vagas nos últimos 12 meses

Um dos segmentos que poderiam compensar em parte a forte crise vivida no setor industrial, o comércio varejista também enfrenta queda no nível de emprego formal na região. Nos últimos 12 meses até novembro, foram perdidas 3.046 vagas no segmento, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência Social.

No acumulado deste ano (durante os 11 primeiros meses de 2015), foram eliminados 2.594 empregos. Por sua vez, em novembro, o setor abriu 823 vagas, mas o movimento de contratações foi tardio, já que normalmente, segundo a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), em anos anteriores os comerciantes já começavam a admitir temporários para as vendas de fim de ano em outubro – mês em que houve o fechamento de 249 postos de trabalho neste ano.

E, de acordo com informações de subsetores, levantadas pela FecomercioSP e elaboradas com base nos dados do ministério (referentes, neste caso, aos primeiros 12 meses até outubro), de nove atividades comerciais, sete apresentaram resultado negativo: as quedas mais expressivas foram em lojas de móveis e decoração (-7,4%) e de vestuário, tecido e calçados (-5,3%). Já os que obtiveram variação positiva no período foram farmácia e perfumaria (0,1%) e supermercados (2,9%), atividades ligadas à comercialização de itens essenciais para a população (alimentos e remédios).

Em relação aos números totais de emprego no varejo, a expectativa para os próximos meses também não é positiva, explica o gestor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Hélio Gonçalves de Souza. “Os dois primeiros meses do ano são fracos não só para a indústria, mas também para o comércio, que costuma demitir parte dos temporários admitidos no fim do ano.”


Fim de ano é boa época para tentar recolocação, diz consultoria

Apesar de a região registrar saldo de emprego negativo, ou seja, ter mais demissões do que contratações neste ano, quem procura oportunidade não deve desanimar por causa da proximidade das festas de fim de ano; pelo contrário, essa é uma boa hora para gastar a sola do sapato atrás de recolocação, apontam especialistas.

A consultora Mônica Roncolato, da empresa de recursos humanos Luandre, assinala que a procura cai muito em dezembro, o que significa menos concorrência para os interessados em se empregar. Ela exemplifica: no dia 18 de novembro, passaram pelo escritório de Santo André em busca de emprego 200 pessoas. Ontem, foram apenas 30, e havia 16 vagas abertas, de empresas de diversos setores, na unidade da região. Nas 11 filiais da companhia, são 1.327 postos, de áreas diversas, desde atendimento comercial, contabilidade, telemarketing, finanças, logística, administração e Saúde. A escolaridade exigida vai do Ensino Médio, Técnico até o nível Superior. “Na semana do dia 28, cai mais ainda o fluxo de pessoas, mas as oportunidades não param”, diz.

Além da crença errônea de que não há chances de colocação no fim do ano, muita gente desiste de procurar pensando nas festas. “Algumas vagas são por turno ou por escala, e tem gente que pensa que isso pode atrapalhar as comemorações. Então aqueles que não desistem levam vantagem, porque participam de mais processos seletivos”, acrescenta Mônica.




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