Política Titulo Histórico
Trinta anos do fim do 8º município

Jogada política de Brandão a favor de Capuava, em 1985, enterrou ação para emancipar Utinga

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
28/11/2015 | 07:31
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Arquivo/DGABC


Há exatos 30 anos – 28 de novembro de 1985 –, a comissão de assuntos municipais da Assembleia Legislativa aprovava a criação do distrito de Capuava, solicitada pelo então prefeito Newton Brandão, a partir de abaixo-assinado encaminhado por moradores da área. O ato da comissão abria espaço para que, em plenário, a Assembleia aprovasse a medida, fato ocorrido em 19 de dezembro do mesmo ano de 1985. Nascia, oficialmente, o distrito de Capuava.

Com a medida, dividia-se o chamado 2º Subdistrito de Utinga, extensa faixa localizada entre São Caetano, São Paulo (Zona Leste) e Mauá, além do leito do Ribeirão Tamanduateí – os autonomistas defendiam que o novo município deveria abranger o espaço entre os trilhos da EFSJ e o rio, já que nesta faixa estavam as principais indústrias.

Oficialmente, a medida atendia a reivindicação de 1.971 moradores dos Parques Jaçatuba, Erasmo Assunção, João Ramalho e Novo Oratório, entre outros loteamentos menores. Duas vantagens eram divulgadas então: dar maior identificação à área e criar cartório de paz próprio, previsto para ser instalado já no ano seguinte, em 1986.

Na verdade, a criação do distrito de Capuava sepultava de vez a tentativa de separação de todo o 2º Subdistrito do restante de Santo André. Um plebiscito a respeito chegou a ser realizado em 1958, quando a população local votou contra a criação do município, que receberia o nome de Utinga.

O movimento emancipacionista manteve-se. E, em 1985, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) chegou a marcar outro plebiscito, que seria realizado no domingo, 17 de novembro, e que foi proibido, pelo mesmo TSE, três dias antes, frustrando as lideranças autonomistas.

Até que o plebiscito fosse cancelado, realizou-se série de comícios nos bairros do 2º Subdistrito, contra e favor da emancipação de Utinga. O prefeito Newton Brandão participou ativamente da campanha, enquanto – nos bastidores – atuava para a criação do distrito de Capuava, dividindo, geograficamente, toda a área.

O novo distrito nasce com a seguinte demarcação: começava na Rua Antonio Cardoso a partir da Avenida dos Estados e seguia até a Rua Lituânia; seguia pelas vias Costa Rica, Betânia e Avenida das Nações, até a divisa com São Paulo, seguindo pelo Ribeirão Oratório até a divisa com Mauá. Dali seguia pela Avenida Presidente Artur Costa e Silva e Avenida dos Estados até encontrar novamente a Antonio Cardoso.

EMANCIPAÇÕES
O primeiro movimento do gênero no Grande ABC ocorreu no início do século 19, quando da criação da Freguesia e Paróquia de São Bernardo, abrangendo toda a região. Até o fim do século 19 todo o espaço regional pertencia à Capital. É quando se dá novo movimento, de elevação da freguesia a município autônomo, separando toda a região de São Bernardo, fato ocorrido em 1889, com instalação do novo município em 1890.

Em 1939, o então município de São Bernardo tem sua sede transferida da Vila de São Bernardo para Santo André, com a alteração do nome para município de Santo André. Em 1944, ocorre a separação de São Bernardo, agora com o complemento “do Campo” no nome, abrangendo os distritos de Diadema e Riacho Grande. O município de Santo André passa a abranger os distritos sede, mais São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Novos movimentos foram feitos nos anos seguintes, completando-se a criação dos atuais sete municípios. Algumas articulações fracassaram, como os da criação dos municípios de Utinga, Rudge Ramos e Riacho Grande.

Houve plebiscito para anexação de Paranapiacaba a Ribeirão Pires, sem êxito. E, com êxito, a anexação de Vila Prosperidade a São Caetano – anteriormente, a Vila Prosperidade fazia parte do 2º Subdistrito de Santo André.

O CASO DE UTINGA
Em 1944, toda a área de Utinga foi elevada a 3º Subdistrito de Santo André (decreto 14.334, de 30 de novembro): a 1ª zona distrital correspondia ao Centro de Santo André e aos bairros urbanos “do lado de cá do Tamanduateí”. Já o 2º Subdistrito correspondia ao território de São Caetano.

Com tal medida, Utinga ganhou o seu cartório de registro civil das pessoas naturais, instalado em 1944 mesmo, com sede no bairro Santa Terezinha, onde permanece.

