As recentes declarações do senador e ex-atacante Romário sobre Seleção Brasileira, Dunga e Gilmar Rinaldi ilustram muito o que o torcedor tupiniquim sente quando divulgada uma lista de convocação, seja para um simples amistoso ou para a mais complexa competição. O Baixinho afirmou com todas as letras que há jogo de interesse de empresários por trás de alguns atletas chamados para vestir a camisa verde e amarela e recebeu como respostas uma ameaça de processo por parte do atual treinador do selecionado nacional e um desafio de abrir suas contas bancárias a pedido do coordenador da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Parece até coisa de criança: ao invés de comprovarem as próprias inocências, Dunga e Rinaldi preferiram contra-atacar Romário apontando-lhe o dedo. “Mãe, olha ele!”

É verdade que hoje em dia é difícil enxergar mocinho e bandido em mundos tão obscuros como os do futebol e da política. Creio ser melhor se, ao invés de perderem tempo com ataques e insinuações, as partes se unissem em prol de fortalecer a estrutura que após o fatídico 7 a 1 da Alemanha nem parece ser mais aquela que foi cinco vezes campeã do mundo. Obviamente é necessário cobrar transparência, critério e clareza nas duas áreas. Mas o tempo está passando e são poucos os que surgem com propostas, ideias e novidades para uma possível solução. Resultado: a situação é crítica e não se vê tão claramente uma luz no fim do túnel.

Por outro lado, em recentes conversas com os técnicos do São Bernardo, Wilson Júnior, e do sub-20 do Santo André, Júnior Paulista, pude perceber que há ao menos uma tentativa de alguns para reversão do quadro atual. Ambos recentemente se formaram no curso de treinadores da CBF e cobram qualificação aos comandantes para, a partir daí, conceituar, estruturar e reorganizar a forma de funcionamento do futebol brasileiro. Mas reiteram que é necessário manter a essência verde e amarela que sempre fez a diferença.

Mas voltando ao assunto Seleção Brasileira, não sei se tenho o direito de questionar um ou outro nome (por isso, vou me abster de citá-los direta e individualmente), mas causa certo desconforto ver alguns atletas entre os 23 chamados. Acho importante salientar que, mesmo que haja interferência na convocação, este não é o único problema que aflige o momento turbulento do futebol nacional. Vejo, por exemplo, uma safra um tanto quanto prejudicada por categorias de base mal administradas e, estas sim, com ações diretas de empresários que utilizam de influência para que muitas vezes sejam priorizados garotos que têm melhores condições financeiras do que técnicas. Sem contar diretorias arcaicas que não honram compromissos, aproveitadores, falta de estrutura. Enfim, o buraco é mais embaixo.