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Nicolau cobrava verbas do Planalto desde o governo Collor
Do Diário do Grande ABC
22/07/2000 | 15:44
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Os telefonemas do ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Sao Paulo Nicolau dos Santos Neto para a Secretaria-Geral da Presidência da República tiveram início em fevereiro de 1992, durante o governo de Fernando Collor. Entre 1992 e 1994, antes da nomeaçao de Eduardo Jorge Caldas Pereira assumir o cargo no Planalto, Nicolau telefonou 20 vezes para a secretaria-geral.

Neste período, a funçao foi exercida por Marcos Coimbra (governo Collor) e Mauro Durante (governo Itamar Franco). A documentaçao sobre a quebra de sigilo do juiz, mostra que todos os secretários-gerais de três governos consecutivos conversaram com Nicolau.

Os extratos das chamadas fornecidas pela companhia telefônica, a pedido da Justiça, mostram que as ligaçoes feitas por Nicolau desde 1992 foram dadas para o número da Secretaria-Geral. Neste extrato, o número é identificado como sendo de "Eduardo", uma referência a Eduardo Jorge.

O erro nos extratos pode ter sido cometido a partir do pedido de quebra de sigilo feito à Justiça, que apresenta os números de telefones da pessoa sem esclarecer o período em que ocupou o cargo.

Dos 20 telefonemas que Nicolau fez para a secretaria-geral da Presidência entre 1992 e 1994, um foi feito no governo de Collor e 19 no governo de Itamar Franco.

Com uma rápida consulta à Presidência da República, foi possível constatar que os números aos quais os extratos fazem referência eram na época do gabinete da Secretaria-Geral e nao da casa de Eduardo Jorge. Um destes números pertence hoje a uma associaçao de auto-escolas e outro a um consultório médico, que também confirmam a procedência das linhas.

Em 1992, Eduardo Jorge era funcionário do Senado e assessorava o entao senador Fernando Henrique Cardoso, que era líder do PSDB na Casa. A partir de outubro do mesmo ano, Fernando Henrique foi nomeado ministro das Relaçoes Exteriores de Itamar Franco. Depois disso, o atual presidente foi transferido para o Ministério da Fazenda, sempre tendo Eduardo Jorge entre seus auxiliares.

Nao há na listagem da quebra de sigilo nenhum número pessoal de Eduardo Jorge nem de Fernando Henrique.

A documentaçao levantada pode mudar o rumo das investigaçoes, pois Eduardo Jorge vinha sendo apontado como uma das pessoas que ajudaram a armar um esquema de desvio de verbas do Fórum Trabalhista.

Com base na própria quebra de sigilo, é possível concluir que os contatos começaram antes de Eduardo Jorge assumir o cargo e vários telefonemas sao atribuídos indevidamente a ele.

Se houve algum "esquema" entre a Presidência da República e o juiz Nicolau, pode ter começado antes, no início da obra do Fórum Trabalhista de Sao Paulo, em 1992. A quebra de sigilo só começa no fim do governo Collor.

Desde o início da obra do Fórum Trabalhista, as auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas da Uniao (TCU) vinham constatando irregularidades. O engenheiro Roberto Cláudio Jorge Moreira Rivera, 47 anos, que na época trabalhava para o Grupo OK, afirmou ter presenciado o senador cassado Luiz Estevao conversando pelo telefone com o entao presidente Fernando Collor em 1992.

As conversas de Estevao com Collor, segundo a testemunha, ocorreram na obra da multinacional Basf, em Sao Paulo. Rivera disse que Estevao pediu local reservado, com telefone sem extensao, para conversar com Collor. "Eu levei ele (Estevao) até a sala e lá ele pediu para o pessoal sair", lembrou Rivera. "A gente fechou até as janelas da sala."

Rivera assegurou ainda que, mais tarde, confirmou que a conversa realmente foi mantida com o ex-presidente Collor. "A gente soube que ele ligou para o Collor porque veio na conta o número de Brasília." Em outra ocasiao, segundo Rivera, Estevao recebeu telefonema de Collor em seu celular, também na obra da Basf.

Rivera, acredita que Fernando Collor tenha sido o homem responsável pela "abertura" do mercado de construçao civil para o Grupo OK de Estevao em Sao Paulo. Rivera é uma das testemunhas que vai prestar depoimento ao Ministério Público de Sao Paulo, sobre a real participaçao do Grupo OK na obra do TRT paulista.




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