Em 1948, com a elevação de São Caetano a município autônomo, Utinga passa a 2º Subdistrito (lei 233, de 24 de dezembro de 1948). E, em 1985, o 2º Subdistrito é dividido em dois, a criação do distrito de Capuava pela Assembleia Legislativa.

DEPOIMENTOS
Em 1984, fervia o movimento autonomista de Utinga e os vereadores de Santo André, na sua maioria, eram contrários à separação.

Ainda vereador, José de Araújo (PSD) não poupou críticas ao movimento à ocasião. “Sou contra a emancipação. Tenho orgulho de morar em Santo André, que é uma das maiores cidades do Estado. Com a separação, o Estado perderia um grande município e ganharia duas cidades de porte médio. Além do mais, Utinga, tornando-se município independente, iria ter problemas muito grandes no início, pois todos os órgãos públicos, federais e estaduais, estão hoje (1984) no 1º Subdistrito e até chegar o dia que Utinga conseguir tudo isso a população iria ter problemas muito graves”.

Atual secretário de Finanças da Prefeitura de Santo André, o então vereador Antônio Carlos Granado (PT) foi outro a atacar a ideia. “Não sou bairrista emancipacionista e acho que a saída não é a separação. Mas está claro que o 2º Subdistrito sempre tem dado na ausência de equipamentos. O 1º Subdistrito também é carente. Agora, eu acho que historicamente o 2º Subdistrito sempre foi mais. Acho que é preciso começar a pensar em formas de integração, de escoamento do 1º e 2º Subdistritos, promovendo uma integração muito maior entre os dois”.

Dizia-se, há 30 anos, que a estrada de ferro funcionava como barreira entre os dois espaços. Não havia, por exemplo, uma única linha de ônibus municipal que cruzasse a estrada de ferro. Esta só era cruzada por linhas intermunicipais.

As primeiras linhas municipais de ônibus a cruzar a barreira da estrada de ferro passaram a funcionar apenas na primeira gestão do prefeito Celso Daniel (1989-1992).

Promessa de melhorias no bairro ficaram apenas no passado

Caio dos Reis<br>Especial para o Diário

Depois de 30 anos, encontrar morador no distrito de Capuava não é tarefa fácil. O local está tomado por galpões e empresas, que dividem espaço com alguns poucos remanescentes. Os raros munícipes do bairro reclamam das condições de vida e dizem que praticamente nada mudou desde que o local se tornou distrito, com esperança de dias melhores.

A instalação de cartório de paz, por exemplo, que estava previsto para 1986, nunca saiu do papel. Morador do bairro há 40 anos, o mecânico José Luiz Corrêa Neto, 53, disse que “nunca” ouviu falar em cartório no distrito. Neto mora com a mulher e trabalha no próprio distrito. Segundo ele, algumas mudanças aconteceram, poucas boas e muitas ruins. “Quando eu vim para cá, tinha muita poluição. Existiam algumas fábricas de fertilizante, e quando você olhava, os telhados estavam todos brancos, parecia neve. Hoje não tem mais isso, então nesse ponto melhorou. Por outro lado, tinham mais comércios, como açougues, farmácias e mercados. Hoje não tem mais nada disso.”

O preparador de máquinas Eduardo Ferreira da Silva, 52, vive no local há oito anos. Sua mulher, a dona de casa Roseli Venciguerra da Silva, 52, é moradora do distrito de Capuava há 45 anos. Os dois reclamam da grande presença de empresas nas ruas e falta de Segurança. “Muitos moradores têm ido embora pelas condições daqui. Então elas acabam vendendo as casas e tudo vira galpão. São caminhões gigantes parando dos dois lados da rua, quebrando calçadas e levantando muita sujeira. Faltam policiamentos, asfalto e a gente sofre até com um preconceito de empresas que não vêm até o local para fazer manutenção”, lamentou Eduardo.

Mais antiga no bairro do que o marido, Roseli reclamou de outro problema: as enchentes. “Ainda bem que a chuva deu uma diminuída nos últimos anos. Antigamente, a água chegava a mais de dois metros de altura. Faltam melhorias aqui, hoje estamos esquecidos. Falta asfalto e a polícia só vem se acontece algum problema, não existe uma ronda”, pontuou.

Nascida no bairro, a dona de casa Angélica Marchiori da Silva, 30, reclamou da falta de condições para as crianças. “Pelo que eu lembro, as mudanças foram para pior. Aqui não tem nada. As ruas estão sem asfalto, faltam policiamento e Segurança, há muita poluição. É um lugar esquecido”, concluiu. 




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